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F1 2026: um brasileiro por trás dos novos motores híbridos

Jonas Cândido é o grande nome por trás de todas as informações sobre os novos motores que irão impulsionar as máquinas mais velozes do planeta em 24 circuitos ao redor do mundo

João Luiz da Fonseca

03/11/2025 13h48

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Formado em Engenharia Mecânica pela UFRN, com especialização na França, o brasileiro Jonas Cândido trilhou um caminho de estudo, coragem e excelência até se tornar um dos maiores especialistas em propulsores híbridos da Fórmula 1, atuando há mais de uma década na FIA, a maior autoridade do automobilismo mundial (Arquivo pessoal)

A Fórmula 1 se prepara para passar por uma grande revolução, com tudo mudando para a temporada 2026: os carros serão mais leves e estreitos, os pneus terão menor área de contato com o solo e o regulamento também vai extinguir o DRS e introduzir novos formatos aerodinâmicos.

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As mudanças não param por aí, sendo que entre elas os motores ganham um capítulo especial. E, em se tratando das novas unidades híbridas, um brasileiro é o responsável por representar a FIA na orientação às equipes que vão disputar o próximo campeonato, que passarão a ser onze, considerando a entrada da Cadillac.

Jonas Cândido é o grande nome por trás de todas as informações sobre os novos motores que irão impulsionar as máquinas mais velozes do planeta em 24 circuitos ao redor do mundo.

O engenheiro brasileiro, nascido em Areia Branca, no Rio Grande do Norte, é considerado um dos maiores especialistas em propulsores híbridos da Fórmula 1.

Antes de se juntar à FIA, trabalhou em equipes de destaque como Renault (hoje Alpine, onde atuou ao lado de Rico Penteado, outro engenheiro brasileiro de grande reputação no universo da F1), Red Bull e Toro Rosso (posterior Alpha Tauri e atual Racing Bulls).

Na FIA, Jonas cuida da parte mais complexa dos motores utilizados na categoria e com os preparativos para a introdução do regulamento, ele passou a exercer o papel de ponte entre as equipes e a Federação nos ajustes para implantação das regras técnicas das novas unidades, que em 2026 terão potência elétrica triplicada para 350 kW e uso de combustível 100% sustentável, numa proporção híbrida de praticamente 50% entre as duas fontes de energia.

É através dele que os engenheiros das escudeiras passaram a receber todas as complexas orientações das novas regras, através de um processo confidencial que envolve ainda os fabricantes de motores.

Devido ao sigilo que seu conhecimento e trabalho requerem, Jonas é apelidado de o “guardião dos segredos dos motores da F1”.

Engenheiros de todas as escuderias estudaram minuciosamente a documentação para guiar o desenvolvimento de seus projetos, e o papel do brasileiro vem sendo o de garantir que todas elas tenham a mesma interpretação, ainda que as estratégias de desenvolvimento sejam diferentes entre uma equipe de fábrica (como a Mercedes) e uma cliente (como a Williams).

Para evitar que uma delas comece a nova temporada com desvantagem por problemas de desempenho ou confiabilidade, a FIA implementou mecanismos de ajuda e aprovou a realização de testes ao longo da temporada de 2026 para medir o desempenho das unidades de potência. Dependendo do resultado, fabricantes que estiverem em desvantagem terão algumas concessões para equalizar a performance dos propulsores.

“Os testes têm por objetivo ajudar os times e fabricantes a entenderem melhor o novo carro e o novo motor. Este ano foram três dias de testes de pré-temporada e em 2026 ficaremos uma semana em Barcelona e duas no Bahrein. Isso tudo vai acontecer antes da primeira corrida do próximo campeonato “, explica o engenheiro.

Segundo Jonas, as sessões têm por objetivo “avaliar os vários sistemas designados pela FIA e que estão montados em todos os carros que disputarão a nova temporada“.

“Nos testes vamos medir as potências e refinar nossos métodos. Contudo, será a potência medida nas cinco primeiras corridas que permitirá à FIA acionar o mecanismo que ajudará os fabricantes de motores que apresentarem déficit de potência superior à 2% em relação ao motor mais potente”, explica.

Ele ressalta que “na verdade não existe uma medida direta para equalizar os motores. Os fabricantes desenvolvem o motor baseado no limite de gastos e no limite de tempo de testes nos bancos de prova. O que vai acontecer é que os fabricantes com um motor menos potente vão ganhar o direito de gastar mais e de também realizar mais tempo de testes. Assim, eles vão poder introduzir melhorias no motor em um ritmo mais rápido do que o fabricante que já terá o melhor motor”, esclarece.

Do nordeste brasileiro à França, sua trajetória é  marcada pelo sucesso

Das escolas públicas da pequena e bela cidade de Areia Branca, no litoral do Rio Grande do Norte, até chegar à categoria mais importante do automobilismo mundial, a trajetória de Jonas Cândido é notável.

Jonas cursou o Ensino Médio no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) de Mossoró entre 2003 e 2005.

Em 2006 mudou-se para Natal, onde estudou Engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ao mesmo tempo em que realizou um curso técnico de eletrotécnica no CEFET de Natal.

Na faculdade, conseguiu uma bolsa de estudos para graduação na França. Foi lá que aprimorou seus conhecimentos e teve a certeza de que seu objetivo maior era o de trabalhar na Fórmula 1.

Um ano e meio depois voltou ao Brasil para terminar seus estudos e então retornou para a França.

Ao completar 24 anos, ele teve a oportunidade de trabalhar com a Fundação Renault, com foco em desenvolvimento de motores híbridos.

Com o tempo, Jonas começou a chamar a atenção no paddock, e no final de 2018 foi convidado para trabalhar diretamente na Federação Internacional de Automobilismo (FIA).

Foi lá, atuando como o principal engenheiro da parte híbrida de motor, que ele se encontrou. “Não tem a mesma emoção de estar em uma equipe e torcer para ganhar a corrida. Não tem aquela vibração toda. Mas é um grande desafio do ponto de vista da engenharia porque cada equipe tem um exército de ‘mil’ pessoas pensando, enquanto a gente tem de tentar entender o que eles estão buscando quando vêm fazer uma consulta conosco sobre o regulamento. É preciso decifrar o que está por trás de cada pergunta”, explica.

E no meio dessa complexidade, ele percebeu que gosta mesmo é de ter essa visão global que só é possível trabalhando para a federação. “Você vê tudo o que está acontecendo de forma globalizada. É outro ponto de vista. Além disso, o networking é gigantesco, porque a FIA não é só F1”.

Tanto que Jonas ainda encontra tempo e disposição para atuar também em outras categorias.

“Eu as ajudo um pouco orientando também na questão do desenvolvimento de um novo regulamento ou sistema”, explicou o engenheiro ao Jornal de Brasília.

”Por exemplo, quando o WRC (Campeonato Mundial de Rali – World Rally Championship) adotou o sistema híbrido, eu ajudei meus colegas a definir as regras, escrever o regulamento, escolher o fornecedor e acompanhar seu desenvolvimento e integração”, explica.

O brasileiro também presta suporte à Fórmula E, eRallyCross e projetos de e-karting. “Somos uma entidade grande; daí temos que ajudar onde está precisando”, justifica.

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