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Ciência da Psicologia
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Mais sobre o Efeito Lúcifer

No texto de hoje, faremos uma brincadeira para entender um experimento do psicólogo Solomon Asch

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

24/10/2023 11h06

Solomon Asch, psicólogo

As duas ultimas colunas despertaram a curiosidade de alguns leitores a respeito de experimentos ligados à psicologia social. Aliás, por pura coincidência, neste semestre, estou ministrando exatamente esta disciplina na faculdade.

A psicologia social, em especial a americana, é composta de diversos experimentos que analisam o comportamento social do ser humano, inclusive frente a outro ser humano, como o experimento da impressão do psicólogo polaco-estadunidense Solomon Asch.

Asch estava interessado em como os humanos formam impressões de outros seres humanos. Ele ficou intrigado com a forma como somos capazes de formar facilmente impressões humanas, apesar de termos estruturas tão complexas.

Mas antes de continuar, vamos fazer uma brincadeira, ok? Escreva, em um pedaço de papel, características de uma pessoa com a seguinte descrição:

  • Inteligente-hábil-industrioso-quente-determinado-prático-cauteloso.

Agora, com estas características:

  • Inteligente-hábil-industrioso-frio-determinado-prático-cauteloso.

Mais duas listas de características. Descreva como é esta pessoa:

  • Inteligente-industrioso-impulsivo-crítico-teimoso-invejoso.

E esta:

  • Invejoso-teimoso-crítico-impulsivo-industrioso-inteligente.

Guarde estas informações até o final do texto.

Voltando, Asch pensava especificamente em como as impressões de outras pessoas eram estabelecidas e se havia algum princípio que as regulasse. Assim, concluiu que “conhecer uma pessoa é entender uma estrutura específica”. Ele demonstrou, através de suas experiências, que formar uma impressão tem os seguintes elementos:

  • É um processo organizado,
  • As características são percebidas diferentemente em relação a outras características;
  • Qualidades centrais são descobertas, causando uma distinção entre elas e qualidades periféricas;
  • São observadas relações de harmonia e contradição.

Asch conduziu muitos experimentos em que pediu aos participantes para formar uma impressão de uma pessoa hipotética com base em várias características que pertencem a eles. Em um experimento, dois grupos, A e B, foram expostos a uma lista com exatamente as mesmas características, exceto um: frio versus quente.

A lista de características dadas a cada grupo foi:

Grupo A: inteligente-hábil-industrioso-quente-determinado-prático-cauteloso;
Grupo B: inteligente-hábil-industrioso-frio-determinado-prático-cauteloso.

Um grupo de pessoas foi informado de que a pessoa estava quente, e outro grupo de pessoas foi informado que a pessoa está com frio. Os participantes foram convidados a escrever uma breve descrição da impressão que formaram depois de ouvir essas características. Os pesquisadores também produziram uma lista de verificação composta por pares de características opostas, como generoso/não generoso, perspicaz/sábio, etc.

Essas palavras estavam relacionadas à primeira lista de características que eles ouviram. Os participantes foram solicitados a indicar quais dessas características correspondiam à pessoa hipotética que acabava de ser descrita para elas.

Asch descobriu que impressões muito diferentes foram encontradas com base nessa característica na lista. Em geral, as descrições do grupo A foram muito mais positivas em relação às do grupo B. Com base nos resultados das descrições escritas da pessoa hipotética, o significado das outras características da lista pareceu mudar, relacionado ao fato de a pessoa hipotética ser descrita como uma pessoa “quente” ou “fria”.

Nem todas as qualidades foram alteradas por essa palavra. Palavras como “honesto”, “forte”, “sério” e “confiável” não foram afetadas. As palavras “quente” e “frio” mostraram-se mais importantes na formação das impressões dos participantes do que em outras características. Elas foram consideradas básicas para entender a pessoa, enquanto outras características seriam secundárias. Assim, se outra característica desta lista fosse alterada entre dois assuntos, como manipular as palavras “educado” e “contundente”, em vez das palavras “quente” e “frio”, isso não afetaria tanto a impressão da pessoa, assim como “quente” e “frio”. Asch denominou características “quentes” e “frias” “centrais” e características periféricas “educadas” e “contundentes”.

Em outro experimento, Asch descobriu que a ordem em que ele apresentava as características de uma pessoa hipotética influenciou drasticamente a impressão formada pelos participantes formados. Por exemplo, os participantes foram lidos em uma das seguintes listas abaixo:

A. inteligente-industrioso-impulsivo-crítico-teimoso-invejoso,
B. invejoso-teimoso-crítico-impulsivo-industrioso-inteligente.

A série A começa com qualidades desejáveis e termina com qualidades indesejáveis, e o inverso é verdadeiro para a série B. Como resultado dessa pequena diferença, as pessoas percebem a pessoa A como alguém que é uma “pessoa capaz que possui certas deficiências que, no entanto, ofusca seus méritos”. Mas, as pessoas percebem a pessoa B como um “problema cujas habilidades são reduzidas por suas sérias dificuldades”. O significado das outras palavras nesta lista também muda na maioria dos assuntos entre a lista A e a lista B. Palavras como “impulsivo” e “crítico” assumem um significado positivo com A, mas um significado negativo com B.

É muito interessante a visão que construímos uns dos outros apenas por determinados adjetivos, ou ainda pela famosa ‘primeira impressão’.

Mas como diria Danuza Leão, você nunca vai ter uma segunda oportunidade de causar uma primeira boa impressão.

E você, como foi no experimento?

Até a próxima!

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