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Por que, Nelson Piquet?

Hoje fui pego de surpresa com a notícia de um áudio do tricampeão mundial, Nelson Piquet, em que chama Lewis Hamilton de “neguinho”.

Aurélio Araújo

28/06/2022 17h10

Foto: Reprodução

Outro dia estava ouvindo um podcast em que o humorista Fábio Porchat falava que tinha medo de ficar “over”, de ser desagradável. Medo de se tornar aquele tiozão que faz piadas ou falar coisas desagradáveis. O mundo está mudando muito rápido. E independente do universo (dentro ou fora do mundo automotivo), existem coisas que já não cabem mais.

Nâo cabem, por que essas coisas refletem todo o preconceito e discriminação enrraizada em uma nação que vivenciou por séculos a escravidão e ainda tenta maquiar esse processo com o argumento vencido de uma suposta democracia racial. Sabemos que é uma mentira e que existe uma tentativa de alguns de diminuir ou até negar o racismo no país. 

Falo isso, porque hoje fui pego de surpresa com a notícia de um áudio do tricampeão mundial, Nelson Piquet, em que chama Lewis Hamilton de “neguinho”. Isso é tão inapropriado e tão fora do momento que vivemos que tive que ler em muitos canais para acreditar que poderia ser possível. 

A entrevista de Piquet foi concedida ao jornalista Ricardo Oliveira. Ele criticou Hamilton por não ter tirado o pé logo na primeira volta do GP da Inglaterra na curva Copse, uma das mais famosas de Silverstone.

O fato aconteceu em julho do ano passado. Os dois disputavam a liderança da competição. Piquet, que é sogro de Verstappen, namorada da filha Kelly, acusou o inglês de ter feito uma “pu** sacanagem”.

“O “neguinho” meteu o carro e deixou. O Senna não fez isso. O Senna não fez isso. Ele foi, assim, “aqui eu arranco ele de qualquer maneira”. O “neguinho” deixou o carro. É porque você não conhece a curva; é uma curva muito de alta, não tem jeito de passar dois carros e não tem jeito de passar do lado. Ele fez de sacanagem”.

Nelson Piquet

A questão racial não é meu lugar de falar, mas não deixo de me indignar em como alguém ainda se sente à vontade em utilizar um termo tão equivocado em pleno século 21. Isso me parece possível apenas se esse alguém viver em um mundo de privilégios tão distante dos problemas do país (e do mundo) que chamar o outro por um nome ofensivo parece ok. Não, não é. Chamar um homem 7 vezes campeão mundial de “neguinho” é querer reduzi-lo por sua raça, a um menino negro sem valor. Da mesma forma como nos EUA se chamavam negros adultos de “boy” (menino / garoto) como uma forma de diminuí-los. 

Com o áudio amplamente divulgado, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e Fòrmula se posicionaram com notas de repudio a Nelson Piquet. Lewis Hamilton também se posicionou.

“É mais que a linguagem.. Esses modelos de pensamentos arcaicos precisam de mudança no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e sendo alvo minha vida inteira. Já houve muito tempo para aprender. Chegou o tempo para ação”.

Lewis Hamilton
Lewis Hamilton comenta fala de Nelson Piquet. Fonte: Twitter.

Vivemos um momento de radicalização e divisão no Mundo. Mas limites precisam ser respeitados. Não importa se você é um campeão mundial, na verdade, um campeão precisa ser exemplo, refletir o que temos de melhor e não o contrário. Já bastam nossas lideranças que se mostram desrespeitosas ao outro simplesmente por que o outro é diferente (na raça, na opinião, na religião, na sexualidade, etc). 

Por isso, é tão difícil entender o que motiva uma pessoa de sucesso, um tricampeão mundial de Fórmula 1 usar um termo tão inadequado com outro colega piloto. Lideramos pelo exemplo e o exemplo foi por demais infeliz. 

Por que, Nelson Piquet?

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