Andréia Castro
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Estreia hoje nos cinemas Onde a Coruja Dorme, documentário com um expressivo material de arquivo, com entrevistas de Bezerra da Silva e seu grupo de compositores. O filme, que teve como ponto de partida o curta homônimo, produzido em 2001 pelos diretores Márcia Derraik e Simplicio Neto, conta a história inédita por trás das composições do eterno malandro e de seus discípulos e suas inspirações.
Com depoimentos valiosos de Bezerra e momentos impagáveis em que a personalidade marcante do sambista aflora e toma vida própria, o filme consegue resgatar a persona do símbolo do bom malandro.
Bezerra entendia como ninguém a língua dos moradores dos morros cariocas e sabia que não havia ninguém melhor do que o próprio povo para traduzir a difícil realidade das favelas. Costurado por entrevistas de, até então, anônimos compositores, Onde a Coruja Dorme mostra o dia a dia desses artistas que vão levando suas vidas de trabalhadores comuns tentando sobreviver ao mesmo tempo em que fazem sucesso nas letras cantadas por Bezerra. “O autor do morro diz cantando aquilo que queria dizer falando – e eu sou o porta-voz”, resume o cantor em um dos trechos.
COMPOSITORES
No filme, nos deparamos com personagens singulares, como o bombeiro Pedro Butina, que trabalha com remoção de cadáveres; o hilário Tião Miranda, que se divide entre a paixão pelo samba e o ofício da refrigeração; além dos amigos de toda a vida de Bezerra, 1000tinho, Adezonilton, entre outros. O documentário, aliás, é repleto de interpretações sinceras e despretensiosas dos próprios autores em mesas de bar. A malandragem nunca foi tão simpática.