A novela da Liga do Futebol Brasileiro (Libra) ganhou mais um capítulo — e, como sempre, com o Flamengo no centro da confusão. O clube, que se sente subvalorizado na divisão das cotas de TV, decidiu não romper com a entidade, mas também não vai ceder um milímetro na briga por mais dinheiro.
O presidente Luiz Eduardo Baptista, o Bap, foi categórico: “Zero chance de desfiliação. Vamos conviver com esse contrato até 2029 — e eles vão conviver com o Flamengo também até essa data”. Traduzindo: o clube continua na mesa, mas em clima de guerra fria.
A liga que nasceu dividida
A Libra foi criada com a promessa de unir os clubes e formar uma liga independente da CBF. Mas o que era para ser uma revolução virou um campo minado de interesses. Houve um racha logo de saída, com o surgimento do grupo Forte Futebol, que reúne os dissidentes. Hoje, ambos coexistem apenas porque têm um objetivo comum e imediato: negociar as cotas de TV.
É justamente aí que o caldeirão ferveu. O Flamengo, por ser o clube de maior torcida e maior audiência do país, quer participar da divisão com fatia maior — algo que os outros consideram inaceitável. O impasse levou o clube à Justiça, onde conseguiu bloquear R$ 77 milhões da verba a ser repassada aos demais.
Leila contra Bap
A tensão chegou ao limite quando a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, comparou o Flamengo a “terraplanistas”. Bap não respondeu diretamente, mas ironizou o empréstimo de R$ 80 milhões que a Crefisa, empresa de Leila, fez ao Vasco — um clube em recuperação judicial. Um lance de provocação ao estilo do futebol carioca.
O ponto central: o dinheiro
O cerne da disputa é o critério de divisão da receita das transmissões:
• 40% igualitário (mesmo valor para todos);
• 30% por performance (de acordo com a posição no campeonato);
• 30% por audiência, justamente o ponto que o Flamengo contesta.
O clube afirma que o modelo de cálculo da audiência é “incompleto” e que precisa de aprovação unânime, algo que até agora não aconteceu. A Libra segue aplicando o método original, aprovado ainda na gestão Rodolfo Landim, antecessor de Bap.
Entre a vaidade e a lógica
O Flamengo tem razão quando diz que o mercado publicitário e de audiência o coloca em outro patamar. Mas também é verdade que a liga só fará sentido se for capaz de equilibrar interesses — e não de transformar a disputa em um Fla-Flu financeiro.
No fim das contas, o que se vê é o de sempre: um projeto coletivo refém das vaidades individuais. O Flamengo não rompeu, mas também não se enquadrou. E, ao que tudo indica, a Libra vai ter que conviver até 2029 com esse sócio incômodo — e indispensável.