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Educar é ação
Educar é ação

Conselhos que eu gostaria de ter recebido no começo da docência

Três aprendizados essenciais sobre flexibilidade, feedback e autonomia que transformam a sala de aula em um espaço mais humano e produtivo

Philip Ferreira

30/09/2025 15h10

math teacher writing chalkboard near table with books

Foto: Freepik

Embora já esteja no meu 15º ano na educação, ainda me lembro bem do frio na barriga dos primeiros anos. Eu costumava observar os professores mais experientes e admirar a naturalidade com que conduziam a aula e o conforto aparente dos estudantes. No início, muitos educadores passam bastante tempo tentando “acertar a mão”. Aprender a se sentir à vontade com o planejamento reverso, criar vínculos com os alunos e desenvolver projetos autênticos são prioridades que fazem toda a diferença nesse processo. Hoje, tendo alcançado meu próprio nível de segurança como docente, quero compartilhar alguns conselhos que gostaria de ter ouvido quando estava começando.

As três sugestões a seguir — saber quando mudar a chave, usar a “regra do montinho” e retirar os andaimes — são metas que considero fundamentais.

1) Saiba quando mudar a chave

Nos primeiros anos, eu queria que tudo saísse “perfeito”. Com o tempo, percebi que os melhores professores que observei tinham algo em comum: a capacidade — e a tranquilidade — de ajustar a aula no ato para lidar com imprevistos. Pode ser uma pergunta inesperada, uma atitude que vira piada entre os colegas ou até mesmo um alarme de incêndio. Essa segurança tem nome: expertise adaptativa.

Profissionais com expertise adaptativa confiam na própria leitura de contexto e escolhem estratégias adequadas a cada situação. Pesquisas sobre o tema descrevem educadores que conseguem “mudar a chave” e criar soluções espontaneamente. Em vez de resistir ao inesperado, acolhem a incerteza — e até as dificuldades — sem se incomodar se a atividade sair parcialmente ou totalmente do previsto.

Aprendi a ser flexível e a me apoiar nessas interrupções. Depois de um alarme, por exemplo, posso reduzir a leitura em voz alta e focar apenas em dois parágrafos essenciais. Diante de um comentário ofensivo, faço uma pausa para reconhecer o ocorrido e explicar por que aquela fala não se alinha à missão da escola. Se surge uma pergunta fora de tema, anoto no quadro e volto nela no momento oportuno. E, se algo engraçado acontece, às vezes deixo a turma rir um pouco antes de retomar o fio. Esses “pivôs” dão lugar ao momento presente e, em seguida, permitem voltar ao cronograma.

2) Use a “regra do montinho”

Outra lição importante foi perceber quando é hora de largar o osso e redirecionar a rota pedagógica. Se um grupo de alunos não entende um enunciado, um trecho de texto ou uma atividade, aprendi a pausar. Sem deixar o orgulho atrapalhar, reconsidero a abordagem e reapresento a proposta de outra forma. Se isso acontece durante a aula, uso o feedback dos próprios estudantes para guiar o ajuste; se ocorre em uma avaliação, costumo consultar colegas antes de decidir os próximos passos — que podem incluir reformular ou até retirar a questão, ou retomar o conteúdo em outro momento.

Também passei a “temperar” avaliações ao longo da unidade: atribuo nota a esboços, partes de projetos ou checkpoints. Assim, os alunos recebem devolutivas frequentes e eu coleto dados suficientes para saber se precisam de novas oportunidades para demonstrar compreensão.

Saídas rápidas com uma ou duas perguntas ao final da aula ou da semana ajudam a identificar o que ficou claro e o que ainda precisa de reforço. O bom e velho “vira e conversa”, em que os alunos compartilham em grupos, também favorece a aprendizagem colaborativa. Vale lembrar: mostrar nossas próprias dificuldades de instrução ajuda os alunos a entender que desafios são normais, e pedir feedback torna o conteúdo mais próximo e acessível para eles.

3) Ajude, mas não ajude demais

Como pai e professor, sempre quis oferecer aos jovens apoios suficientes para enfrentarem projetos um pouco além da sua zona de conforto. No entanto, percebi que muitas vezes eu demorava para retirar esses andaimes — ou simplesmente não os retirava — e isso acabava prejudicando a autonomia dos alunos.

Eles precisam, sim, de suportes, mas também precisam aprender a caminhar sozinhos. Minha meta agora é retirar intencionalmente alguns apoios e ensinar, de forma explícita, como usar os recursos já disponíveis quando surgirem dificuldades. Isso pode acontecer após uma etapa do projeto ou na segunda vez que uma tarefa semelhante é proposta. Em contrapartida, ensino como organizar o estudo com os materiais em mãos e quais estratégias usar quando se sentirem “travados”.

No começo, pode ser desconfortável; mas, com o tempo, os alunos aprendem a distinguir entre a luta improdutiva — que leva à frustração e à desistência — e a luta produtiva, que os fortalece e promove aprendizagem real.

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