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Educar é ação
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O impacto do coensino na aprendizagem de alunos com e sem deficiência

Estudo americano aponta que turmas com dois professores elevam o desempenho dos alunos e fortalecem práticas de ensino mais inclusivas e colaborativas

Philip Ferreira

28/10/2025 11h04

medium shot people with paperwork

Foto: Freepik

A proposta do coensino é promissora. Com dois educadores em sala, a proporção entre professores e alunos diminui, favorecendo um acompanhamento mais individualizado. Além disso, a combinação de diferentes formações e perspectivas pedagógicas tende a tornar o aprendizado mais acessível a estudantes com variados níveis de habilidade. Mas será que essa abordagem traz resultados concretos? Os alunos com deficiência aprendem mais? E como o coensino influencia o desempenho dos demais estudantes?

Um estudo realizado em Massachusetts (EUA), que analisou dez anos de resultados escolares, trouxe respostas importantes. O levantamento mostrou que, nos anos em que frequentam salas coensinadas, tanto alunos com quanto sem deficiência apresentam melhora no desempenho — especialmente em matemática. Entre os alunos com deficiência, as notas aumentam, em média, 2,6% de um desvio padrão em matemática e 1,6% em leitura. Já entre os alunos sem deficiência, há um ganho de 1,2% em matemática, embora sem mudanças relevantes na leitura. Curiosamente, os estudantes sem deficiência que nunca participaram de turmas coensinadas costumam ter notas mais altas, o que indica que o ganho ocorre dentro do próprio grupo que vivencia o coensino.

Apesar dos resultados positivos, os efeitos observados são menores do que os relatados em estudos anteriores, geralmente baseados em amostras pequenas e períodos curtos. A diferença está na abrangência: esta pesquisa acompanhou milhares de alunos ao longo de vários anos, considerando a implementação real do coensino em todo um estado, e não apenas em contextos experimentais.

Embora o coensino seja bem aceito entre os professores, sua eficácia depende de um fator essencial — que a presença de dois educadores se traduza, de fato, em melhores oportunidades de aprendizagem. Os dados, no entanto, sugerem que simplesmente colocar dois professores na mesma sala não garante um ensino de maior qualidade. Na prática, nem sempre há colaboração efetiva entre os docentes, e o ideal de trabalho conjunto muitas vezes não se concretiza. Ainda assim, mesmo em condições imperfeitas, o estudo identificou ganhos consistentes, o que abre caminho para aprimorar a metodologia a partir da aplicação mais coerente de boas práticas.

Para compreender esses efeitos, os pesquisadores analisaram dados de 2007 a 2018, envolvendo alunos do 3º ao 8º ano. O conjunto incluía informações demográficas, socioeconômicas e resultados em testes padronizados, além de registros administrativos sobre professores e suas atribuições em sala. Em Massachusetts, o coensino não é uma política obrigatória: as escolas combinam turmas tradicionais e coensinadas conforme as necessidades dos alunos e as decisões da equipe gestora.

Um dado interessante é que a maioria dos alunos não permanece continuamente em turmas coensinadas, alternando entre esse formato e salas com um único professor. Essa variação permitiu comparar o desempenho dos mesmos estudantes em diferentes contextos, medindo diretamente o impacto do coensino em suas notas.

De modo geral, os resultados indicam que frequentar uma turma coensinada melhora o desempenho em matemática e leitura dos alunos com deficiência, além de aumentar o rendimento em matemática entre os alunos sem deficiência. O efeito é mais forte no ensino fundamental II, especialmente em matemática, onde o ganho chega a 3,6% de um desvio padrão, contra 1,4% no fundamental I.

As diferenças por gênero e etnia não foram estatisticamente significativas, mas chamam atenção: meninas com deficiência tendem a se beneficiar mais em leitura (2,8%) do que meninos (0,6%), e estudantes negros com deficiência apresentam ganhos mais expressivos do que brancos (5,1% contra 0,7%). Ainda assim, o coensino mostrou efeitos positivos em todos os tipos de deficiência analisados.

Por fim, ao comparar as notas de alunos com deficiência em três contextos — turmas coensinadas, de educação especial e de ensino regular —, não se observaram diferenças significativas entre as duas últimas. Isso indica que o benefício do coensino é consistente, independentemente de o aluno estar incluído em uma turma regular ou em uma classe especial.

Em síntese, o estudo revela que o coensino, mesmo com limitações práticas, gera ganhos reais e mensuráveis para a aprendizagem, sobretudo em matemática. Embora não seja uma solução milagrosa, representa um avanço importante na construção de uma educação verdadeiramente inclusiva — aquela que enxerga a diversidade de alunos não como obstáculo, mas como oportunidade para inovar nas formas de ensinar e aprender.

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