Zootopia 2 estreia nesta quinta-feira (27), retornando à cidade onde cada esquina esconde uma metáfora, e faz isso com a confiança de quem sabe que o tempo só fortaleceu o impacto do primeiro filme. Quase uma década depois, a continuação surge como uma reafirmação de que ainda há espaço para narrativas que conciliam humor, ritmo acelerado e comentários sociais inteligentes sem perder de vista o público infantil. O resultado é uma aventura mais vibrante e mais consciente do próprio legado.
Logo nos minutos iniciais, o longa deixa claro que nada ali se passou além de alguns dias para Judy Hopps e Nick Wilde. A dupla retorna ao trabalho como se tivesse apenas trocado de turno, agora encarregada de um novo caso que envolve velhas alianças políticas, segredos da fundação da cidade e o surgimento de espécies pouco exploradas no primeiro filme. A sensação é de reencontro, mas também de expansão, como se Zootopia mostrasse aos poucos que sempre guardou territórios inéditos atrás de cada distrito.
O salto técnico impressiona, principalmente nas sequências em que água, luz e textura transformam simples ações em pequenos espetáculos. A movimentação ganha velocidade, as perseguições se tornam quase coreografias e a cidade pulsa em um ritmo que combina com a ambição da narrativa. É uma continuação que não teme ser maior e mais intensa, e que utiliza sua tecnologia a serviço da história em vez de se limitar a exibi-la.
Mesmo com a grandiosidade visual, o coração do filme permanece onde deveria estar. Judy e Nick continuam uma das duplas mais carismáticas da animação recente e encontram novos companheiros que adicionam temperos inesperados à trama. Comediantes, excêntricos e improváveis, esses coadjuvantes ampliam a paleta emocional da história e permitem que a amizade entre os protagonistas seja tensionada sem perder o afeto que conquista o público.
A discussão sobre diferenças, tão central no primeiro filme, ressurge com maturidade. Predadores e presas, mamíferos e répteis, criaturas temidas e outras subestimadas convivem em uma engrenagem social que tenta se equilibrar em meio a preconceitos sutis e interesses políticos. O filme não ergue bandeiras, mas também não evita as conversas importantes. Ele as incorpora ao cotidiano dos personagens com naturalidade, como se a própria cidade se encarregasse de ensinar.
Há uma leveza no texto que remete à fase clássica da Disney. Crianças encontram humor direto e empatia fácil, enquanto adultos se divertem com referências ao cinema, à cultura pop e até à geopolítica. Tudo flui com o cuidado de quem entende que uma boa história pode funcionar em diferentes camadas sem soar pesada ou didática. É um equilíbrio raro e que a franquia domina com surpreendente segurança.
A chegada de novos personagens, como a víbora gentil e a castor conspiracionista, injeta energia no desenvolvimento final e abre espaço para temas que já estavam presentes no original, como a ideia de aparências que enganam e medos que moldam comportamentos. Mesmo quando a trama se torna previsível, há um espaço generoso para carisma e para a construção de figuras que poderiam facilmente estrelar suas próprias aventuras.
Conclusão
No fim, Zootopia 2 entrega aquilo que raras continuações conseguem: uma expansão autêntica do universo, um aprofundamento emocional honesto e um espetáculo visual que não atropela a sensibilidade narrativa. É uma animação que diverte, provoca e mostra que o cinema infantil pode ser politizado sem perder a ternura, e que amizades improváveis ainda são uma das forças mais transformadoras que a ficção pode oferecer.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Jared Bush e Byron Howard;
Roteiro: Jared Bush;
Elenco: Ginnifer Goodwin, Jason Bateman, Ke Huy Quan, Idris Elba, Shakira;
Gênero: Aventura, Comédia, Animação;
Duração: 108 minutos;
Distribuição: Walt Disney Studios;
Classificação indicativa: Livre;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z
