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Envelhecer é uma arte
Envelhecer é uma arte

Viver 120 anos: capital financeiro — viver muito custa caro

Planejar hoje é a chave para garantir autonomia, escolhas e qualidade de vida nas décadas a mais que a longevidade promete

Juliana Gai

05/08/2025 15h23

side view old woman spending time home

Foto: Freepik

Na juventude, acreditamos que há tempo de sobra. A aposentadoria parece distante e o futuro, de alguma forma, vai se ajeitar. Mas a vida acontece. E, quando a conta chega — por volta dos 50, 60 ou 70 anos — muita gente percebe, com um susto silencioso: “vou viver mais do que planejei… e isso vai custar caro.”

Sim, viver muito custa caro. Principalmente se o objetivo for envelhecer com dignidade, conforto e saúde. Todos desejamos chegar bem à velhice, mas poucos se preparam para sustentar financeiramente esse tempo extra de vida.

Assim como existe o capital de saúde, há também o capital financeiro — o dinheiro guardado, investido ou disponível para garantir autonomia até o fim da vida. É ele que permite pagar um plano de saúde, contratar uma cuidadora, comprar medicamentos, adaptar a casa, viajar para ver os netos ou até começar um novo projeto. É o que sustenta desejos quando o corpo já não responde como antes.

O desafio é que vivemos mais do que as gerações anteriores. A expectativa de vida não para de crescer e chegar aos 90, 100 ou até 120 anos — como projetamos nesta série — é cada vez mais possível. Mas ninguém nos ensinou a planejar financeiramente para tantas décadas. Somos a primeira geração que, no último capítulo da vida, enfrentará uma redução substancial de renda.

Aprendemos a trabalhar duro, pagar contas, talvez comprar uma casa e garantir o mínimo para os filhos. Mas poucos receberam educação financeira consistente, capaz de ensinar escolhas conscientes, poupança regular, ajuste de padrão de vida e — o mais difícil — a aceitar que, às vezes, será preciso recomeçar.

E aí surge a grande questão: como manter o estilo de vida quando a renda diminui?

Muitos descobrem, ao se aposentar, que o benefício não cobre nem os custos fixos. Outros percebem que o padrão de consumo da vida ativa não se sustenta sem salário. O choque vem forte: “vou precisar mudar de vida.”

Mudar é difícil, mas não é o fim do mundo. Pode significar trocar uma casa grande e cara por um apartamento menor, mudar para uma cidade com custo de vida mais baixo, vender o carro e usar transporte público, cozinhar mais em casa, cortar supérfluos, redescobrir prazeres simples. Pode ser aprender a viver com menos — e com mais leveza.

Mais importante que manter um padrão inalcançável é preservar a liberdade de escolha. E isso depende mais de planejamento do que do valor em si. Planejar as finanças é um ato de autocuidado: fazer contas com realismo, conversar sobre dinheiro com maturidade, buscar orientação profissional e, se necessário, reinventar-se profissionalmente — mesmo depois dos 60.

Muitos criam novas carreiras ao se aposentar: dão aulas, abrem pequenas empresas, oferecem consultorias, cozinham para vender, fazem artesanato, cuidam de pets, alugam quartos, prestam serviços na vizinhança. Histórias de reinvenção não faltam — de quem perdeu cargos ou empresas e encontrou caminhos mais leves, conectados aos próprios valores e sustentáveis emocional e financeiramente.

A resiliência é chave: não se apegar a títulos ou padrões antigos, aceitar mudanças com humildade e coragem para recomeçar.

Outra chave é a comunidade. Viver sozinho custa caro. Já morar perto de amigos, dividir despesas e participar de redes de apoio reduz gastos e fortalece o pertencimento. Modelos como co-housings, repúblicas e condomínios solidários ganham espaço entre idosos que não querem viver isolados. Viver com menos pode significar viver com mais presença, afeto e vínculos.

É essencial lembrar: dinheiro é meio, não fim. Ele existe para sustentar a vida, não para nos aprisionar. Ajustar o padrão de vida quando necessário não é fracasso, mas estratégia inteligente de autonomia.

10 ideias práticas para cuidar do capital financeiro na meia-idade e aposentadoria:

  1. Faça um diagnóstico financeiro: saiba quanto entra, quanto sai e para onde vai.
  2. Busque um planejador financeiro, especialmente se for empresário ou profissional liberal.
  3. Reduza o padrão de vida, se preciso — menos pode significar mais liberdade.
  4. Explore fontes alternativas de renda — use talentos, alugue espaços, venda serviços.
  5. Evite dívidas longas e compras por impulso — substitua consumo por afeto e convivência.
  6. Tenha uma reserva de emergência — e não a utilize fora de situações críticas.
  7. Avalie mudanças de cidade ou moradia para reduzir custos e ganhar qualidade de vida.
  8. Converse com familiares sobre o futuro para evitar surpresas e conflitos.
  9. Invista em experiências, não em acúmulos.
  10. Lembre-se: planejar é importante, mas flexibilidade é indispensável.

Envelhecer com tranquilidade financeira é possível. Exige presença, consciência e disposição para se adaptar. Assim como o corpo muda, os planos também mudam. Viver bem até os 120 anos é uma construção — feita com simplicidade, sabedoria e coragem.

No fim, a verdadeira riqueza é seguir vivendo com dignidade, autonomia e liberdade para escrever novos capítulos, mesmo que sejam diferentes do que imaginamos.

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