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Analice Nicolau
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Michelle Menhem: de vendedora de peças para celular a dona do maior império em assistência técnica do Brasil

A empresária começou em uma pequena lojinha na região do Brás, e hoje é CEO do Grupo Skytech: um conglomerado de empresas e o maior polo de tecnologia da América Latina

Analice Nicolau

30/05/2023 11h15

Michelle Menhem nasceu em São Bernardo do Campo, região do ABC paulista, de origem humilde, cursou psicologia, pedagogia e chegou a lecionar e a realizar atendimento psicopedagógico. Mesmo com os atendimentos, ainda desejava algo mais. Michelle e o marido se mudaram para à trabalho o Paraná, mas longe das famílias e insatisfeitos, começaram a mapear a região do Brás, quando perceberam que era uma região promissora e decidiram retornar.


A partir daí, começaram a pensar com o que trabalhariam. De acordo com ela, o marido que também tem o dom de vender, começou a ver alguns smartphones que poderiam ter peças substituídas e sugeriu trabalhar com reparos. Quando ela viu aquelas peças tão pequenas, duvidou um pouco, mas mudou de ideia rapidamente, porque entendeu que embora parecesse complexo, o negócio também parecia interessante.


Michele abriu mão da carreira e apostou na ideia do marido. O casal abriu uma loja com um pequeno estoque e os negócios começaram. Vindo de outro ramo, ela não entendia sobre as peças, o que a motivou a fazer o seu primeiro curso de assistência técnica. O aprendizado foi sendo compartilhado com o marido, que aos poucos, foi aprendendo e replicando aos funcionários que foram surgindo.
A ideia de aprender sobre assistência técnica era na verdade uma maneira de aprender sobre os produtos que estava trabalhando para oferecer mais qualidade e assertividade aos clientes. De maneira despretensiosa, surgiu a ideia de criar a escola de capacitação ‘Tech Channel’, que a empreendedora vai explicar logo adiante. De acordo com Michele, a escola virou uma referência para pessoas que trabalham com assistência e para empresários que trabalham com aparelhos e acessórios, para garantir mais propriedade ao comercializar os produtos.

Segundo a empreendedora, “embora a área seja promissora, a capacitação exige do profissional uma dedicação exclusiva, porque o tempo todo novos modelos de celulares estão sendo lançados e diversos tipos de problemas novos estão surgindo, falhas e intercorrências também podem acontecer com aparelhos. Além disso, ao receber o aparelho, a responsabilidade passa a ser totalmente do técnico, o que exige muito comprometimento”.


Michelle conta que a grande mudança do mercado exige que muitos professores estudem cerca de 16 horas por dia para conseguir realizar o mapeamento de uma placa, ou de um modelo novo. “Existe a dedicação como em qualquer outra profissão, eu falo que se compara ao médico. Você entra lá, você está doente, e sua família fala: pelo amor de Deus, não a deixa falecer. Você fica desesperado. E lá você tem o conceito do ‘Station’ também, o nosso polo de tecnologia, por ser todo de vidro, você fica mais seguro de ver como eles estão fazendo o reparo no seu celular. Quem nunca passou aquela sensação de você levar o celular para arrumar e eles o levarem lá para o quartinho no fundo, onde você não consegue ver nada. Daí eles voltam falam: passa a senha. É muita responsabilidade ser técnico de celular”, conta.


Voltando a pequena lojinha, Michelle contou que estava tudo bem até que lançaram o WhatsApp. Os clientes começaram a pedir o número de contato, fazer pedidos e a compartilhar o contato para colegas. Além disso, alguns parceiros começaram a divulgar a loja no YouTube, com isso, a loja acabou ficando pequena para tanta demanda. O marido decidiu abrir outra loja e escolheu uma loja em outro corredor para que ela pudesse trabalhar ali, atender o whatsapp e os clientes e ele ficaria por conta do movimento que já existia no primeiro endereço.


