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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Erik Schnabel lança seu primeiro single, o “Nova Morada”

Cantor, compositor, videomaker e produtor musical e cultural, Erik navega pelo groove em busca do ne?ctar de um som híbrido e hoje conta com um acervo de mais de 80 peças autorais

Thaty Nardelli

25/03/2023 5h00

Atualizada 24/03/2023 16h36

Foto: Divulgação

Erik Schnabel (1994) e? compositor ha? 15 anos. Além de músico, atua como videomaker, produtor musical e cultural. Navega pelo groove em busca do ne?ctar de um som híbrido e hoje conta com um acervo de mais de 80 peças autorais. Formado em comunicac?a?o, realizou pesquisas sobre o documenta?rio contempora?neo e o reggae maranhense.

Cresceu entre jam sessions e saraus culturais promovidos por sua família. Desde cedo, expressa sua veia literária por meio da prosa e poesia. O repertório ao vivo é diverso e dialoga com o espírito dos tempos. Neste ano, traz o lançamento de seu primeiro single, “Nova Morada”. Com a proposta de ritual sonoro, o artista tem uma curadoria cuidadosa.

Você cresceu já dentro de um meio cultural muito forte. Como isso influenciou sua vida e carreira? 

Minha mãe cantou por muitos anos, meu pai é fotógrafo e meu tio compositor. Em casa tinha sempre alguma música tocando, e instrumentos musicais pelos cantos. Eu participava das conversas dos adultos, ouvia suas histórias e tinha liberdade para compartilhar minhas opiniões. O que foi muito importante para minha formação como artista. 

Desde o domínio da linguagem, que influenciou mais tarde na minha escrita, como a familiaridade com a música. Minha família sempre valorizou a arte, mas não era aquela idealizada ou distante, como a que vemos na TV, mas uma carregada de afeto, feita por pessoas de carne e osso, com olheiras e excêntricas. Percebendo meu interesse, me incentivaram sempre que possível. Tínhamos uma tradição de natal na casa do meu tio, o Sarau dos Desgarrados, encontro musical que ia até o amanhecer. 

Lá, ainda criança, em meio a bohemia, compartilhei meus primeiros dedilhados e composições no palco. Dessa forma minha vida foi preenchendo com poesia. Curioso é que ter um pai artista, também é ter um pai crítico. Isso me fez desenvolver um crivo, e assim pude desenvolver, verdadeiramente, as predisposições que tinha. Ninguém cresce só com aplausos, críticas muito duras também podem tolher nossa criatividade, mas as observações ásperas que recebi no caminho foram fundamentais. 

Como produtor, você movimenta várias cenas importantes do DF. Pode contar um pouco da sua experiência e a importância disso? 

Influenciado pelos encontros musicais do meu tio, desde a adolescência promovo festas na minha casa. A ideia era reunir sempre amigos músicos ao redor da fogueira. Com o passar do tempo fui aprimorando, testando formatos diferentes, entre jams sessions acústicas e Line Up de bandas parceiras. Chegando ao ponto de hospedar e promover shows de bandas de outros estados também, como O Vórtice e Planetário de São Luís-MA. 

Uma parte importante da minha trajetória se deu no meio universitário. Durante o ano de 2014, no UniCeub, implementei um programa de rádio web chamado Esquina Musical, onde pude entrevistar bandas do DF e conhecer artistas que eram grandes referências para mim, como Banda Rupestre e Surf Sessions. Essa época me rendeu boas amizades e parcerias que duram até hoje. Lá, através do CA, também realizei intervalos culturais, com música ao vivo, era o “Quarta Show”. Já na UnB, integrei a primeira gestão da Batalha da Escada, promovendo batalhas de rap semanais, vi o público crescer de 5 a 10 pessoas, para 500 em um ano. 

Nos últimos anos, o audiovisual tem sido minha principal ferramenta de trabalho, selando parcerias principalmente com artistas e movimentos culturais. Em um momento pós-pandêmico, realizei algumas edições especiais da minha festa em outros locais, o que resultou na criação da marca: “Sarau Sarawê”. 

