A endometriose, uma condição médica que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, encontrou nas últimas décadas uma solução pouco compreendida, a gestrinona. Em uma entrevista, a ginecologista renomada, Dra. Ana Comin explica como a substância desempenha um papel crucial no alívio dos sintomas associados à endometriose. No entanto, o uso e a promoção do hormônio sintético têm causado questionamentos após a popularização do “chip da beleza”.
- Divulgação arquivo pessoal/ Dra. Ana Comin explica como a gestrinona desempenha um papel crucial no alívio dos sintomas associados à endometriose
A gestrinona, uma progestina derivada da testosterona, entrou em cena nos anos 60 como um método anticoncepcional. Contudo, sua eficácia nesse contexto demandava doses elevadas, resultando em efeitos colaterais indesejáveis, o que levou à interrupção desse uso. No entanto, estudos subsequentes evidenciaram que a gestrinona era eficaz no tratamento da endometriose, especialmente em casos de adenomiose e sangramento de dor pélvica crônica.
- Divulgação arquivo pessoal/ Segundo a Dra. Ana Comin o mau uso da gestrinona, especialmente em altas doses, foi observado em pacientes jovens em busca de ganho de massa muscular
Dra. Ana Comin esclarece que, apesar de seu potencial terapêutico, a administração oral incorreta da gestrinona apresentava riscos significativos, como hipertensão e AVC, levando, mais uma vez, à suspensão de seu uso por via oral. No entanto, a persistência de sua eficácia em tratamentos ginecológicos importantes manteve a gestrinona no cenário da medicina como uma alternativa valiosa.
- Divulgação arquivo pessoal/ Conforme a Dra. Ana, a seriedade e critérios rigorosos deste trabalho visam avaliar não apenas os benefícios já comprovados, mas também os efeitos colaterais da gestrinona
A controvérsia em torno da gestrinona ganhou novos contornos recentemente, especialmente com o surgimento de implantes subcutâneos que permitem a administração da substância de forma mais segura. Contudo, essa inovação, que surgiu como uma promissora alternativa para pacientes não responsivos a outras formas de tratamento, também trouxe consigo desafios éticos.
- Divulgação arquivo pessoal/ A doutora enfatiza que o mau uso por alguns médicos não deve condenar a gestrinona, que demonstrou melhorar significativamente a qualidade de vida de muitas mulheres
O mau uso da gestrinona, especialmente em altas doses, foi observado em pacientes jovens em busca de ganho de massa muscular. Essa prática tem preocupado a Sociedade de Endocrinologia, que busca proibir o uso da gestrinona de forma indiscriminada, impactando pacientes que encontraram alívio significativo para a dor da endometriose.
A ginecologista destaca que, como qualquer hormônio, a gestrinona pode ser tanto benéfica quanto prejudicial, dependendo da dose utilizada. Comparando-a a um anticoncepcional oral, ela ilustra a ideia de que todo hormônio é dose-dependente. No contexto da endometriose, doses baixas são necessárias para o tratamento.
Recentemente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) foi pressionada por sociedades médicas, especialmente a de endocrinologia, para proibir o uso da gestrinona no país. No entanto, a agência observou um trabalho em andamento que utiliza a gestrinona como último recurso para pacientes que já tentaram outras abordagens. Esse estudo, registrado junto à Secretaria de Saúde e Ministério da Saúde, visa avaliar a eficácia e os possíveis efeitos colaterais quando a gestrinona é utilizada adequadamente no tratamento da dor associada à endometriose.
Conforme a Dra. Ana, a seriedade e critérios rigorosos deste trabalho visam avaliar não apenas os benefícios já comprovados, mas também os efeitos colaterais da gestrinona. Ela enfatiza que o mau uso por alguns médicos não deve condenar a medicação, que demonstrou melhorar significativamente a qualidade de vida de muitas mulheres.
Segundo a médica, em um relato uma jovem, decidindo evitar a cirurgia, optou pelo implante de gestrinona e experimentou uma mudança radical. As dores que a acometiam desapareceram, permitindo-lhe retomar atividades cotidianas, incluindo relações sexuais, que anteriormente eram marcadas pela dor, “Ela escolheu isso e simplesmente as dores dela foram embora completamente,” enfatiza a ginecologista.
Além disso, outras histórias incluem o caso de uma paciente que, após ser demitida devido à frequente ausência no trabalho causada pela dor, encontrou alívio através de um implante contendo gestrinona e outras situações envolvendo pacientes com infertilidade, dor pélvica crônica que obtiveram melhora na qualidade de vida após o uso de forma correta da gestrinona.
“Então por que proibir algo que melhora tanto a vida da gente? Porque alguém está fazendo mau uso. Que seja levado a juízo as pessoas, os colegas, os médicos que fazem este uso incorreto e não condenar a medicação que resolve tanto os nossos problemas.” finaliza a doutora.



