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Além do Quadradinho
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Colorido e multifacetado, Danilo Timm lança “NiLØ”, seu primeiro disco solo

Artista brasiliense espalha arte pela Alemanha há quase dez anos

Thaty Nardelli

24/04/2023 15h36

Foto: Cristóbal Rey/Divulgação

Danilo Timm começou a carreira em Brasília. Com apenas 12 anos de idade, já estava fazendo teatro amador, e com 18, passou a dar aulas de canto. Depois disso, resolveu se mudar para São Paulo e, em seguida, para o Rio de Janeiro.

Ganhou cada vez mais destaque no teatro musical, estando em produções muito comentadas e premiadas, como “Elis – O Musical”, “Xanadu” e “Hair”. Em 2014, o artista resolveu mudar tudo. Mudou-se para Berlim, na Alemanha, guiado por um relacionamento e uma paixão instantânea pela cidade.

Lá, criou o grupo Aquafaba ao lado do chileno Cristóbal Rey, fundou e dirige o coletivo Heart Chor e agora segue carreira solo adotando seu nome de nascimento.

A Além do Quadradinho desta semana apresenta todas as cores de Danilo Timm:

Você transitou em diversos estilos durante toda sua carreira. Como isso interferiu em “NiLØ”?

“NiLØ” acabou virando a mistura de diversos momentos da minha vida em um álbum, e isso se reflete não só nas histórias de cada canção, como também nos estilos musicais que passam por esse trabalho. Tem um pouco de drama, porque eu vim do teatro musical, tem jazz, que é o que eu cresci ouvindo junto com MPB, tem a vinda para Berlim e a paixão por música eletrônica, e até uma música só com piano e voz. Eu quis realmente um disco que celebrasse a minha diversidade.

Até o nome do álbum já traz um pouco de toda transformação e transmutação que viveu ao longo dos anos… 

NiLØ foi escolhido como nome por ser fluido e ter a ver com a minha descoberta de identidade queer. Não me caibo em um só gênero e também não quero caber em um só estilo musical. E quero inspirar que se pense mais fora do binário – isso pode-se levar pra vários âmbitos. Todos temos muito mais além do que a tristeza ou alegria, bondade ou maldade, dor ou prazer. Agora estou em um lugar de autoconhecimento em que tento abraçar minhas emoções, legitimá-las e transformá-las em canções, imagens e histórias. Algumas músicas eu tinha composto já em 2012, mas não estava com maturidade suficiente para realmente colocá-las no mundo. Agora, eu me sinto pronte depois de quase nove anos morando na Alemanha.

Ao mesmo tempo, “NiLØ” também traz vários estilos de sons musicais, como samba e funk, misturados à sua própria personalidade. Qual estilo que mais te tocou no decorrer destes anos para chegar a sua obra final?

Eu adoro música pop e independente, estou sempre escutando lançamentos de artistas que vim seguindo ao longo dos anos. Também adoro indicações de amigos e uma boa sorte de algoritmo. Se eu pensar em um estilo, eu diria que adoro artistas que misturam sons acústicos e eletrônicos de forma criativa e interessante. Eu adoro canções melódicas que não sejam óbvias e que brinquem com ritmos além do 4/4. Claro que adoro uma boa canção de amor com bom texto e bem cantada. Ou seja, é difícil de novo definir em um estilo.

Como viver em um país com cultura e costumes diferentes e contribuiu com sua carreira?

Eu diria que a vinda pra cá foi o grande catalisador da minha transformação e descoberta. Isso está diretamente ligado ao processo do álbum, ao teor das canções e à produção musical. Eu só gravei o álbum porque ganhei um edital daqui que me possibilitou a fazer a produção, vídeos e agora também o lançamento do disco completo. Por isso, tenho muito a agradecer aos privilégios e possibilidades de morar aqui na Alemanha.

Eu tenho uma música que celebra a vinda pra cá de um jeito bem divertido que é a ‘Saudade Auf Deutsch’. Ela é um samba/schlager (estilo musical bem popular alemão) e é sobre alguém que acaba de se mudar para Alemanha do Brasil e que pergunta com um alemão bem básico “como se diz saudade em alemão?”, mas cheia de humor e até um pouco sarcástica. A música é bem uma intercessão das culturas pra mim.

De forma geral, a personalidade alemã é mais fechada e bem menos afetuosa do que a brasileira. Mas também se respeita muito o espaço individual aqui, e acabou que tudo isso se somou no meu processo de me abrir e ter coragem de ser quem sou e de me celebrar, e de florir e amar a minha brasilidade entendendo que as diferenças podem ser lindas. 

Alguma canção te marcou mais na construção do álbum? 

“Não Tem Mistério” é uma faixa que me surpreendeu, pois originalmente a música era bem diferente. A demo era bem minimalista só com violão e vozes e mais meditativa, e a música nasceu da necessidade da conexão natural que se tem com quem se ama, e de se comunicar o que se sente e a nossa verdade. Às vezes, estamos tão fundo nos próprios problemas que acabamos não percebendo que tem pessoas ao nosso redor com o poder de nos ajudar e de nos dar suporte. A produção acabou virando meio electro-pop e acho que mostra uma direção que me agrada e sintetiza o que eu queria de referências para esse trabalho. Sinto que tem leveza e densidade, e eu adoro esse paradoxo.

E como foi sua infância na capital?

Eu era uma criança bem hiperativa e tive o privilégio de ter avô militar, que, apesar do sonho não realizado de me ter no Exército, pagou pelas minhas aulas de dança, ginástica olímpica, piano, coral, violão, teatro, inglês… E meus pais também me deram incentivo moral a fazer arte desde cedo. Eu sempre gostei de aparecer e cantar pra todo mundo e comecei a trabalhar com música aos 16 anos de idade. 

Estudei sempre em escolas católicas, o que foi um pouco difícil. Sofri bullying, pois, além de ser uma criança sensível, também tive fases de sobrepeso, principalmente após a retirada das amígdalas, que resultou em eternas inflamações nos ouvidos e à perda de apetite, que veio com tudo e nunca mais se foi.

A minha família era bem urbana nos moldes brasilienses, tínhamos churrasco no clube ou almoço nos avós aos domingos e muito passeio no shopping center, cinema… Eu era uma criança bem independente e tentava fazer o máximo de coisas possíveis, brincando debaixo dos blocos de onde morava. Ah, também nos mudávamos bastante, acho que morei em uns 10 lugares diferentes de Brasília pois minha mãe sempre adorou se mudar. Mas eu fui muito feliz, meus irmãos e eu éramos bem próximos e éramos 3 em um quarto por muitos anos.

Retornar com projeto solo tem um gostinho diferente?

Eu estou muito feliz e com muita saudade. Não visito Brasília há dois anos, e o meu último show aí foi em 2016, quando toquei no Planetário. Já tinham ali duas canções de “NiLØ”, mas elas e eu éramos tão diferentes. Eu tenho curiosidade sobre como vão receber a minha performance e as minhas experiências que quero compartilhar. Também tenho feito os meus últimos shows em inglês e tenho que me concentrar e ensaiar sobre como contar as histórias em português – isso acontece porque aqui falo bastante inglês e alemão, daí rola uma confusão às vezes. Mas nem acredito que estou agora, com 35 anos, lançando o meu primeiro álbum solo e contando sem amarras a minha história.

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