{"id":1863220,"date":"2021-03-15T14:17:29","date_gmt":"2021-03-15T17:17:29","guid":{"rendered":"https:\/\/jornaldebrasilia.com.br\/?p=1863220"},"modified":"2021-03-15T14:17:32","modified_gmt":"2021-03-15T17:17:32","slug":"governo-trump-pressionou-brasil-a-recusar-vacina-russa-sputnik-v","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/jornaldebrasilia.com.br\/noticias\/mundo\/governo-trump-pressionou-brasil-a-recusar-vacina-russa-sputnik-v\/","title":{"rendered":"Governo Trump pressionou Brasil a recusar vacina russa Sputnik V"},"content":{"rendered":"\n

MARINA DIAS
WASHINGTON, EUA

O governo dos EUA pressionou o Brasil a rejeitar a compra da Sputnik V, vacina russa contra a Covid-19. A informa\u00e7\u00e3o consta de um relat\u00f3rio publicado pelo Departamento de Sa\u00fade e Servi\u00e7os Humanos americano em 17 de janeiro, tr\u00eas dias antes da posse de Joe Biden.

O documento \u00e9 um balan\u00e7o anual sobre as atividades do departamento em 2020, ainda sob o governo de Donald Trump. Na p\u00e1gina 48, assinada pelo ent\u00e3o secret\u00e1rio de Sa\u00fade Alex Azar, h\u00e1 um trecho que diz que os EUA usaram rela\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas para dificultar as negocia\u00e7\u00f5es de pa\u00edses como a R\u00fassia, classificados como “mal-intencionados”, na comercializa\u00e7\u00e3o dos imunizantes.

“Os exemplos incluem o uso do escrit\u00f3rio do Adido de Sa\u00fade do OGA [Escrit\u00f3rio de Assuntos Globais do Departamento de Sa\u00fade dos EUA, na sigla em ingl\u00eas] para persuadir o Brasil a rejeitar a vacina russa contra a Covid-19”, afirma o texto divulgado pelo governo americano.

Segundo o relat\u00f3rio, as rela\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas foram utilizadas para combater o que o departamento chama de “influ\u00eancias malignas nas Am\u00e9ricas”, vindas de pa\u00edses como Cuba, Venezuela e R\u00fassia \u2013constantes alvos da ret\u00f3rica e pol\u00edtica de Trump durante todo seu governo.

“O OGA usou rela\u00e7\u00f5es diplom\u00e1ticas nas Am\u00e9ricas para mitigar os esfor\u00e7os de na\u00e7\u00f5es como Cuba, Venezuela e R\u00fassia, que est\u00e3o trabalhando para aumentar suas influ\u00eancias na regi\u00e3o em detrimento da seguran\u00e7a e prote\u00e7\u00e3o dos EUA. O OGA coordenou esfor\u00e7os com outras ag\u00eancias governamentais dos EUA para fortalecer os la\u00e7os diplom\u00e1ticos e oferecer servi\u00e7os t\u00e9cnicos e assist\u00eancia humanit\u00e1ria para dissuadir os pa\u00edses da regi\u00e3o de aceitar ajuda desses estados mal-intencionados.”

Na manh\u00e3 desta segunda-feira (15), o perfil oficial da Sputnik V no Twitter chamou aten\u00e7\u00e3o para o relat\u00f3rio e fez cr\u00edticas \u00e0 atitude americana, dizendo que os pa\u00edses devem trabalhar juntos “para salvar vidas.” “Os esfor\u00e7os para minar as vacinas s\u00e3o anti\u00e9ticos e est\u00e3o custando vidas”, diz a postagem.

Diante da escassez de vacinas no Brasil devido \u00e0 inefici\u00eancia do governo Jair Bolsonaro, na semana passada os governadores do Nordeste tomaram a iniciativa de negociar por conta pr\u00f3pria e assinar um contrato com o Fundo Russo de Investimento Direto para a compra de 37 milh\u00f5es de doses da Sputnik V, que devem chegar ao Brasil entre abril e julho.

Um dia ap\u00f3s a movimenta\u00e7\u00e3o dos governadores, o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade do Brasil assinou um contrato para a compra de 10 milh\u00f5es de doses da Sputnik V -que ainda n\u00e3o tem aval da Anvisa para uso emergencial.

A Sputnik V teve efic\u00e1cia de 91,6% contra a Covid-19, segundo resultados preliminares publicados na “The Lancet”, uma das mais prestigiosas revistas cient\u00edficas do mundo.

A vacina foi aprovada na R\u00fassia em agosto de 2020 e cerca de 50 pa\u00edses j\u00e1 autorizaram o uso do imunizante \u2013o que n\u00e3o \u00e9 o caso dos EUA, que liberaram as vacinas da Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson.

A geopol\u00edtica da vacina acirrou a guerra entre EUA e outras pot\u00eancias, como China e R\u00fassia, durante a pandemia. Trump acalorou as disputas, que n\u00e3o arrefeceram sob Biden.

Na semana passada, o governo do democrata sofreu press\u00e3o para doar a outros pa\u00edses, inclusive ao Brasil, milh\u00f5es de doses de vacina da AstraZeneca que est\u00e3o paradas em dep\u00f3sitos americanos e ainda n\u00e3o receberam autoriza\u00e7\u00e3o para uso da FDA (ag\u00eancia reguladora dos EUA, equivalente \u00e0 Anvisa).

A equipe do presidente, por\u00e9m, afirmou que n\u00e3o compartilharia o excedente com outros pa\u00edses enquanto a situa\u00e7\u00e3o nos EUA n\u00e3o fosse resolvida em termos de imuniza\u00e7\u00e3o. O pa\u00eds tem tido um salto em termos de vacina\u00e7\u00e3o, com recorde de mais de 4 milh\u00f5es de pessoas imunizadas em um \u00fanico dia, mas a chamada imunidade de rebanho s\u00f3 deve ser atingida entre os americanos no meio do ano.

Biden, por sua vez, anunciou uma parceria com Austr\u00e1lia, Jap\u00e3o e \u00cdndia para financiar 1 bilh\u00e3o de doses de vacina para o Sudeste Asi\u00e1tico, na tentativa de conter a China, e tamb\u00e9m dispersar as aten\u00e7\u00f5es sobre a recusa dos EUA em compartilhar suas doses de vacinas excedentes.

As informa\u00e7\u00f5es s\u00e3o da FolhaPress<\/p>