A primeira edição ocorreu ano passado, a segunda edição está prevista para Junho. Acho que os artistas da cidade precisam se conectar e se fortalecer. Assim que se gera uma cena, que é basicamente um ecossistema. Um acaba influenciando o outro, ou no mínimo bebem de alguma referência em comum, sem nem saber se cria uma escola que mais tarde vai servir de referência para as próximas gerações. Movimentos do passado na cidade fizeram história, e podemos aprender muito com eles: Ocupação do espaço público, festivais ao ar livre, palcos abertos… temos que furar as bolhas, movimentar. 

Nós mesmos precisamos valorizar nosso ofício, tanto individualmente, como classe artística. Pouco a pouco, vamos elevando a consciência do público, dos veículos de mídia, do mercado e estabelecimentos. Enquanto isso, trabalhamos com o que temos para evoluir, essa é a nossa sina. O mundo pode virar as costas pra artista, mas o artista nunca vai virar as costas pro mundo, estaremos sempre criando. 

Você navega entre várias vertentes da arte, como poesia, música, produção… como cada um deles influencia na sua carreira? 

Vejo que todas se completam nesse quebra-cabeça que é a jornada como profissional da arte. Eu comecei na prosa, e foi meu tio que disse um dia: ‘Que tal unir a música com as palavras e tentar escrever uma canção?’ Desde então tem sido minha principal forma de contar histórias e trabalho com a linguagem.

No audiovisual, comecei lidando com a montagem de documentários, praticamente cortando e ordenando falas, discurso oral. Depois fui me aproximando mais da fotografia, conceito visual. Hoje produzo clipes que contam histórias por meio de imagens, muitas vezes uma história paralela, complementar à ideia da letra. Entendo que essa bagagem traz tridimensionalidade à obra. 

Às vezes uma simples escolha de palavras pode dar a força que faltava para o trabalho. Edição de vídeos, criação de roteiros podem ser bem úteis na produção musical. Turning point e jornada do herói também tem seus paralelos na canção: Tensão e relaxamento, dinâmica, tema e desenvolvimento. 

Inclusive, neste ano, você chega com um projeto solo novinho. Pode contar como foi a construção dele? 

Meu projeto solo, vem da necessidade de compartilhar o meu melhor com o mundo. Parei pra pensar que se eu morresse, apesar de ter um acervo com mais de 80 músicas autorais, pouquíssimas músicas ficariam para prosperidade. Então reconheci a responsabilidade de organizar meu material entre os blocos de notas, pré-produções e gravar, tocar, lançar. Nesses últimos anos tive a oportunidade de trabalhar com diversos artistas, auxiliando eles na produção de conteúdo e estratégia para mídias sociais. 

Fiz também muitas pesquisas sobre o mercado e fui alinhando minhas qualidades artísticas. Hoje enxergo também a sutileza de ser artista para além da obra. Dar vida para suas ideias e planejamentos… dar a vida por suas ideias… isso também é arte. Talvez a maior obra do artista seja viver. Assim como multiartista, você também traz isso em sua música, misturando sons únicos. 

Você tem alguma referência? Como é seu processo de curadoria? 

Minha primeira escola foi o Reggae. Então carrego muito da Black Music no jeito de cantar, e valorizo muito isso. Percebi quando fui estudar mais o Jazz, e vi que já consegui aplicar muitos recursos, pois trouxe do reggae. Além da Jamaica ter sido influenciada pelo Jazz e rnb de New Orleans, essas manifestações têm a mesma raiz em Mama África. 

Reconheci também com o passar do tempo que havia uma sementinha do funky nas minhas composições. Acho que foi influência de um CD do James Brown que ganhei quando criança. Então o groove é algo que tenho regado nos últimos anos, através de pesquisa e de entrega, presença no som mesmo. Nesse quesito, Fela Kuti é um grande professor. O estilo cancioneiro, trovador, contador de histórias do Folk também me encanta. 

