Entre sexta-feira (2) e domingo (22), o Gama recebe a terceira temporada do espetáculo “Sangue no Olho”, adaptação do romance homônimo da escritora chilena Lina Meruane, uma das vozes mais influentes da literatura latino-americana contemporânea.
Com direção e adaptação de Delson Antunes, a peça mergulha na experiência física e emocional de Lina, uma escritora que vê sua visão se esvair – literalmente – enquanto lida com crises pessoais e familiares. A trama dramatiza o momento em que Lina, radicada em Nova York, sofre uma hemorragia ocular durante uma festa. Esse evento, causado por uma doença misteriosa que a acompanha desde a juventude, a leva de volta ao Chile, onde, enquanto aguarda exames e diagnósticos, ela confronta suas raízes e vínculos familiares muitas vezes frágeis e conflituosos.
“A montagem tem uma grande capacidade de envolver e dialogar com a plateia, provocando uma reflexão sobre nossas escolhas e a superação dos obstáculos”, afirma o diretor Delson Antunes. Para ele, a força da protagonista é o motor da peça – uma mulher que não se rende à fragilidade, mesmo quando a perda da visão parece iminente.

A força do olhar feminino
No palco, Letícia Abadia vive Lina. A atriz, que também idealizou o projeto, se sente profundamente conectada ao discurso da personagem. Para ela, a peça impacta o público não apenas pelo tema da doença, mas pela maneira como Lina rompe com as expectativas sociais impostas às mulheres em situações de vulnerabilidade.
“Essas quebras de paradigma são fundamentais, porque ajudam a refletir sobre as relações humanas, sobre a vida como um todo, e sobre como encaramos nossas angústias e desafios”, explica Letícia. Ela destaca que, ao se recusar a se vitimizar, Lina desloca o espectador para um território menos óbvio da narrativa feminina, onde o corpo adoecido também é um espaço de poder e autonomia.
Essa abordagem sensível vem de um processo contínuo de pesquisa. “No ano passado, fizemos uma residência artística em Portugal, com atrizes de outros países, explorando o corpo feminino em cena e como abordar esse debate sem estereótipos ou clichês. A ideia é discutir esses temas de maneira sutil, para que o público se questione depois”, comenta Letícia.
Emoção, identificação e trocas com o público
Desde sua estreia online em 2021, durante a pandemia de Covid-19, “Sangue no Olho” tem tocado plateias diversas. “Algumas pessoas se emocionam muito por terem vivenciado experiências parecidas. Outras se conectam com o aspecto dos relacionamentos familiares e afetivos. São dois olhares: o da superação da doença e o das relações familiares, que muitas vezes envolvem manipulação dos sentimentos”, conta Letícia.
Ela acredita que o teatro vai além do entretenimento, cumprindo um papel transformador. “O papel do artista é sensibilizar o público. Fazer com que ele sinta e entenda como a arte pode, de alguma forma, modificar a vida das pessoas. Esperamos que esse olhar sensível impacte a vida cotidiana, independente de ser ou não uma pessoa envolvida com arte.”

Formação e acesso
A temporada no Gama também incluirá uma Oficina de Interpretação Teatral gratuita, como parte de uma contrapartida artística com apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). A atividade será ministrada pelas atrizes Anna França e Letícia Abadia, do coletivo Mar Entre Elas. A oficina, voltada para jovens e adultos com ou sem experiência, buscará investigar a presença cênica a partir das vivências pessoais dos participantes, explorando o corpo como meio narrativo.
Equipe artística
O elenco conta com Letícia Abadia, Anna França, Chico Sant’Anna e João Gott. A produção é da Guinada Produções, com vídeo mapping de Leonardo Rodrigues, trilha sonora original de Diogo Cerrado e design gráfico de Karol Kanashiro.
Espetáculo “Sangue no Olho”
Onde: SESC Gama, Distrito Federal
Quando: 20 a 22 de junho às 19h
Entrada gratuita
Oficina Teatral de Interpretação
Quando: 20, 21 e 22 de junho
Onde: SESC Gama
Público-alvo: Jovens e adultos (com ou sem experiência em teatro)
Atividade gratuita
Formulário de inscrição