Por mais que pareça injusto medir o legado de Ronaldo Nazário apenas pelas polêmicas fora dos gramados, é inevitável admitir: o ex-camisa 9 da Seleção, ídolo mundial do futebol, tem se revelado um empresário controverso, que coleciona atritos e frustrações no mesmo ritmo em que colecionava gols.
A crise no Real Valladolid, clube espanhol que ele comprou em 2018 por meio de uma SAF, é a evidência mais recente — e talvez mais ruidosa — dessa guinada desconfortável. O time sofreu o terceiro rebaixamento em sete anos, com torcedores clamando por sua saída, grupos organizados pedindo que Ronaldo seja declarado persona non grata na cidade, e até protestos simbólicos com notas falsas de euro estampando o seu rosto. Há quem diga que ele não pisou no estádio durante toda a temporada. A acusação mais recorrente? Distância, desinteresse e um “desastre esportivo e social”.
Como se não bastasse, a torcida do Cruzeiro, outro clube que Ronaldo assumiu por meio de uma SAF, também não guarda boas lembranças. Em Belo Horizonte, ele prometeu transformar o clube em potência, mas entregou a gestão nas mãos de Pedrinho BH e saiu pela porta dos fundos. Não deixou saudade.
A derrocada administrativa contrasta com o Ronaldo boleiro. Aquele da Copa de 2002, dos dribles impossíveis, dos gols inesquecíveis. Um ícone incontestável em campo. Mas fora dele, especialmente no universo empresarial do futebol, o Fenômeno parece subestimar a política, a cultura local e, principalmente, o torcedor — que não é cliente, é parte viva do clube.
O episódio envolvendo sua tentativa de candidatura à presidência da CBF também revela ingenuidade (ou oportunismo). Qualquer analista minimamente atento sabe que o colégio eleitoral da CBF é blindado, fechado, movido por interesses e acordos subterrâneos. Ronaldo, que não é ingênuo, deve ter se lançado sabendo disso. Uma jogada de marketing, talvez? Se foi, não colou.
O que assusta, no entanto, é a velocidade com que Ronaldo vem corroendo sua imagem pública. Não apenas como gestor frustrado, mas como figura que, hoje, desperta ódio entre torcedores que um dia o admiraram. Ser rejeitado por duas torcidas e quase banido de uma cidade inteira não é pouca coisa.
Ronaldo foi um fenômeno dentro de campo. Fora dele, vem sendo o contrário disso. Um fenômeno às avessas.