O governador eleito (e diplomado) Ibaneis (MDB) não quer ficar chorando pitanga em janeiro, até porque a safra boa da fruta é em outubro. Desde a campanha, ele tem jurado que não vai ficar se lamentando por erros do governo passado e que se concentrará apenas no futuro. A orientação parece ter sido passada a todos os interlocutores do seu grupo.
Dá bilhão?
Ontem, durante a apresentação do relatório final da transição (leia mais na página 8), sua equipe voltou a projetar um rombo bilionário nos cofres públicos, bem acima do que Rollemberg tem divulgado. O vice Paco Britto, ao comentar o assunto, foi garantiu que isso seria resolvido porque a transição já captou R$ 1 bilhão, junto ao governo federal, para a cidade. Se a postura se mantiver, será algo inédito desde a reeleição de Roriz em 2002.
Bola pra frente
O prognóstico da equipe de Ibaneis é de caos na gestão e todo o pacote de reclamações que até o governo Arruda fez em relação à gestão de Joaquim Roriz. Todos os seus aliados, porém, tem repetido à imprensa o discurso de resolver, não se lamentar.
Deja Vu
Vários eleitos em pleitos realizados no mês da fruta, quando assumem, costumam aproveitar o simbolismo para chorar as pitangas em janeiro e reclamar que o governo anterior deixou a cidade quase ingovernável e que será necessário esforço hercúleo para equilibrar as contas. Rollemberg só parou de reclamar este ano.
Como vota, deputado?
A dupla de petistas que estará na Câmara Legislativa a partir de 2019 – dá para chamar dois deputados de bancada? – declarou apoio para Cláudio Abrantes (PDT) na disputa pela presidência da Casa. O reeleito Chico Vigilante, que se identifica como oposição ao futuro governo, disse que o fato de o pedetista ter apoiado Ibaneis durante a campanha não é uma contradição.
Dentro e fora
Sempre que questionados abertamente, Ibaneis e seu vice, Paco Britto, reafirmam as posições de não interferir no processo de escolha do próximo presidente da CLDF. Só que os deputados distritais eleitos têm acionado o novo governo repetidamente. O telefone também tem tocado bastante. Dos nomes já postos, Abrantes e Rafael Prudente (MDB) têm trânsito com Ibaneis e, na teoria, seriam boas opções. A improvável Júlia Lucy (Novo) também colocou o nome à disposição, mas haja articulação política, no caso, para chegar com chances.
RP de luxo
Quando o deputado federal Vitor Paulo (PRB), que assumiu o cargo como suplente de Ronaldo Fonseca (Podemos), foi anunciado como futuro secretário de Relações Institucionais do governo Ibaneis, esperava-se que ele faria a articulação com a Câmara Legislativa também. A função é ligada à Casa Civil e costuma ter alguém que é a ponte entre Executivo e Legislativo. Só que Vitor Paulo se aterá à atuação no Congresso, onde tem maior trânsito.
Apoio local
O responsável pela articulação na CLDF, portanto, seria o novo titular da Casa Civil, Eumar Novacki. Quem soltou a informação foi o vice Paco Britto, mas a questão não está fechada. Na gestão Rollemberg, houve uma secretaria-adjunta de Assuntos Legislativos que colocou nomes ligados ao governador, como Marcos Dantas e Igor Tokarski, na relação com a Câmara. Verdade seja dita, não deu lá muito certo.
De olho no Buriti
Com mandato de oito anos e a possibilidade de disputar outras posições sem ficar desempregado, o cargo de senador é, por definição, um dos últimos degraus para se chegar ao governo. Um senador é, também, candidato natural a prefeituras, quando representa estados. No caso do Distrito Federal, ao menos dois dos atuais senadores – os recém eleitos e ainda nem empossados Leila do Vôlei e Izalci Lucas – já começaram a ser tratados como postulantes eventuais ao Buriti. José Antônio Reguffe, que está no meio do mandato, é visto antes como candidato à reeleição. Mas que pode concorrer também, isso pode.
Ex da lei
O senador brasiliense Cristovam Buarque foi o último a falar, ontem, na legislatura que se encerra. Ele até comemorou: “Eu saio, e é o meu último discurso, ficando até o último instante. Mas isso não quer dizer que eu vou me despedir. Quem olha para o futuro não se despede”. Ele salientou, depois, que não era seu último, mas sim “o primeiro discurso de ex-senador”.
Democracia com ressalva
Na sua fala, Cristovam lembrou que sua geração conseguiu chegar a um Brasil democrático, mas fez uma ressalva. “Não é plenamente democrático o país onde a política é corrupta, sem estabilidade. Não é plenamente democrático o país com instabilidade. Não é plenamente democrático um país com sustos, seja o susto de um presidente que faz o que quer, seja o susto de um juiz que faz o que quer, seja o susto de um Congresso que decide coisas que não são as melhores, como as chamadas pautas bombas, que podem prejudicar o próximo Governo”. Resumindo, tudo o que se viu no País durante as últimas horas.
Errou acertando
A propósito de juízes que fazem o que querem, Cristovam avaliou que, ao definir voto aberto para escolha da Mesa Diretora do Senado, o ministro Marco Aurélio de Mello acertou e errou. Acertou ao garantir a transparência da eleição, defendida por Cristovam. Mas errou ao interferir em outro Poder. Questões regimentais, como essa, constituem prerrogativas do Legislativo, que opera interna corporis.