A paranoia do governo americano com o tema da imigração — intensificada pelas políticas e declarações do presidente Donald Trump — começou a extrapolar o campo político e já interfere até no futebol. A seleção da Argentina, que faria dois amistosos nos Estados Unidos nesta Data FIFA, teve de alterar sua programação às pressas por questões de segurança nacional.
O time de Lionel Messi deveria jogar em Chicago contra Porto Rico, mas a partida foi cancelada após uma escalada de tensão entre autoridades federais e governos locais. O estopim foi a ordem de prisão emitida por Trump contra o prefeito da cidade, que se recusou a cumprir um protocolo de repressão aos imigrantes ilegais. Paralelamente, líderes de gangues como os Latin Kings teriam oferecido recompensas a quem matasse agentes do ICE — o Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos EUA.
Diante do caos, o jogo em Chicago foi vetado. A Associação de Futebol Argentino (AFA) reagiu rapidamente e decidiu manter a delegação em Miami. Lá, a campeã mundial fará seus dois compromissos amistosos: contra a Venezuela, no Hard Rock Stadium, e contra Porto Rico, no Chase Stadium — o mesmo onde Messi atua pelo Inter Miami.
Mais do que um contratempo logístico, o episódio revela uma preocupação maior: a falta de controle interno e a radicalização política nos Estados Unidos começam a ameaçar a imagem de um país que, dentro de apenas um ano, será o principal anfitrião da Copa do Mundo de 2026. Se o futebol é, como se diz, um espelho da sociedade, o reflexo que vem de lá é preocupante. A “neurose americana” em torno dos imigrantes, especialmente os latinos, pode transformar o maior evento esportivo do planeta em um teste de fogo para a tolerância e a segurança pública dos EUA.