A Coalizão COVID-19 Brasil, aliança para condução de pesquisas, formada por Hospital Israelita Albert Einstein, Hcor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet) — conduz estudos clínicos sobre tratamentos e os impactos do coronavírus na saúde.
Um novo estudo foi publicado pelo Intensive Care Medicine, periódico científico oficial da Sociedade Europeia de Medicina Intensiva. A Coalizão VII analisou a associação entre gravidade da COVID-19 em sua fase aguda e a qualidade de vida em longo prazo.
Após um ano de acompanhamento de pacientes que receberam alta após internação por COVID-19 em instituições brasileiras, os pesquisadores identificaram que quadros de maior gravidade da doença durante a hospitalização — definidos pela necessidade de ventilação mecânica, por exemplo — estão associados a maiores impactos na qualidade de vida e piores resultados nos desfechos de mortalidade, eventos cardiovasculares maiores, re-hospitalizações, novas incapacidades para atividades diárias, sintomas de ansiedade e estresse pós-traumático e dificuldade de retorno ao trabalho ou aos estudos.
Um dos principais achados é o alto percentual de pacientes que relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, de cuidar da própria higiene, fazer compras e administrar suas finanças. Entre os que necessitaram de ventilação mecânica, esse índice foi de 47%.
O estudo identificou que uma em cada quatro pessoas intubadas durante o tratamento precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses subsequentes. Além disso, 5,6% tiveram infarto, AVC ou morreram por doença cardiovascular, o dobro da taxa entre pacientes que não exigiram suporte respiratório durante a internação.
Os impactos na saúde mental também preocupam os pesquisadores. A prevalência de transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) em pacientes que fizeram uso da ventilação mecânica foi o dobro daquela da população brasileira em geral. Além disso, um em cada quatro apresentou sintomas de ansiedade. Esse acometimento de saúde mental, somado às incapacidades físicas relatadas, está associado à redução significativa da qualidade de vida.
A taxa de mortalidade pós-alta hospitalar nos pacientes intubados durante o tratamento para a COVID-19 foi de 8% ao longo dos 12 meses, enquanto entre os que não precisaram de suporte ventilatório era de 2%. De acordo com os pesquisadores, a ventilação mecânica é um marcador importante de gravidade da doença e indica um grau maior de comprometimento pulmonar e de outros órgãos — não é a técnica o que provoca o dano (ao contrário, ela ajuda a salvar vidas), mas é um indicativo de que aquele indivíduo vai precisar de um tratamento prioritário na reabilitação.
Os pacientes
Os pesquisadores acompanharam 1.508 pacientes, internados em 84 hospitais do Brasil, e que participaram dos demais estudos da Coalizão. Os voluntários foram classificados em quatro grupos: os que não precisaram de suporte de oxigênio; os que receberam oxigenação por meio de máscara ou cânula nasal; os que necessitaram de ventilação não invasiva ou oxigênio por cateter nasal de alto fluxo; e os que foram intubados e necessitaram de ventilação mecânica. Os contatos para monitoramento da qualidade de vida, dos sintomas persistentes, complicações de saúde e outras doenças, foram realizados através de entrevistas telefônicas, aos três, seis, nove e 12 meses após a alta.