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John Lewis, uma Kombi e a luta pelos direitos…

Lewis era ícone da luta pela igualdade e, para mim, sua história se confunde com a do automobilismo.

Aurélio Araújo

21/07/2020 15h30

Kombi 1966 Deluxe que pertenceu Esau e Janie B. Jankins, militantes do movimento negro, que nos anos 60, viajaram pelos EUA nas mais diversas manifestações de luta contra o racismo e a segregação. Foto: Historic Vehicle Association.

Essa semana, recebi a triste notícia da morte do congressista norte-americano John Lewis. Aos 80 anos, Lewis era uma dos maiores ativistas negros dos Estado Unidos. Ele foi líder mais jovem da manifestação de 1963 em Washington, na qual Martin Luther King Jr. proferiu seu histórico discurso “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”) e dois anos depois, quase morreu em uma manifestação antirracista pacífica em Selma, no estado do Alabama, quando teve o crânio fraturado pela polícia. Lewis era ícone da luta pela igualdade e, para mim, sua história se confunde com a do automobilismo. 

Em setembro de 2019, eu estava em Washington D.C. (Estados Unidos) quando tive uma experiência entre a história de Lewis e a de uma Kombi especial. Passeando pelo National Mall (área onde ficam os grande monumentos da capital norte-americana), chegamos (eu e minha sogra) próximos ao centro entre o Capitol Hill e o Obelisco (Washington Memorial). E lá estava ela! Uma Kombi corujinha dentro de uma cúpula de vidro. Para ser mais específico tratava-se de uma Volkswagen Deluxe Station Wagon 1966 que participava da exposição “Cars at the Capital 2019”. 

Volkswagen Deluxe Station Wagon 1966 na exposição “Cars at the Capital 2019”. Foto: NVA, arquivo.

A Kombi pertenceu ao casal Esau e Janie B. Jankins, militantes do movimento negro, que nos anos 60, viajaram pelos EUA nas mais diversas manifestações de luta contra o racismo e a segregação. O carro hoje pertence à Historic Vehicle Association (EUA) que, com o lema #drivehistory, faz uma série de exposições de seu acervo de veículos que ajudaram a construir a história do país. 

O casal Esau e Janie B. Jankins, em frente à histórica kombi. Foto: NVA, arquivo.

Sou fã de Kombi, faz parte da minha história e viajo com uma miniatura para todos os lugares que vou, registrando fotos em pontos turísticos com a minha “kombizinha” no Instagram. Por isso minha empolgação ao ver aquele carro e a história que ele carrega. Há alguns metros dali, no pé do Capitólio, estava acontecendo uma manifestação. 

Minha kombizinha em frente à VW Wagon 1966 da família Jankins no National Mall, Washington DC, EUA. Foto: Aurélio Araújo.

Uma mulher passou ao meu lado cheia de seguranças. Era Nancy Pelosi (Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA) e ao seu lado caminhava um senhor negro que parecia muito com alguém de um discurso em vídeo que eu havia visto no dia anterior no Museu da História Afro-americana (African American History Museum). Era John Lewis. Sim, eu tive a honra de assistir a um discurso dele em frente ao Capitol Hill. E quando olhei para trás, estava lá a Kombi do casal Jankins, exposta no meio de Washington, vendo mais uma vez a história acontecer diante de seus faróis. 

John Lewis discursa em frente ao Capitólio, Washington DC. Foto: Aurélio Araújo

Lewis era uma grande homem. Sua luta foi fundamental para o avanço dos direitos. A própria Pelosi, sua companheira de palanque naquela manhã de sol, disse que ele era “um titã do movimento dos direitos civis, cuja bondade, fé e valentia transformaram nossa Nação”. Sua palavra superou as fronteiras dos EUA e alcançou os cinco continentes. Poder vê-lo fazendo o que melhor fazia, que era defender os que precisavam, foi icônico.

E foi assim, no meio de duas lendas (Lewis e a Kombi), que vi a história acontecer…

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