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Mídias e Identidade

Princesa Isabel: “Deus nos proteja dos escravocratas”

Arquivo Geral

25/10/2017 19h16

Divulgação

Uma carta da Princesa Isabel destinada ao Visconde Santa Victória, sócio do Barão de Mauá, está sendo amplamente divulgada nas redes sociais.

Na verdade, o documento foi descoberto há mais tempo. O texto foi encontrado em 2007 em meio ao arquivo do Memorial Visconde de Mauá, RJ. A redação traz informações sobre a concepção da Princesa quanto a reparar os escravizados que haviam sido libertados em 13 de maio, de 1888.

Na carta, a princesa se diz informada pelo seu “papai” da doação de uma verba para indenizar os negros recém-libertos. “Com os fundos doados teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos”.

E prossegue a princesa, “Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil”, reflete.

Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 1970, o legado histórico de Princesa Isabel vem sendo contestado, sobretudo o símbolo de “Redentora da Raça Negra”, em prol de uma valorização da trajetória de Zumbi dos Palmares.

O Movimento Social Negro optou por legar a imagem da Princesa Isabel um ostracismo e uma contestação, uma vez que a abolição não se seguiram políticas reparatórias de inserção dos ex-cativos no campo social e econômico.

O conteúdo da carta revela uma monarca com visão progressista e comprometida com essa visão de inserção dos negros na sociedade. Há também uma menção sobre uma concepção feminista da princesa, o que se mostra arrojado para a época.

A fonte do documento é o Memorial Visconde de Mauá RJ e Museu Imperial de Petrópolis RJ. Revista Nossa História, nº 31.

O culto à Princesa Isabel como "Redentora da Raça Negra" foi comum no século 19 e nas primeiras décadas do século 20.

O culto à Princesa Isabel como “Redentora da Raça Negra” foi comum no século 19 e nas primeiras décadas do século 20.


“11 de agosto de 1889 – Paço Isabel
Corte midi

Caro Senhor Visconde de Santa Victória*

Fui informada por papai que me colocou a par da intenção e do envio dos fundos de seu Banco em forma de doação como indenização aos ex-escravos libertos em 13 de Maio do ano passado, e o sigilo que o Senhor pediu ao presidente do gabinete para não provocar maior reação violenta dos escravocratas.

Deus nos proteja dos escravocratas e os militares saibam deste nosso negócio, pois seria o fim do atual governo e mesmo do Império e da Casa de Bragança no Brasil.

Nosso amigo Nabuco, além dos Srs. Rebouças, Patrocínio e Dantas, poderem dar auxílio a partir do dia 20 de Novembro quando as Câmaras se reunirem para a posse da nova Legislatura. Com o apoio dos novos deputados e os amigos fiéis de papai no Senado será possível realizar as mudanças que sonho para o nosso Brasil!

Com os fundos doados pelo Senhor teremos oportunidade de colocar estes ex-escravos, agora livres, em terras suas próprias trabalhando na agricultura e na pecuária e delas tirando seus próprios proventos, realizando uma grande e verdadeira reforma agrária a quem é de direito.

Fiquei mais sentida ao saber por papai que esta doação significou mais de 2/3 da venda dos seus bens, o que demonstra o amor devotado do Senhor pelo nosso Brasil. Deus proteja o Senhor e todo a sua família para sempre!

Foi comovente a queda do Banco Mauá em 1878 e a forma honrada e proba, porém infeliz, que o Senhor e seu tão estimado sócio, o grande e mui querido Visconde de Mauá aceitaram a derrocada, segundo papai tecida pelos maldosos ingleses de forma desonesta e absolutamente corrupta!

A queda do Sr. Mauá significou uma grande derrota para o nosso Brasil!

Mas não fiquemos mais no passado, pois o futuro nos será promissor, se os republicanos e escravocratas nos permitirem sonhar e realizar mais um pouco.

Pois as mudanças que tenho em mente, como o senhor já sabe, vão além da liberação dos cativos e que seus sustentos sejam realizados de forma honrosa.

Quero agora me dedicar a libertar as mulheres dos grilhões do cativeiro domestico, e isto será possível através do Sufrágio Feminino!

Se a mulher pode reinar também pode votar!

Agradeço vossa ajuda de todo meu coração e que Deus o abençoe!

Mando minhas saudações a Madame la Vicomtesse de Santa Vitória e toda a família.

Muito de coração
ISABEL”

*Visconde de Santa Victoria era o braço direito de Mauá.

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