Os discursos de ódio e a desinformação facilmente encontrados nas redes sociais digitais é um dos motivos pelos quais as organizações da sociedade civil (OSCs) enfrentam dificuldades de arrecadação. A análise é do advogado Tomáz de Aquino Resende, especializado em assistência jurídica voltada para entidades sem fins lucrativos e presidente da Confederação Brasileira de Fundações (Cebraf).

Sua reflexão se dá a partir dos resultados de uma pesquisa produzida pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI). Entre janeiro e outubro do ano passado, a organização mapeou as postagens relacionadas às entidades do Terceiro Setor nas redes sociais, particularmente nas plataformas Facebook, Instagram, X (Twitter), YouTube, WhatsApp e Telegram.

Somente no X, como atualmente é chamado o Twitter, identificou-se que 63% das postagens que faziam menção às entidades do Terceiro Setor tinham cunho depreciativo. Boa parte dos comentários eram relativos a teorias da conspiração, falsos casos de corrupção e de relações governamentais e estigmas construídos pelo imaginário popular.
“Essas críticas poderiam ser tratadas apenas como comentários isolados, sem importância, mas na web elas fazem um barulho muito grande. O que preocupa é o poder de influência que essas postagens têm sobre outras pessoas, fazendo ecoar uma imagem a respeito do Terceiro Setor que não é verdadeira”, lamenta Tomáz de Aquino. “Isso tem impacto até econômico sobre as entidades, porque muitas pessoas que poderiam contribuir com doações acreditam nas fake news e deixam de contribuir para os trabalhos que elas desempenham”, complementa.
No entanto, o jurista também tem motivos para se tranquilizar. Outra pesquisa, a Doação Brasil 2022, elaborada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), mostra que 67% dos entrevistados reconhecem que as organizações da sociedade civil têm papel chave na luta contra os problemas socioambientais. Pelos cálculos do Instituto, as OSCs brasileiras receberam um total de R$12,8 bilhões em doações em 2022. Nada menos que 84% da população realizou algum tipo de doação, sendo uma parte considerável para as entidades.
“A realidade do Terceiro Setor não é aquela que muitos oportunistas, covardes ou mesmo ignorantes das redes sociais pintam. As OSCs têm um trabalho muito sólido no Brasil, particularmente, e contribuem para transformar a realidade de milhões de pessoas. Essa demonização que fazem das entidades não apenas prejudica a ferramenta mais eficaz em favor das comunidades mais necessitadas como também sufoca o próprio papel governamental de alcançar todos os deveres constitucionais. É um prejuízo enorme para toda a sociedade”, protesta Tomáz de Aquino Resende.