No colégio Westerberg, ser só mais um na multidão pode ser um risco. As regras não estão nos murais, mas todo mundo conhece. “vista-se como elas”, “fale como elas”, “pense como elas”. E, com sorte, você passa ileso pelos anos escolares.
Veronica Sawyer, protagonista de Atração Mortal – O Musical, não teve tanta sorte assim. Ou teve — mas o preço foi alto. Em meio a risadas forçadas, armários enfeitados e a constante pressão para se encaixar, ela acaba envolvida com as Heathers, o trio mais temido da escola, e com JD, um novo aluno misterioso que carrega nas ideias um certo espírito rebelde dos anos 80. A partir daí, o que era apenas mais um ano letivo vira um turbilhão de bilhetes forjados, paixões perigosas e reviravoltas explosivas.
O musical, inspirado no filme Heathers (1989), ganha uma nova montagem brasiliense pelas mãos da Farsa Produções, fundada pelos diretores teatrais Oliver oliveira e Joseph santos. As sessões acontecem neste sábado (12) e domingo (13 de julho), às 16h30 e 19h30, no Teatro da Escola Parque 308 Sul. Em cena, o espetáculo combina crítica social, humor ácido e uma trilha pop-rock eletrizante, conduzido por uma turma de 20 jovens artistas que buscam compreender o mundo — e, quem sabe, transformá-lo um pouco também.

“Foi desafiador segurar o riso e o desconforto ao mesmo tempo”, diz Rebeca Abdo, atriz e diretora da montagem, aos 41 anos. Nascida em Brasília, Rebeca tem trajetória que passa pela Cal – Escola de Teatro do Rio de Janeiro, pelo Canadá e por diversas companhias da capital. Está de volta à cidade natal, onde dirige, forma e provoca.
“Nos preocupamos desde o início em deixar claro: isso aqui é uma crítica, não uma apologia”, explica. Para isso, o espetáculo começa com doses generosas de humor pastelão, permitindo que o público ria antes de perceber que talvez esteja rindo de si mesmo. “Sem esse respiro inicial, a gente corria o risco de afundar o público nos temas delicados — bullying, depressão, saúde mental — sem a chance de refletir”, declara a diretora.
Mas não pense que se trata de uma adaptação moderninha do original. Ao contrário: a Farsa mergulhou ainda mais fundo nos anos 80. “A gente surfou na onda da nostalgia. Acrescentamos mais referências da época: Xuxa, Fantástico, bordões que só quem viveu entende. E mesmo quem não viveu sente”, destaca Rebeca. A ambientação pop-trash dialoga com o que há de mais atual: a solidão, o algoritmo, a busca insana por pertencimento. O colégio de 1989 é o feed do Instagram de hoje.

Ensinar a cantar o caos
Além da encenação, o espetáculo é uma aula prática de teatro musical. Na sala de ensaio, as vozes afinadas disputam espaço com o som de sapatos batendo no linóleo. Responsável pela assistência vocal, o psicólogo e artista Rody Veríssimo, 34, fala sobre seu duplo papel: no palco, é o pai de um dos atletas valentões; nos bastidores, guia vozes e emoções.
“Cada um tem sua história, seu tempo de palco, seu alcance vocal. Trabalhei de forma individualizada, entendendo como cada ator podia se entregar à música a partir do que o personagem sente”, conta. É ele quem traduz para os atores algo que vai além da técnica: a dor cantada, o trauma coreografado, a risada como escudo.
O elenco, formado por jovens entre 17 e 25 anos, encara o desafio com brilho nos olhos. Thaísa Cuaio, 24, vive a protagonista Veronica com uma entrega comovente. “Ela é uma guerreira. Está tentando sobreviver num lugar onde ninguém escuta. Me identifiquei com isso”, desabafa a atriz. Thaísa criou uma playlist só de músicas que a ajudam a entrar no clima da personagem. “A gente precisa entender quem a Veronica era antes da história começar. O que ela viveu que não está em cena. A construção é de dentro para fora”, conta a jovem artista.

Uma produtora, muitas batalhas
Nos bastidores, Gabriela Fuck, formada em artes cênicas e produtora do espetáculo, conduz o barco. Para ela, fazer teatro musical em Brasília ainda é um ato de resistência. “A cena está crescendo, mas ainda é um desafio. Lidar com alunos sem experiência, montar coreografias, afinar vozes, cuidar de figurino e cenário… tudo isso é muito além de só subir ao palco”, esclarece.
O projeto nasceu como uma montagem acadêmica e se transformou em algo maior. Durante seis meses, os ensaios viraram uma espécie de laboratório de arte e convivência. “O mais bonito vai ser vê-los no palco, se divertindo, mostrando tudo o que aprenderam. O teatro transforma”, afirma Gabriela. E transforma mesmo. Os jovens atores, em cena, carregam mais do que personagens: expõem vulnerabilidades que talvez nunca tivessem coragem de dizer em voz alta. É um tipo de catarse coletiva, com luz de ribalta e trilha sonora.
O que fica depois de Atração Mortal – O Musical não é só o aplauso. A diretora Rebeca Abido espera que o público saia diferente. “A gente quer que riam, sim. Mas que reflitam. O bullying, a depressão, o sentimento de inadequação, tudo isso ainda está presente. Mudou o cenário, mas não as feridas”, compartilha. Para ela, a peça toca em algo essencial: o silêncio. “Os adolescentes de hoje são mais sensíveis, vivem hiperconectados, mas continuam não sendo ouvidos. A pandemia agravou isso. E nós, adultos, também carregamos os traumas de ontem.”
🎭 Serviço – Atração Mortal – O Musical
📅 Quando: Sábado (12) e domingo (13 de julho)
⏰ Horários: Sessões às 16h30 e 19h30
📍 Onde: Teatro da Escola Parque da 308 Sul, Brasília (DF)
🎟️ Ingressos:
R$ 30 (meia-entrada para estudantes, professores, pessoas acima de 60 anos e doadores de 1kg de alimento não perecível)
Venda na bilheteria do teatro a partir das 15h
Ou pelo WhatsApp: (61) 98451-3492 (diretamente com a produção ou elenco)
💡 Classificação indicativa: 14 anos