Freddy Charlson
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Vik Muniz está feliz. Sorrindo à toa. Para isso, não lhe faltam motivos. Vamos a eles, pois.
Motivo número 1: Ele soube que cópias piratas de seu filme, Lixo Extraordinário, que concorreu (e perdeu) na categoria Melhor Documentário no Oscar deste ano, já circulam nas imediações da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e em outros ambientes de caráter duvidoso. “Isso não me incomoda, ajuda na distribuição”, confessa ao Jornal de Brasília. Motivo número 2: os muitos projetos que tomam conta de sua rotina. Tem, por exemplo, a divulgação do próprio filme em vários cantos do planeta (“A gente demora quatro anos para fazer um filme e mais quatro para divulgá-lo”, brinca). E tem, entre outros, trabalho com o MIT (Massachussets Institute of Technology), em Boston (EUA), para fazer microscópicos castelos do Vale do Loire em grãos de areia (“Eu não faço nada, quem faz é a máquina.”).
E, claro, há, para nós, brasilienses, o créme de lá créme, o motivo número 3: a exposição Vik Muniz 3D, mostra individual do artista plástico brasileiro mundialmente reconhecido pelas suas experimentações com novas mídias e materiais. A mostra entra em cartaz hoje, no Espaço ECCO, e pode ser vista até o dia 14 de agosto. A ideia é revelar segmentos marcantes da trajetória de Vik Muniz, como as exposições Relicário e Verso, além do documentário Lixo extraordinário. Todos os trabalhos, aliás, tratam de percepção, regimes visuais e autenticidade.
A exposição tem curadoria de Ligia Canongia, co-curadoria de Karla Osório Netto e traz mais de 60 obras produzidas desde o final da década de 1980, quando a série foi intitulada Relíquias. Também fazem parte projetos mais recentes e obras inéditas. A Relicário apresenta fotografias de flores industriais captadas com rigor científico e um crânio com nariz de palhaço, assim como outros objetos tirados do senso comum. Já a produção mais recente do artista denominada Verso tem duas vertentes. Em uma delas, há reproduções de versos de fotografias ilustres da história da imprensa. E, na sequência, ele revela o lado oculto de quadros famosos por meio de registros aos quais só galeristas, curadores e críticos tiveram acesso.
Lixo Extraordinário
Por fim, os visitantes da exposição terão à disposição uma sala de vídeo para a exibição do documentário Lixo Extraordinário. A produção acompanha o trabalho de Vik Muniz e o seu interesse em relatar a trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo. Está ali, na película, o dia a dia de uma comunidade de catadores de lixo, no Rio de Janeiro, até ser transformado em arte pelas mãos de Vik. O filme foi produzido em 2009 com direção conjunta de João Jardim, da cineasta Karen Harley e da documentarista inglesa Lucy Walker.
“Tive que revisitar meu trabalho original, mas fui pegando gosto”, conta Vik Muniz, que começou a carreira com a escultura até chegar à fotografia. “Na escultura tem humor, ilusão, algo que você reconhece com o tempo. As obras que ficam são as que continuam informando, questionando você a entender o que o levou o artista a produzir algo.”
Objetos de consumo
Como pode-se perceber, o artista não para. Multifacetado, Vik Muniz tenciona fazer algo como Lixo, só que com objetos de consumo sonhados pela classe média. Tipo a geladeira de duas portas e o aparelho de TV de LED, além do espremedor de laranja moderninho. “Vou desenhar mandalas com esses objetos. Não é uma crítica ao consumo. Não critico nada. A arte não tem que ser social, não deve ter uma missão. No caso de Lixo, foi consequência”, fala o artista que, em 2011, completa 50 anos. Na agenda de Vik Muniz, uma data comum, sem direito a festas, homenagens e coisa e tal.
Vik quer mesmo, jura, é trabalhar, criar, se meter em qualquer (bom) projeto. Ele está até pensando em desenhar com aço derretido. Azar o dele, aliás, que não há tecnologia para tudo o que ele – que é viciado em programas de calouros e em imagens que se parecem com outras, como variados formatos de nuvens – quer fazer. E se há, provavelmente já foi feito. A questão é que Vik Muniz não perde oportunidades nessa vida de Deus. Algo que, certa vez, aconteceu com um artesão em Belo Horizonte. “Ele escreveu meu nome num grão de arroz. Perguntei se queria trabalhar comigo. Ele me deu um cartão com o telefone. Liguei. O telefone era antigo, havia caducado”, lembra Vik. O artesão dançou.
Vik Muniz 3D, de Vik Muniz – Exposição no Espaço ECCO (Setor Comercial Norte), com visitação de hoje a 14 de agosto, de terça a domingo (9h às 19h). Agendamento nos telefones 3327-2027 ramais 20 ou 31; 9964-2103 e 7816-7224. Há, ainda, o 31º Encontro Técnico Arte, Reciclagem e Meio Ambiente. Inscrições nos e-mails recepcao@eccobrasilia.com.br e educativo@eccobrasilia.com.br ou pelos telefones acima. Entrada franca. Classificação livre.