Até que um dia, viram que a Galeria Pagé Brás estava prestes a inaugurar e resolveram arriscar uma loja pequena naquele novo endereço. Com uma estrutura melhor, os clientes começaram a procurar uma loja no shopping. Com o crescimento, uma nova demanda surgiu: o maquinário. Os clientes começaram a procurar fontes, separadoras, estufas, entre outros produtos. Michele decidiu a buscar fornecedores e novamente a loja ficou pequena.


Mais uma separação aconteceu e a ‘Sky Machinne’ maquinários e insumos foi aberta ao lado da ‘Sky Tech’ peças e componentes. Com o passar do tempo, os clientes foram aumentando e o volume de dúvidas também, o que indicava que uma nova demanda estava surgindo. Motivada pela necessidade de auxiliar os clientes, Michelle decidiu organizar um evento juntamente com os professores do ramo no espaço da ‘Galeria Pagé Brás’, foi então que realizaram a primeira edição do ‘Tech Channel’, um workshop voltado para técnicos de celulares, que realizou junto ao sócio e professor Leandro Jumper. Na quarta edição, a galeria já não comportava mais o evento, professores de outros países participaram e a marca cresceu consideravelmente.


Neste momento, Michelle teve a ideia de fundar uma escola e realizar eventos com mais frequência, para absorver a demanda que se mostrava cada vez mais crescente. O ‘Tech Channel’, maior Centro de Capacitação da América Latina foi inaugurado. O centro chegou para absorver uma grande carência de mão de obra que existia e ainda existe no mercado, devido a acelerada evolução tecnológica e ao grande consumo de novos modelos no país.


Desde o começo, as histórias de vida das pessoas que faziam o curso motivaram ações importantes do que viria a se tornar o ‘Grupo Skytech’. Entre elas, a parceria com hotéis e restaurantes para que, os participantes vindos de outras cidades pudessem economizar e ter mais conforto. Porém, inúmeras vezes Michelle, o marido Mohamad e sua equipe identificaram pessoas que não almoçavam ou comiam um pãozinho que haviam guardado do café da manhã no curso. Em algumas situações, as pessoas revelavam que tinham apenas o dinheiro suficiente para arcar com o curso, porque estava juntando dinheiro para mudar de vida, de profissão e aquele investimento, muitas vezes era seu tudo.


“O Mohamad meu marido é muito coração. Teve um cara que contou que estava lutando para mudar de vida. Então, o Mohamad disse: vamos fazer alguma coisa por esse cara, eu vou dar uma bancada completa para ele começar. O Mohamad montou a bancada, deu para esse aluno, foi uma emoção enorme. Hoje ele tem nosso contato, ele fala mais com o Mohamad, porque foi quem parou para escutar ele naquele momento. Hoje ele já está com uma assistência sucesso na cidade dele”, conta Michelle sobre as histórias de superação que fazem parte da história e que motivaram o crescimento.


A empreendedora completa: “o melhor de tudo é você ver acontecer, porque depois ele volta para comprar peça. Eu sou muito religiosa e acredito que Deus não dá um fardo maior do que você vai poder carregar, e tudo tem um propósito na nossa vida. Às vezes você acha que está aqui para ganhar dinheiro, e você está aqui para fazer parte da vida de alguém, para fazer o bem ou para fazer essa pessoa se realizar profissionalmente. Quem pensa só em rentabilidade, eu penso que tem que começar de novo, porque a vida é muito mais do que isso”, pontua.


O terceiro passo no crescimento das empresas de Michele veio logo após o começo dos cursos. Os alunos que estudavam tinham o desejo de se tornarem empreendedores, outros já eram empreendedores e atuavam timidamente no comércio informal de São Paulo. Após um problema em uma conhecida rua que era referência em assistência técnica no Centro de São Paulo, os pequenos empreendedores estavam receosos e já não queriam mais ir para o local, foi então, que tiveram a ideia de desmarginalizar a questão da falta de procedência das assistências.


Desta vez, surgiu a ideia de criar o polo de assistência técnica: o ‘Station Solutions’, a ideia de dar transparência aos procedimentos foi uma virada de chave. Além de formar o técnico, a nova empresa cedia um espaço para que o técnico pudesse trabalhar, além disso, o design inovador com as paredes em vidro proporcionava que o cliente possa acompanhar o que está acontecendo com seu aparelho, num processo com maior confiabilidade e transparência.