Zé Ramalho é uma forte influência. Chico Science é uma figura marcante na minha história também. Sigo na pesquisa através dos ritmos brasileiros, ao pensar nas instrumentações e levadas tento sempre dar uma temperada brasileira nas produções. Quanto à curadoria do show ao vivo, a ideia é conduzir o público, contar uma história, e para isso me pauto pelo conceito de Ritual Sonoro. Digo isso pois vejo que em uma apresentação artística, o público tem a oportunidade de rasgar o véu do cotidiano. Isso pra mim é mágico. 

Ainda mais através da música, que para mim é a medicina pra alma. Já na produção, eu curto muito a cena de Trip Hop e Acid Jazz de Londres. Essa estética com certeza tem influenciado o rumo das minhas produções musicais. 

“Nova Morada” apresenta letra e melodia esperançosa, além de ter sido lançada logo no primeiro dia do ano…

 A atmosfera da música é inspirada na música Faraó, de Margareth Menezes, isso é expresso na forma de cantar e na construção dos versos. Já o refrão, foi baseado num jogo de palavras. A queda da tempestade em “Nova Morada” faz referência à queda dos reis em ‘Cartomante’, eternizada na voz de Elis Regina. 

Essa música tem um gancho que gera muita identificação porque fala de temas universais, mas que se encaixam ao mesmo tempo nesse momento de renovação política: Luta e celebração, a cultura como base para transformação social. Ela ter sido lançada no dia da posse, foi algo muito simbólico, e pra mim foi uma experiência catártica, por saber que fiz parte da história. 

Nesse projeto contei com a ajuda de artistas incríveis, amigos mesmo, que acreditaram na ideia e por isso sou profundamente grato. Chegamos em um resultado maior que a soma das partes. Da mesma forma que o tema conquistou parceiros para produção do trabalho, espero que esse espírito de coletividade contagie a todos que escutem a música ou assistam o clipe. Quero que as pessoas possam enxergar através da luneta mágica, que tenham fé de que as coisas podem melhorar, e que alimentem a gana para fazer a mudança necessária. 

Pode falar sobre a “Máscara do Guerreiro”? Qual foi a importância dela nesse projeto? 

A “Máscara do Guerreiro” foi feita em colaboração com Snigdha Malik (IN). Eu hospedei a Singdha para realizarmos oficinas de canto intuitivo e tradicional em Brasília. Durante a estadia dela, desenvolvemos uma residência artística onde gravamos uma música, filmamos cenas pro clipe e confeccionamos a máscara. Foi um processo intenso onde manifestamos muita energia e boas intenções durante o feitio, tem um caráter de talismã.

A máscara deu vida ao projeto, foi o ponta pé inicial e para nós, ela carrega vida também. Ela representa a luta coletiva por um mundo melhor, ela traz a força necessária para a transformação. Ela se tornou o símbolo máximo da música, está presente na capa e em cenas do clipe. Você traz debates importantes, como diversidade cultural, respeito às diferenças e promoção de consciência social, racial e ambiental. 

Como artista, qual a importância disso para você? 

A música é uma ferramenta de autoconhecimento e de transformação social. O artista é quem manifesta algo que primeiramente só ele enxerga, é o mediador entre as possibilidades e o real. Por isso, acho importante que o artista esteja alinhado em diferentes esferas: individual, coletiva, política, ecológica, econômica… 

Assim, ele pode usar da arte para gerar impactos que quer ver no mundo. Primeiro, gera um impacto na sua própria forma de ver o mundo, depois propaga a mensagem. A música molda nossa forma de ver o mundo, quer o artista queira ou não, ele está reforçando ou quebrando padrões. Então é importante que estejamos atentos sobre o que geramos e ouvimos. Querendo ou não, o artista é político. Penso que tudo é música, assim como tudo é política e como tudo é comunicação. É evidente o desequilíbrio que nossa sociedade vem alimentando. O artista, como um bom crítico, deveria ser o primeiro a perceber isso. Precisamos construir uma uma frente ampla, convergente em nossa diversidade, para curar tantas feridas abertas. 

Para este ano, quais são os planos? Tem coisa nova vindo por aí? 

Estou me preparando para os primeiros shows do ano com uma galera da pesada. Ritual Sonoro, som autoral, som híbrido; Já estou organizando também a próxima gravação acompanhada por clipe.

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