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Analice Nicolau
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“Lugar mais transfóbico que existe”, declara Luisa Marilac após sofrer transfobia durante a Bienal de São Paulo

A influencer relata ter sofrido com piadas e perseguição dentro do evento ao lado de uma amiga e que não deseja mais viver no Brasil

Analice Nicolau

06/07/2022 8h00

Atualizada 05/07/2022 17h46

A influencer relata ter sofrido com piadas e perseguição dentro do evento ao lado de uma amiga e que não deseja mais viver no Brasil

Na última segunda-feira (4), a influencer Luisa Marilac publicou um vídeo em seu perfil no Instagram relatando ter sofrido diversas ofensas transfóbicas dentro do espaço onde acontece a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

“Este lugar é o lugar mais transfóbico que existe na face da terra. Vocês não têm noção o quanto a gente foi debochada, as pessoas apontam, duas meninas vieram andar do nosso lado, tirando sarro, então está aqui a minha indignação. Teve casos que eu falei com a Monique ‘vamos ignorar, porque se a gente for brigar com todo mundo que a gente encontra, vai ficar chato’”, declarou Luisa no vídeo.

Marilac estava visitando o stand do Grupo Editorial Record para fazer fotos do seu livro “Eu, travesti”

Ao lado de sua amiga Monique, Marilac estava presente no evento para fazer algumas fotos do seu livro “Eu, travesti”, publicado pelo Grupo Editorial Record. “Nós entramos na Bienal, o tempo da gente virar, porque eu estava procurando o grupo Record pra pegar meu livro e fazer uma foto, o tempo da gente procurar a editora, foi praticamente virar o pavilhão e isso tudo aconteceu. Foi muito rápido, muito constrangedor”, relata.

Monique denunciou que sofreu perseguição de jovens que a pertubavam e riam, e que muitos adultos assistiram à cena e nada faziam, muitos ainda dando razão para os adolescentes, alguns em grupos escolares. “Há muito tempo que eu não me sinto tão constrangida em caminhar, em ser apontada, ouvir pessoas e molecada correndo atrás e tirando sarro como se a gente fosse de outro mundo, que lugar horrível. É um lugar que eu nunca mais ponho os meus pés”.

Apesar de ser local frequentado por muitas pessoas que possuem algum acesso à informação, a influencer diz que isso não quer dizer nada, já que é um evento com um público presente em grande parte preconceituoso.

Após o ocorrido, Luisa pretende viver fora do país

“É um ambiente completamente transfóbico, por isso que a gente nem vê uma travesti aqui, por isso que travesti não ocupa esses espaços, mas nós temos que nos fazer presentes, mesmo passando por certas situações, por certos constrangimentos, como eu passei aqui, mas não é uma coisa fácil”, alerta Marilac.

Após o ocorrido, Luisa conta que não pretende mais residir no país. “Tomei uma decisão. Vou ver se eu consigo asilo político fora do Brasil. Não quero mais ficar no Brasil. Tenho 44 anos, já lutei muito por essa minoria, por essa causa. Agora estou numa fase da minha vida que eu preciso de paz, de ter qualidade de vida, tô cheia de problemas de saúde, depois dos 40 apareceu pressão, tenho que cuidar de mim agora”.

E complementa: “Isso aconteceu para me despertar, acordar pra vida. Eu sou uma mulher que vive dentro de casa, eu não saio, eu não vou a lugar nenhum, então raramente eu sofro esse tipo de preconceito. Um preconceito mesmo, na pele, como eu vivi ontem, eu não vivo. Mas eu entendi que eu não vivo porque eu não saio”.

Atuante na causa em prol de mulheres transexuais, Marilac agora pretende focar mais na saúde e em seu bem-estar

O evento se manifestou no mesmo dia, publicando um comentário no vídeo da influencer. “Tomamos conhecimento do que aconteceu durante sua visita na Bienal Internacional do Livro de SP. Nos solidarizamos com você e com a Monique e ressaltamos que a Bienal tem por sua essência ser um espaço de máximo respeito às diferenças. Nossa programação é sempre pensada para garantir diversidade e inclusão sem nenhum espaço para qualquer tipo de preconceito e discriminação. Os nossos espaços estarão sempre abertos para as pessoas LGBTQIA+”.

Marilac relata que muitas mulheres transexuais acabam se matando por não aguentarem sofrer esse tipo de preconceito.

“Por isso que muitas desistem ao longo do caminho, se matam. Ontem a noite eu fui dormir tão tarde, sabe? Cabeça não parava de pensar, o coração acelerado, passa (pela cabeça) até besteira nessas horas. Mas não vale a pena. Eu amo viver, amo a vida. Só que viver no Brasil eu não quero mais. Se Deus quiser até o fim do ano eu vou embora pra nunca mais voltar. Acho que o que eu podia fazer eu já fiz, vou continuar com meus livros lá fora. Isso feriu a minha alma”, finaliza.

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