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Viva

Tramas circulares

Arquivo Geral

13/08/2012 15h12

Foto: Renzo Gostoli/ Autral fotoEstreia nos cinemas nesta sexta-feira o novo longa-metragem de Fernando Meirelles, o drama 360. “Gostei ou me identifiquei com algo que está em quase todos os personagens. São pessoas boas que tentam agir da melhor maneira. Nem sempre conseguem. Como todos, lutam contra seus desejos e pulsões. Às vezes ganham, às vezes perdem”, diz o cineasta brasileiro. O filme tem circulado em festivais (Gramado e Toronto) e, enquanto isso, o diretor já se prepara para um novo projeto: a pré-produção do inglês Nemesis, que deve rodar em novembro. Com roteiro de Braulio Mantovani (Cidade de Deus e Tropa de Elite), trata-se da cinebiografia do armador grego Aristóteles Onassis. “É a história do ódio entre Onassis, o homem mais rico do mundo nos anos 60, e Bobby Kennedy. Explosiva cheia de revelações e escândalos”, adianta Meirelles, que para tocar Nemesis adiou as filmagens do nacional Grande Sertão: Veredas. Sobre entusiasmo, natureza humana e, claro, o novo lançamento, Meirelles conversou com a reportagem:

 

 
Você se interessa pelos tipos e pessoas, concorda? O que mais o encanta em 360?

 

Concordo. Gostei muito, por exemplo, de pegar o personagem do Ben Foster, um estuprador de quem ninguém iria gostar, e tentar humanizá-lo. Torço por ele e entendo seu drama. Ele quer ter um trabalho e uma vida normal. Só não consegue domar o furação que tem dentro de si e por isso se sente muito só. Adoro o detalhe dele tocando o pé da menina no telefone ou o braço do cara no aeroporto. Para mim, aquilo não é sobre sexo, é sobre a necessidade desesperada de contato humano. Cada história tem detalhes desse tipo. Foi aí que viajei.

 

Há sempre risco em um filme mosaico, pois pode dar a impressão de não se aprofundar, não?

 

Sim. Se olharmos cada história do filme, ela pode parecer meio leve, pois o filme só funciona mesmo quando tentamos entender as conexões entre as histórias. E neste tema da briga interna e das escolhas, cada escolha afeta não só nossas vidas mas cria também uma corrente de reações que não tem fim. Aliás, foi uma briga para convencer meus produtores que o filme não deveria acabar com a Rachel e o Jude indo embora felizes, mas sim com um novo círculo que começa. Na vida de verdade não tem fim. E me pareceu fazer mais sentido começar uma nova história, sugerindo que a engrenagem não para nunca. Há processos e encontros apenas.

 

 

E há o fator humano, as escolhas que se faz, ou não?

 

Sim. Não há um antagonista. Todos os personagens, inclusive o do Ben Foster, são gente boa tentando acertar, lutando contra seus impulsos e desejos que os desviam do que planejaram. Situação muito humana. Assim que li o roteiro me lembrei de O Mal-Estar na Civilização, do Freud, que li ainda na faculdade. A ideia de que precisamos sempre reprimir nossos impulsos para poder criar cultura, família, sociedade ou civilização sempre me acompanhou e me incomodou. Depois de 82 anos desde que o texto foi publicado, ainda não superamos esse conflito. É como se a nossa felicidade – ou nossa plena realização – não fosse compatível com o mundo civilizado. Difícil escolha entre o racional e a ordem e o lado primitivo e a paixão. É muito comum esse conflito em filmes em que a mulher fica dividida entre o marido que lhe dá segurança e estabilidade e o que a faz subir pelas paredes. Como nem todo mundo é a Dona Flor, que pode ter os dois, essa é uma escolha sempre difícil.

 

 

Você se considera observador da natureza humana? É o principal material de seus filmes?

 

Fiz filmes em que uso personagens para falar do mundo onde estão ou no qual estão envolvidos. Este é o primeiro no qual o foco são os próprios personagens e não o seu universo. Era exatamente isso que queria fazer desta vez. Não desejava um novo filme sobre algum fato ou ideia, mas sobre pessoas. Bem mais simples. Se é que pessoas possam ser simples. Mas, sim, sou um observador, creio. Em roda de amigos ou festas, em geral escuto 95 frases e falo 5. Sem querer, fico acompanhando as conversas como se fosse uma peça de teatro. Acho que essa natureza introspectiva faz a gente virar um observador.

 

 

Foi ideia sua colocar os brasileiros? Quanto colaborou no roteiro?

 

360 tem pouca relação com Ronda (peça de Arthur Schnitzler, de 1987, que inspirou o longa), a não ser a estrutura meio circular e o fato de ambas as histórias começarem e terminarem em Viena com uma prostituta. Ao receber o roteiro, já havia os brasileiros, da forma como estão no filme. Este é mesmo um filme do Morgan. Minha colaboração no roteiro foi encontrar algumas transições interessantes de uma história para a outra.

 

 

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