O sucesso do mexicano Carlos Prieto na interpretação de três das seis suítes solo para violoncelo de Bach, com seis movimentos cada, no moderno Centro das Artes Cênicas de Pequim, finalizaram com chave de ouro o segundo de seus concertos na capital chinesa antes de viajar nesta segunda-feira para o Cantão.
“Estou muito feliz com estes concertos em um maravilhoso centro e quatro anos depois da minha última visita à China”, disse à Agência Efe após uma apresentação recente do solo para violoncelo de Sergei Prokofiev.
Grande incentivador da composição para violoncelo e muito conhecido na Chima por seus concertos em 2007, como o músico Yo-yo Ma, a quem lembrou, trabalhou durante mais de sete horas diárias em suas aulas no conservatório de Pequim e com os pianistas Li Xiang e o violocelista Zhu Mu, para conseguir a máxima harmonia.
Com obras de Dimitri Shostakovich, Samuel Zyman (suíte para dois violoncelos), mexicano como ele e Joaquín Gutierrez Heras, Astor Piazzola, argentino, e Mario Nobre, brasileiro, recebeu calorosos aplausos do público chinês.
Em Pequim, para onde chegou a partir de Xangai, Pietro também apresentou “a biografia” do instrumento que o acompanha (Piatti ou Miss Chelo Prieto), há 32 anos e cuja história remonta três séculos.
Com sete livros escritos e um longo trabalho de difusão da música ibero-americana, Prieto, contou em livraria central de Pequim como com a ajuda de sua mulher, conseguiu levantar a vida do prezado instrumento em “Las aventuras de un chelo”.
Diante de um público entusiasmado por sua narração e humor, Prieto confessou que após anos sofrendo para que seu instrumento (construído em 1720 por Antonio Stradivari) não fosse danificado nas viagens, decidiu com sua esposa dar um nome e comprar um bilhete para que este ocupasse um assento.
“E que como ‘Chelo’ é um nome em espanhol, além de viajar com bilhete, o meu violoncelo ainda acumula milhas”, disse entre aplausos, para acrescentar que após 10 anos de pesquisas em arquivos e catedrais sobre a vida do instrumento, encontrou tanto material que decidiu contar essa história.
Seu chelo, “nasceu” em Cremona (Itália) e em 1760 chegou a Cádiz, importante porto que recebia muitos músicos italianos, e onde reapareceu na Sexta-Feira Santa de 1787 na “premiere” mundial de …”As Sete últimas palavras” de Haydn, o que colocou Cádiz no nível de Viena, Praga e Londres graças a um Santa Maria.
“Mas, qual não seria minha surpresa ao descobrir que José Sáenz de Santa María nasceu em Veracruz (México) e viajou para Cádiz com seu pai, o aristocrata comerciante Pedro Sáenz de Santa María, após a morte de sua mãe. Que coincidência que o ‘chelo’ chegasse dois séculos depois ao México comigo”, afirmou.
O “biografado” chelo Stradivarius passou por muitas mãos em três séculos e “viveu” períodos trágicos como na Alemanha nazista, da qual escapou pelo litoral da Suíça com um músico ciclista, segundo conta no livro que contém uma pesquisa sobre o instrumento que passou também pela região ibero-americana, Espanha e Portugal.
Desde que chegou as suas mãos em 23 de julho de 1979, o que pode provar (com uma viagem de 100 concertos) este instrumento nunca dormiu uma noite longe dele, como assim desejava seu antigo proprietário Rudolf Serkin, diretor artístico da Malboro School (Nova York).
O violoncelista tocou nos principais palcos da América Latina e do mundo e recebeu inúmeros prêmios.
No final de 2009 recebeu uma homenagem por sua longa trajetória em Oviedo (Espanha), origem de sua família e onde seus pais se conheceram, fundadores com seus progenitores do Quarteto Prieto, que perdura até hoje com seu irmão e seus dois filhos mais velhos.
Gabriel García Márquez escreveu certa vez: “eu não havia despertado para a música até ouvir em uma noite a alma do ‘chelo’ nas mãos de Carlos Prieto”.
Graduado em Economia e Engenharia pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), estudou muito, disse, em sua vocação musical e aconselhou aos estudantes que só o façam se têm uma vocação profunda e real.
Sua primeira visita à China foi em 1979, terminada a Revolução Cultural, e em suas excursões pôde até hoje comprovar seu desenvolvimento, mas o milagre chinês também existe em sua música, acrescentou.
O intérprete mexicano lembrou que a música ocidental não chegou à China antes de 1601. Naquele ano, entrou com o jesuíta Matteo Ricci. A “Nona Sinfonia” de Beethoven só foi interpretada em 1936, em Xangai.
As notas sobre sua história, política, geografia, religiões, línguas e música, ficaram refletidas em seu livro “Por la milenaria China. Historias, vivencias y comentarios”.