Secretário de Articulação Política do governo do DF, o ex-deputado Agaciel Maia, economista de formação, fez uma análise sobre o que as medidas de Trump podem representar para o Brasil. Agaciel lembra que os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, absorvendo 12% do total em 2024, o equivalente a US$ 40,4 bilhões. As principais commodities afetadas pela tarifa horizontal incluem o petróleo bruto, que representou US$ 7,5 bilhões (18,3%) das exportações brasileiras para os EUA. A Petrobras pode redirecionar suas vendas para outros mercados, como a China, mas isso pode ocorrer a preços mais baixos devido ao excesso global de oferta.

Outro setor que sentirá o impacto é o de aço e ferro semimanufaturados, que totalizou US$ 5,3 bilhões (13,2%) em 2024. A tarifa de 50% agrava a competitividade, especialmente para empresas como Gerdau e CSN, que já enfrentam desafios setoriais. Com o aumento dos custos, a capacidade de exportação pode ser severamente afetada, resultando em perdas significativas no mercado. O café é outra commodity crítica, sendo o Brasil o maior exportador mundial. Em 2024, as exportações brasileiras para os EUA totalizaram US$ 2 bilhões. A tarifa pode elevar os preços nos EUA, mas isso também reduzirá a competitividade brasileira, impactando diretamente o Cecafé e os produtores locais.
Com a carne bovina e o suco de laranja enfrentando desafios semelhantes, a estratégia de redirecionamento de exportações para mercados alternativos pode não ser suficiente para mitigar os danos financeiros.
Questão de equilíbrio
De outro lado, a tarifa horizontal pode afetar diretamente os produtos domésticos consumidos pelos brasileiros, como a margarina, devido à interconexão entre commodities e cadeias produtivas. A margarina é produzida com óleos vegetais e depende de polímeros derivados de petróleo para suas embalagens. Com a alta do petróleo e a desvalorização do real (que subiu 1,04% após o anúncio, atingindo R$ 5,50), os custos de insumos e embalagens estão aumentando. Segundo o IBGE, a margarina já subiu 15% em 2024, e a tarifa pode agravar ainda mais isso, elevando o preço médio de R$ 10 para R$ 12 por pote de 500g.
Além disso, a redução das exportações de carne bovina e café pode aumentar a oferta interna, potencialmente reduzindo preços no curto prazo. No entanto, a desvalorização do real eleva os custos de insumos importados, como fertilizantes, neutralizando esses ganhos. Assim, o efeito positivo sobre a oferta pode ser rapidamente compensado por aumentos de preço em outras áreas.
Os combustíveis também estão sob pressão. A Petrobras poderá enfrentar dificuldades com a perda de mercado nos EUA, o que deve impactar os preços domésticos de gasolina e diesel, que já subiram 10% em 2024. A inflação, estimada em 4,5% em 2025 pelo IBGE, pode subir ainda mais com a desvalorização do real, afetando seriamente o custo de vida dos brasileiros. Entre os principais impactos, está a balança comercial, com a perda de US$ 40,4 bilhões em exportações para os EUA (12% do total), reduzindo a entrada de dólares e enfraquecendo o real. Isso pode acentuar as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Brasil.
Além disso, setores como aço, aviação (como a Embraer) e o agronegócio podem demitir devido à queda na competitividade. A Embraer, com 60% de suas vendas para os EUA, pode perder US$ 78 milhões. Assim, a ameaça de desemprego se torna um tema recorrente nas discussões econômicas. Por fim, a inflação resultante da desvalorização do real elevará os custos de importação, pressionando preços de produtos domésticos. Ou seja, a tarifa não impacta apenas as exportações, mas também os preços que os brasileiros pagam por bens essenciais, como margarina, pão e combustíveis. A retaliação do Brasil, que considera aumentar tarifas sobre produtos americanos, pode complicar ainda mais a situação, encarecendo insumos industriais e afetando a produção.