O calendário do futebol brasileiro sempre foi um dos temas mais espinhosos do nosso esporte. Ano após ano, a ladainha se repete: jogos em excesso para os grandes clubes, jogos de menos para a imensa maioria das equipes do país. Todos reclamam, todos apontam soluções, mas quando chega a hora da votação, dirigentes e federações aprovam o mesmo modelo de sempre.
Agora, de repente, um presidente neófito na CBF resolveu colocar o dedo na ferida. Samir Xaud, recém-chegado ao comando, ousou promover uma mudança drástica e, pela primeira vez em décadas, a confederação não apenas discutiu o problema, mas decidiu enfrentá-lo de frente. Naturalmente, vieram críticas de dirigentes e da imprensa. É normal. Mas se estava certo ou errado, só o tempo dirá. O que não dava era seguir na mesmice — e nisso, a CBF acertou.
Entre as novidades, algumas mexem diretamente com a estrutura do futebol brasileiro:
• Campeonato Brasileiro começando em janeiro, o que encurta ainda mais a pré-temporada, mas abre espaço para encaixar datas sem apertar tanto os clubes.
• Estaduais reduzidos de 16 para 11 datas, uma medida que atinge em cheio o Paulistão, único torneio regional ainda altamente rentável.
• Restrições para clubes que disputam Libertadores e Sul-Americana, que ficam fora dos estaduais. Um baque para torneios como a Copa do Nordeste, mas que ajuda a evitar o desgaste dos times de elite.
• Copa do Brasil ampliada, com mais vagas para clubes de todo o país e uma final em jogo único, modelo pensado para potencializar receitas de transmissão, patrocínios e hospitalidade.
No balanço geral, a lógica é clara: aliviar a carga dos times da Série A e dar mais calendário aos demais. O Brasil tem 882 clubes, mas só 124 disputam divisões nacionais. A CBF projeta abrir 82 novas vagas entre Copa do Brasil e Séries C e D, aumentando o número de equipes com atividade regular e, sobretudo, com acesso a recursos financeiros.
É claro que há perdas no caminho. O futebol paulista, que sempre dominou a agenda e os interesses da CBF, sai enfraquecido. A Copa do Nordeste perde algum brilho. Mas era hora de parar de sacrificar o calendário nacional em nome de privilégios regionais.
No fundo, a decisão é histórica. Pela primeira vez, a CBF ousou mudar o que parecia intocável. Se vai dar certo ou não, só veremos em 2026. Mas, diante de tantas décadas de omissão, o simples ato de mudar já é uma vitória.