Após 20 anos de trajetória como atriz brincante, contadora de histórias e pesquisadora das tradições populares, Luciana Meireles apresenta seu mais novo solo teatral: O Sumiço da Alembrança. A estreia acontece neste sábado e domingo, no Complexo Cultural de Samambaia.
Inspirado nas brincadeiras populares brasileiras, mamulengo, palhaçaria e na pedagogia griô, o espetáculo dialoga com a memória como tecnologia ancestral para manutenção da vida e da identidade. A personagem central, Maria das Alembranças, convida o público a celebrar as raízes indígenas e africanas, refletindo sobre o impacto das tecnologias digitais no imaginário cultural contemporâneo.

Luciana explica que a criação é resultado de uma pesquisa de vida que acompanha sua trajetória. “São 12 anos estudando e praticando essas brincadeiras populares, esse encontro com a memória, a ancestralidade e a encantaria. O espetáculo surge dentro do movimento que vem acontecendo no Brasil de fortalecimento da identidade e da autoestima enquanto povo, para reler e reinterpretar nossa própria história, que até então privilegiava versões de quem venceu a guerra, apagando outras narrativas”, explica.
Sob a direção teatral de Cibele Mateus (SP), especialista em comicidades e culturas populares, o espetáculo se desenvolveu durante um ano de processo criativo intenso. “Um processo que exige transformação interna. Cibele e eu confiamos na intuição e na encantaria como tecnologia de criação. Deu muito trabalho, mas estamos satisfeitas com o resultado”, comenta Luciana.
A montagem destaca ainda o protagonismo feminino, com equipe técnica majoritariamente composta por mulheres, entre cenografia, figurino, iluminação e trilha sonora.
Memória como tecnologia ancestral
O espetáculo também propõe uma reflexão urgente sobre o papel da memória na construção das comunidades e na saúde social. “A memória convoca ao encontro, à presença — algo que as tecnologias digitais têm retirado das pessoas. Ela promove a relação entre gerações, jovens, idosos e crianças, e preserva saberes ancestrais que são uma resposta ao desequilíbrio da sociedade atual.”
Luciana alerta para os desafios das novas gerações, muitas vezes desconectadas de suas raízes, com alto índice de adoecimento psíquico e falta de referências históricas. “Este movimento de retorno à ancestralidade é fundamental para reencontrar a saúde e o bem-estar social. Como dizem nossos mestres, o futuro é ancestral. Enquanto a inteligência artificial acelera o mundo, precisamos perguntar se isso tem nos tornado mais plenos e felizes.”
Samambaia como território de criação e resistência
A escolha do Complexo Cultural de Samambaia para a estreia tem um significado especial para Luciana, moradora e ativista cultural local. “É um reconhecimento de um equipamento público fruto de décadas de luta dos agentes culturais da região. Também realizamos oficinas para compartilhar o processo criativo e fomentar o acesso à pesquisa teatral na periferia.”
Durante agosto, o espetáculo ainda será apresentado em duas escolas públicas de Samambaia, ampliando seu alcance comunitário.
Estreia de ‘O Sumiço da Alembrança’
Quando: 02 e 03 de agosto (sab e dom) – 19h
Onde: Complexo Cultural de Samambaia
Entrada: franca
Classificação indicativa: livre
Acessibilidade: interpretação em Libras e audiodescrição