Normalmente, minhas colunas têm minha assinatura. Mas, desta vez, sou apenas um colaborador orgulhoso, uma vez que a coluna desta semana foi quase toda escrita pela jovem recém-formada psicóloga Sabrina Pereira dos Santos, cujo TCC final, pauta da coluna de hoje, tive a honra de orientar.
Sabrina, dentre meus alunos de supervisão, foi a primeira (talvez a única) a perceber claramente que grande parte dos pacientes vêm, na verdade, em busca de si mesmos.
Assim, o correto desta semana seria termos neste texto a assinatura de Sabrina Pereira dos Santos e colaboração de Demerval Guilarducci Bruzzi. Portanto, aí vai:
Descobrindo a si mesmo: a jornada do autoconhecimento na psicologia
Por Sabrina Pereira dos Santos (psicóloga)
Colaboração de Demerval Guilarducci Bruzzi – CRP 01/21380
A psicologia, essa ciência que desbrava os mistérios do comportamento humano, tem se expandido em diversas áreas, como a aprendizagem, memória, linguagem, desenvolvimento, cognição e interações sociais. Ela nos ajuda a compreender quem somos, e esse entendimento é fundamental para as decisões que tomamos na vida.
Ao longo da história, a psicologia evoluiu, saindo das raízes filosóficas em direção ao pensamento racional. Hoje, ela é universal e diversificada para acolher as singularidades de cada indivíduo, abraçando abordagens como behaviorismo, cognitivismo, humanismo e psicanálise, todas valiosas para os avanços atuais e sem qualquer hierarquia preconcebida.
No mundo contemporâneo, muitos buscam a psicologia em busca de autoconhecimento, e com isso, a procura por compreender quem somos, regular emoções e mudar hábitos cresce constantemente. Essa busca pode ser motivada por uma tomada de consciência pessoal ou por influência de terceiros, seja visando saúde, bem-estar ou até mesmo o desejo de pertencer a um grupo.
Antes de procurar ajuda terapêutica, muitos fazem uma pesquisa inicial em buscadores como o Google, o que os leva à abundância de informações, trazendo uma visão mais complexa da mudança de comportamento do que inicialmente era imaginado.
Assim, a pergunta que não quer calar é: como os psicólogos lidam com essa demanda em seus consultórios, sabendo que o autoconhecimento, a compreensão intrínseca de si mesmo, é fundamental para o desenvolvimento pessoal? E a resposta é bem simples. O ambiente terapêutico é propício às transformações individuais, pois explora a consciência humana, incluindo o conhecimento subjetivo, representações sociais e senso comum.
É nesse momento que se destaca a importância das teorias de mudança, isto é, fundamentações teóricas embasadoras, como o Modelo de Mudança Transteórico, Teoria da Autoeficácia, entre outras, que fornecem esclarecimentos e orientam as intervenções. Cada teoria ou modelo carrega consigo as suas particularidades que podem ser melhor exploradas no manual The Handbook of Behavior Change, escrito por Cameron e outros estudiosos da área.
O Modelo de Mudança Transteórico, por exemplo, popularizado pelos psicólogos comportamentais Prochaska e DiClemente, propõe uma abordagem cíclica para entender como as pessoas modificam comportamentos ao longo do tempo. Ele divide o processo em estágios, desde a pré-contemplação até a manutenção, enfatizando a importância da motivação e da prontidão para a mudança.
Em contrapartida, a Teoria da Autoeficácia, desenvolvida pelo também psicólogo canadense, e professor de psicologia social da Universidade de Stanford Albert Bandura, concentra-se na crença pessoal e na própria capacidade de realizar uma tarefa específica. Baseando-se na ideia de que a autoconfiança impulsiona a ação, a teoria destaca a influência das experiências passadas, observação de modelos, persuasão social e estados emocionais na formação dessa crença.
Embora essas teorias sejam valiosas, também apresentam limitações, fazendo com que a integração de diferentes teses surja como uma abordagem para superar essas finitudes e oferecer uma compreensão mais abrangente do comportamento humano.
A relação complexa entre teorias de mudança e busca por autoconhecimento ainda é uma lacuna na literatura, especialmente em português, necessitando de futuras pesquisas que venham a desbravar esse campo tão fértil do uso das teorias na prática clínica, de modo que explorar e entender o comportamento humano seja algo constantemente aprimorado e possa resguardar a eficácia profissional diante das complexas demandas dos pacientes.
Neste sentido, muitos psicólogos perdem a oportunidade de guiar seus pacientes durante este tortuoso caminho, criando teorias de certa forma conspiratórias travestidas de transtornos, síndromes ou até mesmo déficits cognitivos.
O estudo da psicologia, é sempre bom lembrar, baseia-se no comportamento e pensamento humano. Isso não nos torna ‘adivinhos’, e sim estudiosos de como o ser humano pensa e se comporta nas mais diversas situações.
Deixemos a arte da adivinhação, da predição para os coachs e adivinhos circenses – enquanto os psicólogos se encarregam da ciência da psicologia no estudo dos fenômenos que, como abordado, levam o ser humano a se comportar e pensar.
E dentre os pensamentos e comportamentos mais vistos nos consultórios, está a necessidade de autoconhecimento, muitas vezes explorada de forma vil, por profissionais que não têm a formação necessária para avaliar a dinâmica da
personalidade de seus pacientes e acabam por confundir autoconhecimento com a teoria ultrapassada dos temperamentos de Galeno, ou ainda, aplicam testes sem base científica, como o DISC, levando milhares de pessoas a não só perderem seu tempo, mas também investindo recursos consideráveis para a responder à pergunta feita na peça: “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca”, mundialmente conhecida apenas como Hamlet, de William Shakespeare, escrita entre 1599 e 1601: “Ser ou não ser? Eis a questão.”
Até a próxima!