O Flamengo venceu o Racing por 1 a 0 no Maracanã, pela semifinal da Libertadores, e deu um passo importante rumo a Lima. Mas foi uma vitória sofrida, angustiante, conquistada no limite – e, para muitos, até um pouco enganosa. O time rubro-negro saiu de campo comemorando, claro, mas também com aquela sensação incômoda de que podia – e devia – ter feito mais.
O Racing, tecnicamente e financeiramente muito inferior, veio ao Rio apenas com um objetivo: dificultar. E conseguiu. O time argentino passou o jogo quase inteiro fechado, especulando contra-ataques e tentando sobreviver. Criou pouco, quase nada. Mesmo assim, o Flamengo penou para furar o bloqueio, teve um gol anulado e só conseguiu marcar no fim, num chute desviado de Carrascal – uma bola que entrou chorando, com a ajuda do destino.
Como sempre acontece, a emoção tomou conta da arquibancada e das redes sociais. O colombiano Carrascal virou, em minutos, “a melhor contratação do Flamengo em 2025”. Melhor que Samuel Lino, melhor que Saúl, melhor até que Emerson Royal – todos eles importados da Europa para reforçar um elenco que já é milionário. Carrascal, de 27 anos, fez uma boa partida, é verdade. Mas o gol no final virou combustível para o exagero típico do torcedor. E o torcedor do Flamengo, mais do que nenhum outro, é movido a extremos.
O respeito em excesso virou medo
Talvez o maior pecado do Flamengo tenha sido o respeito. O time pareceu jogar com freio de mão puxado, respeitando demais um adversário que merecia ser atropelado. O placar de 1 a 0 é pequeno, quase perigoso, diante da tradição argentina. Na volta, em Avellaneda, qualquer vacilo pode custar caro. Uma derrota simples leva a decisão para os pênaltis – e, como se sabe, Libertadores e loteria são quase sinônimos.
Durante a semana, a imprensa argentina fez questão de provocar. “Melhor enfrentar o Flamengo do que o Palmeiras”, diziam os programas esportivos de Buenos Aires. “O Palmeiras joga futebol; o Flamengo, passeia em campo.” A frase viralizou, e, de certa forma, os argentinos jogaram de acordo com esse diagnóstico: vieram para segurar o “time que passeia”. E saíram satisfeitos – afinal, perder por um gol no Maracanã, jogando tão pouco, é quase um bom resultado.
No pós-jogo, o técnico do Racing, Gustavo Costas, soltou uma daquelas frases que inflamam o vestiário e viram munição para o rival. Disse: “Vamos para Lima.” A frase, que à primeira vista soou como “vamos pra cima”, na verdade foi um recado confiante: eles acreditam que vão eliminar o Flamengo e chegar à final no Peru. Estão cheios de marra – e, com a camisa argentina, essa marra costuma virar motivação.
O Flamengo saiu do Maracanã com a vantagem, mas também com um aviso. A Libertadores não perdoa quem subestima a mística argentina. E respeitar demais o adversário é o primeiro passo para cair em campo. A vitória foi sofrida, o gol foi achado, e a classificação ainda está longe de ser certa.