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Fala, Torcida
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A culpa é de quem?

Foi triste a eliminação logo na primeira fase? Sem dúvidas. As garotas não mereciam isso. Mas esse é o futebol

Thiago Henrique de Morais

04/08/2023 12h02

Foto: Thaís Magalhães/CBF

A precoce eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo feminina aumentou os debates sobre o investimento necessário à equipe. Algumas pessoas chegaram a zombar do fato de a equipe ter caído na primeira fase da competição logo agora que o apoio à modalidade começa a surgir, o que não passa de um amplo desconhecimento sobre o assunto – ou uma declaração misógina, mesmo. Mas alguns pontos precisam ser colocados em pauta para explicar esse fracasso.

Atualmente, não é só o Brasil que começou com os investimentos no futebol feminino. O nosso país continua muito distante do nível dos Estados Unidos e das principais seleções europeias. Por mais que já existam patrocinadores exclusivos à seleção brasileira feminina, isso ainda é muito embrionário. Há apenas quatro anos os clubes das principais divisões do Campeonato Brasileiro foram forçados – sim, essa é a palavra correta – a criarem equipes femininas. O que pode ser um erro, pois muitos só montam times visando não sofrerem punições da CBF.

Atualmente, dá para se contar nos dedos quantos clubes, de fato, levam a sério a modalidade, casos de Corinthians, Palmeiras, Ferroviária, Internacional e Flamengo. Alguns outros, como Real Brasília, até tentam fazer frente a essas equipes, mas sucumbem em função da falta de patrocinadores e investimentos pesados de seus mecenas. Por mais que existam as transmissões dos campeonatos femininos – hoje somente na TV fechada, com alguns jogos decisivos indo para os canais abertos – ainda não há um público cativo.

Na Europa, ainda que as equipes femininas não joguem nos campos principais, há um atrativo. A Champions League está consolidada. Os campeonatos nacionais também já possuem um bom investimento – aquém do masculino, é verdade –, mas que ajudam a manter a alta competitividade. E isso vêm de muitos anos, não dos últimos cinco, como vem acontecendo no Brasil. É sempre bom lembrar que, há cinco anos, sequer tínhamos equipes com categorias de base. Como crescer se não existe sequer uma formação? Inviável.

Nas edições dos Mundiais passados, assim como nas próprias Olimpíadas, o Brasil chegou às fases finais muito por contar apenas com jogadoras que atuavam fora do país. A Suécia, por exemplo, por diversos anos, foi a casa de Marta, uma das maiores atletas da história, que sempre lutou para elevar a modalidade a outro nível, mesmo sem investimento. A nossa rainha do futebol só jogou no Brasil no começo de sua carreira (no Vasco e no Santos, que já foi uma potência no futebol feminino, mas hoje não tem a mesma força).

Outro ponto a ser destacado é a média de idade da atual seleção brasileira. Das 23 convocadas para a Copa do Mundo, oito tinham acima de 30 anos, deixando a média em 27,5 anos, mesmo número de 2019. Abaixo dos 23 anos, somente oito jogadoras foram convocadas. Isso mostra um pouco da fragilidade de nossa renovação, em função da falta de categorias de base no país. Não à toa, somente cinco jogadoras que atuam no futebol brasileiro foram convocadas: Bia Zaneratto (29); Duda Sampaio (22), Luana Bertolucci (30); Tamires (35); e Bárbara (35).

Tamires (ao chão) é lateral-esquerda do Corinthians. Foto: Thaís Magalhães/CBF

E quanto à Pia Sundhage? Sim, ela tem a sua parcela de culpa. Julgada pela torcida brasileira por ser omissa à beira do gramado, a sueca não obteve bons resultados no comando do Brasil. Ao estilo Tite, ex-técnico da seleção masculina, o time sucumbiu em competições mais fortes, como os próprios Jogos de Tóquio, em 2021, como no Mundial deste ano. Errou ao colocar Marta, ainda fora da sua melhor forma física, para um jogo diante da Jamaica, assim como demorou para fazer as mudanças durante o duelo contra a França.

Mas como já pontuei durante este longo texto, ela não é a única culpada. A chegada de Pia, inclusive, foi um marco. Com ela, vieram investimentos, um olhar mais atento da mídia e o início de uma formação de base. Não são apenas quatro anos que irão mudar a situação da água para o vinho. Países como Espanha e Inglaterra demoraram para chegar ao atual patamar. Mesma coisa da Alemanha, que, assim como o Brasil, caiu na primeira fase.

O investimento no futebol feminino tem que continuar. Por mais que achemos que o nível técnico não é dos melhores, somente uma base fortalecida, atenção midiática e competições fortes serão capazes de nos fazer chegar na próxima Copa do Mundo com chances de conquistar o título.

Foi triste a eliminação logo na primeira fase? Sem dúvidas. As garotas não mereciam isso. Mas esse é o futebol. Por mais que tenhamos tido maior posse de bola contra a Jamaica, e que nosso time seja mais qualificado tecnicamente, não levamos a melhor. E parafraseando a comentarista Fernanda Gentil, hoje na Cazé TV, se fosse por investimento alto, o Brasil teria 22 estrelas no peito. E não tem.

Que continuemos a torcer.

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