O avanço da neurologia, em especial com os exames de imagem, tem proporcionado uma série de benefícios a comunidade mundial. Entre os avanços, destaco o uso da ETCC. Trata-se de uma técnica de estimulação cerebral não invasiva que utiliza corrente contínua de baixa intensidade aplicada com eletrodos no couro cabeludo, sendo capaz de modular a excitabilidade cerebral (LANG et al., 2004).
Estudos recentes suportam o potencial terapêutico da ETCC na depressão (MURPHY et al., 2009), Doença de Parkinson (BOGGIO et al., 2006), recuperação de acidente vascular encefálico (AVC) (JO et al., 2009) e dor neuropática crônica (FREGNI et al., 2007). Apesar de a corrente ser aplicada sobre o couro cabeludo, já foi demonstrado em humanos (DYMOND et al., 1975) e por modelamento matemático (MIRANDA; LOMAREV; HALLETT, 2006) que a estimulação é capaz de atravessar o crânio e atingir o córtex cerebral.
A modulação cortical é dependente da polaridade da corrente aplicada. A ETCC permite dois tipos de estimulação:
- (I) a estimulação anódica, que se caracteriza pelo posicionamento do eletrodo anódico sobre o córtex que se deseja excitar, ao passo que o eletrodo catódico exerce função de aterramento do circuito elétrico, sendo posicionado, em geral, sobre a região supraorbital contralateral ou no músculo deltóide; e;
- (II) a estimulação catódica, que se caracteriza pela inversão do posicionamento dos eletrodos; assim, o eletrodo catódico será posicionado sobre o córtex que se deseja inibir (NITSCHE; PAULUS, 2000; LANG et al., 2004, 2005).
No que diz respeito à segurança a ETCC tem sido considerada uma técnica segura, porém alguns efeitos podem ser observados, como formigamento na pele sob os eletrodos, fadiga moderada e coceira. Além disso, mais raramente, foram reportadas náusea, insônia e cefaleia (POREISZ et al., 2007). Desse modo, antes de qualquer estudo ou prática clínica envolvendo a técnica, é extremamente importante que os indivíduos sejam informados sobre esses possíveis efeitos.
Ainda com relação aos benefícios, o site PEBMED apresenta alguns estudos como, por exemplo, uma meta-análise em rede de 48 ensaios clínicos randomizados comparando vários protocolos de estimulação cerebral não invasiva (NIBS, do inglês non-invasive brain stimulation) com placebo ativo entre mais de 2200 pacientes com esquizofrenia, evidenciou que protocolos excitatórios no córtex pré-frontal dorsolateral estão associados com redução dos sintomas negativos.
Outro bom exemplo é o ensaio clínico randomizado, duplo-cego, paralelo, controlado com tratamento falso (pacientes do grupo controle receberam o mesmo dispositivo e eram submetidos a uma intervenção que mimetizava sensações táteis comumente relatadas na intervenção) foi realizado para avaliar a eficácia e segurança da estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) realizada em casa para o tratamento de sintomas de desatenção em adultos com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
64 adultos com TDAH participaram do estudo, recebendo 28 sessões diárias de ETCC, em casa, no córtex pré-frontal dorsolateral direito. Os pacientes que receberam ETCC apresentaram uma redução substancial na desatenção (34 vs 6%).
Os benefícios são imensos e os riscos mínimos, o que faz da ETCC, aliado a terapia, um dos mais promissores tratamentos, em especial, para pacientes com depressão, TDHA, e bipolaridade.
O site PUBMED tem apresenta-se como a maior fonte de estudos a respeito da ETCC e sua efetividade, somente no ultimo ano tivemos cerca de 1.049 estudos relacionados a ETCC nas mais diversas áreas que vão desde o tratamento da depressão até os benefícios da técnica para atletas de alto desempenho.
E é exatamente pelo elevado número de estudos comprovando tanto a eficiência, como efetividade da ETCC que se faz necessário um olhar mais apurado para seu uso na psicologia.
Continua…