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Ciência da Psicologia
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Vamos falar a respeito de altas habilidades?

O que para muitos parece ser uma dádiva, na verdade, pode gerar muitos problemas se não houver assistência adequada

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

23/05/2023 11h21

De modo geral, considera-se o indivíduo com altas habilidades aquele que apresenta um desempenho acima da média em determinadas áreas do conhecimento, seja acadêmico, artístico ou mesmo psicomotor. Tal performance acaba por levar esta pessoa à necessidade de atendimento educacional especializado, não só para sua complementação curricular — já que ela não apresenta altas habilidades em todo o currículo — como também para desenvolver de forma correta suas potencialidades.

Para o Ministério da Educação, de acordo com sua Política Nacional de Educação Especial, publicada em 2008, “alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes. Também apresentam elevada criatividade, grande desenvolvimento na aprendizagem e realização de tarefas de seu interesse.”

O que para muitos parece ser uma dádiva, na verdade, pode trazer ao indivíduo com altas habilidades uma sensação de não pertencimento, de descompasso com o mundo e com aqueles ao seu redor, causando grande sofrimento psíquico e afastamento social. E isso pode ocorrer por duas razões básicas:

  1. O indivíduo acaba sendo excluído de seu grupo por ser muito mais capaz intelectual ou academicamente, ou apresentar aumentada habilidade motora se comparado aos demais alunos à sua volta, gerando desconforto e/ouciúmes dos demais;
  2. O indivíduo com altas habilidades normalmente tem seu desenvolvimento cognitivo/motor avançado, e seu desenvolvimento emocional pode transcorrer abaixo da média.

Assim, normalmente as famílias acabam por supervalorizar os dotes intelectuais e/ou motores de seus entes com altas habilidades, esquecendo-se do desenvolvimento emocional, ocasionando desajustes, frustrações e até mesmo processos depressivos de ordem maior.

Ocorre que, com isso, acaba-se criando uma série de mitos, tais como: “A pessoa com altas habilidades é capaz de se adaptar a todas as situações”; “Quem possui altas habilidades apresenta alto rendimento em todas as áreas do conhecimento ou será um atleta habilidoso em todos os esportes”, etc, quando, na verdade, o cidadão vai precisar de muito apoio da família e da escola, não só para se ajustar, mas em especial, para o reconhecimento de suas áreas de destaque e, caso existam, as de normalidade ou mesmo fracasso. Isso sem contar a grande necessidade de apoio emocional.

Assim, é preciso que o Ministério da Educação, a sociedade privada (escolas) e as famílias estejam mais atentos e conhecedores dos critérios para classificação de um indivíduo como portador de altas habilidades. Sabemos hoje que apenas de 2 a 3% da população mundial apresenta características compatíveis com indivíduos com altas habilidades/superdotação.

Historicamente, as altas habilidades eram atribuídas ao divino; depois, a genética passou a ser a melhor explicação para este fenômeno; e hoje, sabemos que tanto a genética quanto o ambiente e a cultura da sociedade é que são os pilares facilitadores da manifestação das superdotações. O engraçado é que em diversos momentos históricos, houve um grande investimento na população com altas habilidades. Platão, por exemplo, procurava jovens com inteligência elevada e educava-os com objetivo de torná-los lideres de estado.

Aliás, esta preocupação continua nos dias atuais. Diversos são os autores que, ainda hoje, ressaltam a necessidade de investimento nesta população para torná-los líderes capazes de desempenhar funções que podem mudar o rumo de uma nação, seja como um grande cientista, seja como um presidente…

Infelizmente, no Brasil, a cadeira da Presidência da República nunca esteve ocupada por uma pessoa de altas habilidades — na verdade, analisando os últimos anos, nem média habilidade…

Até a próxima!

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