A trajetória política e humana de Marielle Franco será contada em forma de ópera pela primeira vez no Brasil. As quatro sessões serão entre os dias 25 e 27 deste mês, no Teatro SESC Newton Rossi, em Ceilândia.
A obra “Marielle”, do maestro e compositor Jorge Antunes, propõe uma imersão sensível e crítica na vida da vereadora carioca assassinada em 2018. A entrada é gratuita.
A ópera, que une linguagem operística, eletroacústica e elementos periféricos, foi desenvolvida ao longo de três anos por Antunes, um dos nomes mais relevantes da música de vanguarda brasileira. Segundo ele, trata-se de mais um capítulo em sua série de óperas dedicadas a mulheres históricas esquecidas pela historiografia tradicional.
“Já há alguns anos venho desenvolvendo projeto de compor óperas homenageando mulheres que se destacaram em acontecimentos históricos, e que têm sido relegadas a segundo plano por aqueles que escrevem a História. Os que escrevem a História são, em geral, homens vencedores brancos”, afirma o maestro.
Antes de “Marielle”, Antunes compôs “Olga” (sobre Olga Benario) e “Leopoldina” (sobre a imperatriz do Brasil). Agora, com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF, ele estreia sua terceira grande homenagem operística.
“A vereadora Marielle Franco foi guerreira, lutadora, corajosa, que dedicou sua vida à defesa do povo pobre, da comunidade LGBTQIAPN+ e de grupos sociais que vêm sendo discriminados”, explica Antunes.
“Durante esses últimos três anos, passei a pesquisar a vida e os feitos de Marielle, desde sua adolescência no Complexo da Maré, quando ela cantava funk em eventos culturais.”
Estética periférica e discurso político em cena
Em “Marielle”, a linguagem operística tradicional dialoga com expressões populares e contemporâneas, como o funk, a street-dance, a mímica e o som eletrônico. A encenação também inclui fala teatral, coro misto, canto lírico e cantado-falado, em um tecido musical que busca, segundo o maestro, um discurso contínuo e integrado.
“A ópera é uma obra eclética, em que mesclo linguagens diferentes. Busco, em cada um desses recursos, pontos musicais comuns, de modo a desenvolver o discurso musical progressivamente, sem solução de continuidade”, detalha.
Mais do que uma homenagem, a obra se propõe como ato de resistência e presença na periferia: a estreia ocorre fora do Plano Piloto, em Ceilândia, a região mais populosa do DF.
“Marielle será estreada fora do Plano Piloto, perto daqueles que praticam a cultura alternativa, na periferia, perto dos companheiros das quebradas”, diz Antunes.
“Minha expectativa é de sucesso total porque a comunicação artística, efetiva, é minha preocupação permanente. Não escrevo cartas à posteridade sem esperar respostas. Faço arte para o público de hoje.”
O encerramento das apresentações, no domingo, 27 de julho, terá um simbolismo especial: seria o aniversário de Marielle Franco.
“Se estivesse viva, completaria 46 anos neste domingo”, lembra o compositor.
Ópera “Marielle” – SESC Ceilândia
Quando: 25 a 27 de julho
Quinta (25/7) e sexta (26/7), às 19h
Domingo (27/7), sessões às 16h e 19h
Onde: Teatro SESC Newton Rossi – QNN 27 Área Especial Lote B, Ceilândia Norte, DF
Entrada gratuita | Classificação: livre