O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, não deixou sem resposta o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que exagerou muito ao falar na criminalidade de Brasília. No entanto, prometeu e cumpriu, “uma resposta bem-educada, mostrando a ele que quem governa o Distrito Federal sou eu e que os nossos números são muito bons”.
Essa foi considerada a grande cartada política de Ibaneis, que mostrou habilidade política e conseguiu se projetar dentro e fora do Brasil. É evidente que se trata de uma estocada em Lula, que não manteve diálogo – bem ou mal educado – com Trump e sua equipe. Aliás, Ibaneis avisou também que “Aqui o Lula é hóspede”.
Segundo Ibaneis, “fiz questão de incluir no texto que sou de centro e não concordo com a posição de nosso governo central. Trump citou que a capital do Brasil tem taxa de 13 homicídios por 100 mil habitantes. No entanto, dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) apontam para 6,9 homicídios a cada 100 mil pessoas, quase a metade do que foi citado pelo presidente americano”.
O texto de Ibaneis foi redigido nesta terça-feira, um dia após a referência de Trump. Ibaneis, assim, deu uma demonstração de competência, ao mesmo tempo em que mostrava urbanidade ao criar um canal de diálogo hoje inexistente com o presidente dos Estados Unidos.
Números do Atlas da Violência
No documento, Ibaneis detalha as políticas públicas voltadas à segurança no DF e destaca números do último Atlas da Violência, que colocam Brasília entre as três capitais com menor taxa de homicídios no Brasil. Fez questão de redefinir a democracia brasileira, mostrando que, ao contrário do texto inicial de Trump, o País vive hoje uma democracia.
“A condução da segurança pública no Distrito Federal se alinha, em sua essência, à visão de ‘lei e ordem’, reforçando que o combate firme ao crime, associado a políticas sociais de alcance real, é o caminho para uma sociedade segura e próspera”, disse trecho da carta.
Referindo-se ao fato de Trump ter mencionado Brasília como uma capital violenta, o governador do DF cita a relação distante entre Brasil e Estados Unidos e tece críticas ao governo Lula. “São informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos da América”, afirmou no documento.
“Diferentemente do atual Governo Federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas. Tenho, de forma reiterada, afirmado que o Governo Federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos da América. Para este Governo do Distrito Federal, interesses geopolíticos e comerciais devem estar acima de divergências político-partidárias”, disse outro trecho da carta.
Gleisi dá resposta ácida

A carta foi mal recebida no Palácio do Planalto. A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, criticou o governador Ibaneis por suas declarações.
Em postagem no X, Hoffmann afirma que, em vez de criticar Lula em sua “carta subserviente a Donald Trump”, Ibaneis Rocha “deveria lembrar que a segurança pública de Brasília é financiada pelos repasses do governo federal”, e lembrou as responsabilidades nos atos golpistas do 8 de janeiro em Brasília.
A hostilidade perante Trump, aliás, se espalhou por todo o PT. O distrital Chico Vigilante, em discurso de críticas ao presidente norte-americano, só chamava Trump de “aquele do cabelo de manga chupada”.