O ‘Station’ foi uma resposta rápida devido a sua taxa de aceitação excelente, novamente em razão da carência que o mercado tinha de mão de obra qualificada. Com a proposta, além de qualificada, a mão de obra era capacitada dentro da própria escola, o que garantia maior resolutividade e satisfação. A partir de então, o ‘Station Solution’ se tornou um ecossistema, no qual a comunidade recebe o apoio integral para a garantia da solução, como o próprio nome indica.


De acordo com a CEO do Grupo Skytech, essa cadeia de profissionais está se expandindo e crescendo rapidamente, alguns dos clientes que começaram do zero, hoje acumulam mais de três lojas. “Isso é um time, uma família grande que nós formamos, onde um faz a diferença para o outro, porque eu também não sou nada sem eles. O crescimento deles é o meu crescimento, então, quanto mais eu puder contribuir para ele crescer, mais eu vou crescer também. É dando que você recebe”, disse a empresária.


Outro investimento foi no preparo desses vendedores, porque foram identificadas falhas importantes no atendimento ao cliente: como vender, como divulgar o produto, como fazer uma boa propaganda, como fazer o marketing. Dúvidas como uniforme, cartão de visitas e questões relacionadas ao cotidiano se tornaram cada vez mais comuns; e dessas necessidades surgiu uma grande parceria com Gustavo Malavota, CEO da SalesFarm, mentor em vendas e especialista em educação corporativa.


Da parceria surgiu um curso online, uma oportunidade para que interessados de todas as regiões do Brasil e de outros países pudessem se inscrever e participar da forma mais inclusiva, confortável e acessível possível. As aulas já estão sendo gravadas e em breve serão replicadas em inglês e espanhol. O objetivo é mudar o padrão de atendimento, para oferecer além de uma excelente mão de obra e peças de qualidade, garantir que se possa vender bem após comprar bem.


A proposta novamente vem de encontro com outra necessidade do mercado: bons vendedores. A visão do Grupo Skytech é que, como há um vendedor em todos os negócios, independente do tamanho e ramo, é que haja uma verdadeira transformação no mercado de assistência técnica em celulares, para que os profissionais tenham seu devido valor, como inúmeros profissionais de outras áreas, considerando inclusive, o valor sentimental e utilitário que os celulares desempenham no nosso dia-a-dia, uma vez que são úteis para inúmeras funções como se conectar com familiares e amigos, trabalhar, agendar uma consulta médica, pedir uma comida, registrar momentos importantes da vida, entre uma infinidade de possibilidades.


“Qualquer pessoa pode fazer esse curso, quem vende geladeira, vende fogão. O importante é ser vendedor. Embora na linguagem terá muitos exemplos com assistência técnica, com peças de celulares, isso poderá ser replicado em qualquer ramo de atividade, independente se vai ser peça de celulares, capinhas de celulares ou roupas. A regra será a mesma: como abordar um cliente, como fazer um estoque, como recrutar seus funcionários, enfim, são vários módulos”, explica a CEO da Skytech.


Além dos desafios do empreendedorismo, Michele conta sobre o trabalho com o marido, considerado para ela, algo fundamental nos negócios, já que os dois são bem dinâmicos e dependentes um do outro em todas as decisões, e sobre sua saga como mãe. “Se uma coisa não está bem, a outra não vai. Não existe uma fórmula mágica, eu não sou perfeita. Às vezes eu paro e digo: nossa, acho que sou melhor como empreendedora. Eu como mãe faço várias autoanálises, sou meio paranoica. Mas tudo isso que estou fazendo é para eles terem um futuro melhor. Depois você tem filhos, não é mais para você. Que eles não passem as dificuldades que nós passamos. Nós lutamos para dar uma vida melhor, conforto, tudo o que eles precisam. O mais difícil é conciliar tempo”, desabafou e revelou que já tem projetos para 2024.

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