O Brasil levou uma verdadeira lição do Japão. Abriu 2 a 0 e, ainda assim, conseguiu perder por 3 a 2 — algo que não é normal nem em amistoso. Depois de um primeiro tempo razoável, em que os gols saíram na base da individualidade, a Seleção se desmanchou completamente na etapa final. O técnico Carlo Ancelotti, acostumado à serenidade e ao inseparável chiclete, parecia outro homem à beira do campo: sério, carrancudo, visivelmente preocupado. Em certo momento, jogou o chiclete fora — e junto com ele foi-se o sossego do novo comandante do Brasil.
O próprio Ancelotti criou o cenário da turbulência. Depois da boa atuação na sexta-feira, diante da Coreia do Sul, o treinador resolveu fazer testes e mudou oito jogadores na escalação. O resultado foi um time completamente sem entrosamento, um grupo que parecia ter se conhecido minutos antes de entrar em campo. Era o típico amistoso de observação, sim — mas o experimento custou caro.
E o adversário não era qualquer um. O Japão vai disputar sua nona Copa do Mundo consecutiva e, nas duas últimas edições, foi eliminado nas oitavas exatamente pelas seleções que eliminaram o Brasil nas quartas: Bélgica, em 2018, e Croácia, em 2022. Coincidência que mostra o nível de competitividade dos japoneses, que vêm jogando com seriedade, disciplina e um futebol coletivo que o Brasil ainda não encontrou. Perdemos pela primeira vez na história para os japoneses.
Entre os observados por Ancelotti, Fabrício Bruno foi o que mais se complicou. Entregou uma bola absurda na saída de jogo, que originou o primeiro gol do Japão, e depois marcou contra, num lance bisonho dentro da pequena área. Em um setor onde o Brasil tem zagueiros de elite disputando posição, é difícil imaginar que o defensor do Cruzeiro volte a ser chamado.
Outra decepção foi o goleiro Hugo, uma das apostas pessoais de Ancelotti. Saiu mal do gol no lance decisivo, hesitou em bolas simples e transmitiu insegurança. Era uma oportunidade de ouro para se firmar; virou, ao contrário, um alerta.
No meio-campo, Lucas Paquetá voltou a decepcionar. Participou da jogada do gol de Martinelli e só. Fora isso, ficou apagado, errando passes e demorando a se posicionar. E na frente, Luiz Henrique, tão promissor quando entra no segundo tempo, desapareceu como titular. Não criou, não arriscou, não desequilibrou.
Com o time afundando, Ancelotti tentou corrigir os rumos, mandando a campo os titulares que haviam enfrentado a Coreia do Sul. Entraram nomes experientes, o jogo melhorou em intensidade, mas a reação não veio. O Japão manteve o controle, explorou os erros brasileiros e confirmou a virada.
O placar de 3 a 2 não é, por si só, vergonhoso — amistosos servem para testar. Mas o modo como a derrota aconteceu preocupa. Perder um jogo desses depois de abrir 2 a 0 é mais do que tropeço: é lição.
O ciclo de Carlo Ancelotti à frente da Seleção Brasileira está só começando, mas já deixou uma mensagem clara: o talento individual ainda não basta. O Brasil segue carente de laterais confiáveis, de uma defesa firme e de um sistema que funcione mesmo quando as estrelas não brilham. Foi um amistoso de observação, mas também um aviso em letras garrafais.