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Teatro e Dança

“Outro Lear” reflete sobre o envelhecimento e o tempo

Dirigido por Roni Sousa e protagonizado por Humberto Pedrancini, espetáculo fica até domingo no Teatro Sesc Silvio Barbato

Alexya Lemos

14/11/2025 5h00

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Foto: Divulgação

Inspirado na tragédia de Shakespeare, Outro Lear é uma investigação sobre o envelhecimento, o poder e a perda. A montagem, dirigida por Roni Sousa, apresenta um rei que enfrenta a ruína e a solidão, revisitando o passado por meio de fragmentos de memória e imagens projetadas. No centro da cena, o corpo do ator Humberto Pedrancini torna-se o próprio signo do tempo. Em cartaz até domingo (16), no Sesc Silvio Barbato, os ingressos já estão à venda.

Sousa explica que o ponto de partida foi a maneira como Shakespeare colocou a velhice no núcleo da experiência humana.“O que me motivou, antes de tudo, foi a admiração pela forma como Shakespeare coloca a velhice, e com ela, a perda de poder, o esgotamento e a sanidade em declínio, no centro da experiência humana”.

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Foto: Divulgação

Teatro e projeção

A encenação estabelece um diálogo direto entre teatro e cinema. Projeções são utilizadas como parte da dramaturgia, criando um espaço híbrido em que o corpo e a imagem se entrelaçam.“Em Outro Lear, a projeção não é um recurso de apoio, mas uma mediadora, um entre-lugar entre teatro e cinema, entre o corpo e a imagem, entre presença física e paisagem visual.”

O diretor buscou um ritmo que permitisse às projeções agir como linguagem, e não como adorno, o que veio com algumas complicações. “O maior desafio foi o tempo: encontrar o ritmo certo para que a projeção não se tornasse apenas cenário, mas expressão artística. Quis que ela tivesse densidade, que dialogasse com o ator, que criasse tensão, que alterasse o espaço.”

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Foto: Divulgação

A presença do corpo maduro

A escolha de Humberto Pedrancini para o papel principal foi intencional para fortalecer o vínculo entre o tema da peça e o corpo em cena. O ator, com mais de quatro décadas de trajetória, encara Lear como um desafio artístico e existencial.“Interpretar o Rei Lear é um privilégio e um desafio. É como mergulhar na essência da tragédia humana, explorando as fraquezas de um homem poderoso que, em sua vulnerabilidade, também vai revelando a sua força.”

Roni explica que a idade do ator traz uma dimensão simbólica ao espetáculo.“Há uma experiência de vida que, mesmo não garantindo ‘melhor atuação’, oferece densidade, memória corporal e um acúmulo de tempo que permite habitar um personagem como Lear com mais verdade.”

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Foto: Divulgação

Para o diretor, a maturidade do intérprete repercute na percepção do público e no ritmo da encenação. “A idade traz pequenas hesitações e reservas que se tornam potência dramática. Em Outro Lear, o corpo do ator não apenas representa o tempo, ele é o tempo.”

Pedrancini considera fundamental discutir o envelhecimento no teatro.“É importante abordar os temas que a peça traz, especialmente a vivência da terceira idade. A pessoa idosa enfrenta, comumente, preconceito e desvalorização. Assim, ‘Outro Lear’ também joga luz sobre esta importante questão e traz à tona a iminência da velhice, algo que todos nós vamos viver.”

Parceria e trajetória

Sousa já havia trabalhado sob direção de Pedrancini em montagens anteriores, e agora os papéis se invertem.“Esta montagem é um desafio duplo como diretor: além de montar Shakespeare, estou dirigindo o Pedrancini, um dos maiores nomes do teatro brasiliense.”

O espetáculo já teve apresentações em Lisboa e Loulé, em Portugal, a convite do Festival Política, um dos mais importantes eventos europeus na área de arte e cidadania. O feito já está rendendo frutos para a produção. “Agora estamos analisando convites e aguardando o resultado de alguns editais. A expectativa é apresentar o espetáculo no próximo ano em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de retornar a Lisboa e levar Outro Lear a Bordeaux e Barcelona, onde já há conversas em andamento.”

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Foto: Divulgação

Sousa vê a peça como uma oportunidade de revisitar a velhice com empatia e profundidade. “Contar essa história é essencial, pois a velhice carrega uma beleza e uma sabedoria que muitas vezes são ignoradas ou até estigmatizadas. Este espetáculo nos permite mergulhar na vida daqueles que, apesar dos desafios do tempo, ainda possuem sonhos, desejos, memórias e uma imensa vontade de viver.”

Ainda, ator e diretor estarão juntos para ministrar a oficina gratuita “Corpo, Voz e Memória: o Ator em Cena” na Casa dos 4, na Asa Norte, dias 18 e 19, terça e quarta-feira. Inscrição através do formulário.

Serviço
Outro Lear
Quando: de 14 a 16 de novembro, sexta e sábado, às 20h; domingo, às 19h
Onde: Teatro Sesc Silvio Barbato (SCS Quadra 2 Bloco C, lote 227, Edifício Presidente Dutra, Asa Sul – DF)
Ingressos pelo site. A sessão do dia 15 de novembro (sábado), será gratuita. 
Duração: 90 minutos

Oficina prática “Corpo, Voz e Memória: o Ator em Cena”
Ministrada por Humberto Pedrancini e Roni Sousa
Quando: 18 e 19 de novembro, terça e quarta, das 14h30 às 17h30
Local: Casa dos 4, na Asa Norte. 
Inscrições pelo link 

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