Na sexta-feira, depois do 5 a 0 sobre a Coreia do Sul, teve brasileiro acreditando – pasme – que o caminho do hexa estava de volta. Não havia motivo para tanto otimismo. O adversário era fraco, o jogo foi um treino de luxo, e qualquer análise séria precisava levar isso em conta.
Mas bastou chegar a terça-feira e o humor da torcida mudou completamente. O Brasil perdeu por 3 a 2 para o Japão, e o entusiasmo virou desconfiança. Também não havia motivo para isso. A derrota foi normal – e talvez até necessária.
O técnico Carlo Ancelotti resolveu experimentar – e exagerou. Fez oito mudanças em relação ao time titular, algo que seria impensável em qualquer equipe do mundo. Foi praticamente colocar onze jogadores em campo e apresentá-los uns aos outros antes do apito inicial.
O resultado? Desorganização, falta de entrosamento e erros grosseiros. Fabrício Bruno viveu uma noite infeliz. Hugo Souza, no terceiro gol, entregou a rapadura. O placar poderia ter sido outro, claro. Mas se o Brasil tivesse vencido, talvez ficasse a ilusão de que estava tudo bem. E não está.
A derrota mostrou o que a goleada escondeu: a seleção não é um laboratório, e o técnico precisa decidir quem realmente tem nível para vestir essa camisa.
A verdade é que Ancelotti já tem uma base, já sabe o que funciona – e precisa parar de insistir em quem não tem nível. Jogadores esforçados, bons de clube, mas sem estofo de seleção. Alguns nomes ajudam a entender o problema: Hugo Souza, Beraldo, Fabrício Bruno, Carlos Augusto, Joelinton, Richarlison, Vitinho, Paulo Henrique, Caio Henrique, João Gomes, Igor Jesus.
Escolhi aleatoriamente alguns jogadores que até são bons, mas nunca foram craques. Nenhum deles, convenhamos, passaria sequer pela porta da Granja Comary nos tempos de Ronaldo, Rivaldo, Cafu e Roberto Carlos – só pra citar a última geração vencedora.
A derrota para o Japão foi, paradoxalmente, mais importante do que a vitória sobre a Coreia. Porque derrota ensina; vitória disfarça. Que sirva de lição para Ancelotti: já passou da hora de experimentos.
E, por incrível que pareça, se ainda existe um fiapo de esperança, ele tem nome e endereço: Neymar. O próprio Ancelotti já disse – e com razão – que, se estiver 100%, Neymar é titular em qualquer time do mundo.
Mas aí já é outra história.