Um espetáculo que não apenas conta uma história, mas a vivencia em múltiplas camadas sensoriais. Livro da Vida, montagem dirigida por Hugo Casarisi, estreia como o primeiro musical em Libras do Brasil. Unindo vídeo, teatro, música e acessibilidade, a obra presta uma homenagem visceral à trajetória de Jane de Paula, artista multifacetada que marcou sua geração com arte, resistência e uma voz potente na luta por representatividade.
Construída a partir do legado de Jane, e motivada por uma iniciativa do próprio filho da artista, Hugo, a peça busca mais do que narrar a vida de uma mulher negra, ela se propõe a transformá-la em arte viva e acessível. “A motivação veio do próprio filho da Jane, o grande Hugo, que trouxe a ideia de criar um espetáculo totalmente em libras. Percebi que era uma oportunidade única, já que Jane foi uma mulher que abriu caminhos e deixou um legado incrível. Transformar isso em arte parecia a forma mais bonita de honrar a sua memória”, destaca Mariana Siqueira, consultora e diretora de Libras do projeto.

Com um elenco composto exclusivamente por mulheres negras, Livro da Vida não trata esses corpos como tema, mas como sujeitos da narrativa. O palco se torna um espaço de escuta e visibilidade, onde essas vozes historicamente silenciadas assumem o protagonismo de suas próprias histórias.
“Colocar o corpo negro feminino como protagonista e narrador é reconhecer a sua força, o seu lugar de fala e a necessidade de representatividade”, afirma Casarisi. “Num momento como o atual, essa centralidade reafirma respeito, visibilidade e voz na sociedade.”
Além do ineditismo na abordagem, o espetáculo se destaca pela forma como a acessibilidade é tratada. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) não é um recurso extra, mas sim parte fundamental da construção cênica. Todas as cenas foram concebidas visualmente, em sintonia com a sinalização, criando uma linguagem integrada que amplia o alcance artístico da obra.

“Cada elemento foi cuidadosamente pensado para se integrar à narrativa em LIBRAS. O vídeo, o teatro e a música dialogam entre si para criar uma experiência única”, explica o diretor. “É o primeiro projeto nesse formato em Brasília e também o primeiro musical em libras no Brasil.”
O processo de criação foi marcado por desafios e descobertas. A busca por um elenco que pudesse traduzir com autenticidade e sensibilidade a proposta exigiu dedicação. “O processo de escolha do elenco foi desafiador, porque precisávamos de mulheres negras sinalizando em libras”, lembra Casarisi. “No entanto, a empatia, a entrega e o trabalho coletivo transformaram essa jornada em algo muito especial. O elenco construiu não só o espetáculo, mas também uma rede de apoio e partilha.”
Temas como ancestralidade e autoaceitação permeiam toda a encenação, do conteúdo à forma, dos ensaios à recepção do público. A narrativa celebra não apenas a trajetória de Jane, mas também os caminhos que ela abriu para outras mulheres negras.
“A ancestralidade inspira a narrativa e fortalece as artistas em cena. A autoaceitação aparece como um processo coletivo, em que cada mulher se reconhece, se valoriza e transmite isso ao público”, conclui Siqueira.

Espetáculo “Livro da Vida”
Onde: Teatro Sesc Silvio Barbato – SCS
Entrada: Gratuita
19 de setembro (quinta-feira)
15h30 – Sessão com audiodescrição
19h30 – Sessão regular
20 de setembro (sexta-feira)
15h30 – Sessão com audiodescrição
19h30 – Sessão regular
21 de setembro (sábado)
19h30 – Sessão regular