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Analice Nicolau
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Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas debate justiça climática e ciência

Programação de três dias no CNPq em Brasília reuniu professores, universitários e ativistas. Participantes da programação definiram mais de 50 encaminhamentos para melhoria da carreira estudantil, com sugestões de políticas públicas

Analice Nicolau

25/03/2024 15h00

Com foco em debates sobre a crise climática, o 1º Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidade reuniu professores mestres e doutores, universitários, ativistas e autoridades do Brasil, Colômbia, Chile, Bolívia e Equador.

A programação científica aconteceu entre os dias 20 e 22 de março, na sede do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em Brasília. O evento é organizado pela Upei (União Plurinacional de Estudantes Indígenas).

Entre os convidados que participaram doe evento estão o cacique Raoni Metuktire, a ativista Txai Suruí, o escritor imortal na ABL (Academia Brasileira de Letras) Ailton Krenak, e o coordenador da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) Kleber Karipuna.

O presidente da Upei, Arlindo Baré, organizador do encontro, destacou que os indígenas sempre pautaram a justiça climática, a partir da preservação da natureza. Segundo ele, a pesquisa científica reúne dados, informações e índices que confirmam que a ciência concorda com o que é falado pelos povos originários há milhares de anos, desde os ancestrais.

“A presença dos estudantes indígenas nas universidades, como pesquisadores, é um papel importante. Os povos indígenas trazem, a partir das suas áreas de pesquisa, uma contribuição valiosa para um tema tão emergente. Como o movimento estudantil organizado, a gente sentiu a necessidade de realizar esse evento”, explicou Baré.

O cacique Raoni, conhecido internacionalmente pela defesa da Amazônia e dos indígenas, apontou o desmatamento, a invasão dos territórios e o garimpo como os principais problemas que agravam os conflitos contra os povos originários e colaboram na crise climática.

“Os garimpeiros não podem continuar matando os indígenas. Os madeireiros não podem continuar matando os indígenas. Nós somos os verdadeiros donos dessa terra, então precisamos ser respeitados”, frisou o líder da etnia kayapó.

Txai levou, ao encontro, as pautas que já foram levadas por ela para eventos internacionais, como

na COP (Conferência do Clima da ONU). Ela ressaltou que os conhecimentos dos povos indígenas foram utilizados por colonizadores, e até registrados sem os devidos créditos. Ela citou que os povos milenares desenvolveram ciência, matemática, física e química.

“Quando a gente fala desse momento que o mundo está vivendo de emergência climática que vai afetar a todos, eu não entendo como que o não-indígena pensa em superar essa crise climática sem falar de natureza. Quando falamos de natureza, falamos do povo originário. Quem que tem esse conhecimento da gestão do solo e proteção da floresta somos nós, indígenas”, disse Txai.

Protagonista da cena mais marcante na luta da Constituinte, em 1987, Ailton Krenak, disse que o Encontro de Pesquisadores Indígenas é um “momento histórico” no Brasil. Ele destacou o papel dos povos indígenas na autodeterminação e exigiu o fim da tutela do Estado sob os indígenas.

“Há uma observação do mundo, como os naturalistas, de ciência natural. Nós, indígenas, trazemos essa diversidade de conhecimentos, que, talvez, nos últimos 20 anos, que foi atribuída como saberes tradicionais, e saberes é um conjunto de práticas”, disse Ailton.

Também participaram da programação o ministro conselheiro da Bolívia em Brasília, Sebastian Mamani Cuenca, o doutorando Roger Chambi, da Bolívia, a antropóloga Luisa Córdoba, da Colômbia, a socióloga Viviana Alexandra Collaguazo, do Ecuador, o pró-reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Olival Freire, a professora Eliane Potiguara, e o anfitrião do evento Olival Freire, presidente em exercício do CNPq.

Encaminhamentos

Como proposta de fortalecer a educação indígena, tanto na base escolar, quanto no ensino superior, os participantes da programação definiram mais de 50 encaminhamentos para melhoria da carreira estudantil, com sugestões de políticas públicas. Entre os encaminhamentos estão:

A constituição de um GT Indígena no MEC/CNPq-MCTI voltados para fortalecimento do conhecimento ancestral e científico na formulação de políticas públicas de enfrentamento as mudanças climáticas.

  • A criação do Observatório Indígena para o Clima na América Latina; Garantia de interiorização e investimento específico com fomento da Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para as universidades que estão interiorizando.

A criação de fomento específico para as universidades e institutos federais para cursos de pós-graduação interiorizados; a criação de bolsa de estudo diferenciadas para pós-graduandos indígenas que residem em áreas remotas e de difícil acesso geograficamente.

A garantia de validade dos cursos interdisciplinares para garantir a participação em concursos públicos para o nível superior; que as avaliações de nossas produções acadêmicas se deem de maneira diferenciada, por exemplo, que um evento realizado na Amazônia tenha o mesmo valor que um artigo de um estudante do sudoeste publicado em uma revista do sudeste.

Que as bolsas no interior no Amazonas possuam auxílio-moradia e/ou valor diferenciado, pois é sabido sobre os custos amazônicos serem bem maiores; urgência de Novo Edital de bolsa permanência, com o objetivo de regularizar a situação dos estudantes já com cursos em andamento e, atenção aos novos estudantes, garantindo o edital por período.

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