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Teatro e Dança

Mateus Solano estreia seu primeiro monólogo no teatro com “O Figurante”

Espetáculo explora invisibilidade social e os desafios de ser protagonista da própria vida. Em cartaz no Teatro Royal Tulip, de sexta (13/12) a domingo (15/12)

Daniel Xavier

13/12/2024 16h58

Mateus Solano no monólogo "O Figurante". Crédito: Dalton Valerio

Mateus Solano no monólogo “O Figurante”. Crédito: Dalton Valerio

Em “O Figurante”, Mateus Solano se despede das convenções e se lança em um monólogo que desafia não apenas sua própria carreira, mas também as expectativas do público. No palco, o ator se vê imerso na solidão de um personagem que se percebe como um mero figurante em sua própria vida, uma situação que pode ressoar com muitos que, em algum momento, já se sentiram à margem das próprias histórias. O espetáculo estará em cartaz a partir desta sexta (13/12) até domingo (15/12), no Teatro Royal Tulip, em Brasília. Ingressos estão disponíveis no Sympla.

A obra, uma comédia dramática que explora as questões de invisibilidade social e profissional, promete ser um marco para o ator, que já possui uma vasta carreira tanto no teatro quanto na televisão. A trama gira em torno de Augusto, um figurante experiente no universo do audiovisual, cuja vida monótona começa a ser posta em cheque. Perdido entre o anonimato e a busca por significado, Augusto reflete sobre o papel de cada indivíduo dentro de uma sociedade. “Somos animais que criam histórias para sobreviver e um mundo para acreditar, mas, na ânsia de pertencer, às vezes nos afastamos de quem realmente somos”, reflete Mateus Solano, apontando para a universalidade de ser protagonista ou figurante na própria vida.

A peça é mais do que um exercício dramático. Ela leva o público a refletir sobre o que significa ser um ator da própria vida. Para Solano, interpretar Augusto é, ao mesmo tempo, um desafio e uma grande oportunidade. “A questão da invisibilidade abordada na peça não toca apenas a mim, mas a todos nós. Quem nunca se sentiu automatizado, vivendo uma vida que parece ter sido escrita para outro ator?”, questiona. Em suas palavras, há um convite para que todos revelem suas próprias falhas e sentimentos de inadequação, um tema central da narrativa.

Sua jornada como ator se intensifica no momento em que ele se vê sozinho no palco pela primeira vez. Não mais cercado por outros personagens ou atores, ele é forçado a encarar suas próprias limitações e aprimorar seu ofício. “Estar sozinho em cena pela primeira vez foi uma montanha-russa de emoções”, revela Solano. Essa solidão, tanto dentro quanto fora do palco, trouxe-lhe novas perspectivas sobre o teatro e a própria arte de atuar. “No palco, não tenho para onde fugir ou com quem dividir o momento. Isso me obriga a estar muito atento, enfrentando meus vícios e trabalhando nas questões que preciso melhorar como ator”, confessa. Esse processo, embora desafiador, tem sido extremamente enriquecedor para sua carreira, tornando-o mais autêntico e maduro profissionalmente.

Mateus Solano no monólogo "O Figurante". Crédito: Dalton Valerio
Mateus Solano no monólogo “O Figurante”. Crédito: Dalton Valerio

Parceria de sucesso

Com texto de Isabel Teixeira,  sua parceria na novela “Elas Por Elas” (TV Globo), e direção de Miguel Thiré, o espetáculo surge de um processo inovador de construção dramatúrgica, chamado “Escrita em Cena”. A proposta do trabalho é estimular o ator, durante exercícios de improvisação, a encontrar suas próprias narrativas, fazendo brotar do intérprete uma “autoria”. O ator tem a liberdade de criar (ou recriar) o texto, primeiro pelo improviso e depois pela escrita. Os exercícios de Mateus foram gravados, e suas falas foram transcritas por Isabel numa segunda camada, buscando fazer delas a voz do personagem. 

“Atores e atrizes escrevem no ar da cena, onde vírgula é respiração e texto, palavra dita, e depois encarnada no papel. Essa é a tinta de base usada para escrever ‘O Figurante’. Partimos de improvisos de Mateus Solano e, posteriormente, mergulhamos no árduo e delicioso trabalho de composição e estruturação dramatúrgica. ‘O Figurante’ torna visível o que normalmente é deixado no fundo do quadro, no fundo da cena, nas profundezas da invisibilidade”, explica Isabel Teixeira.

A direção de Miguel Thiré é a continuação de uma parceria com Solano no sucesso “Selfie”. A peça dá continuidade à pesquisa de linguagem desenvolvida há anos pelos dois: uma encenação essencial, que se vale basicamente do corpo e da voz como balizas do jogo cênico.  “Sempre acreditei em um teatro que debate direto com a sociedade, que toca o público. O que queremos dizer? Como vamos dizer? Neste quinto trabalho juntos, em vez de dividirmos o palco, passo eu para esse lugar de ‘espectador profissional’, que é a direção. Acompanho o trabalho desse brilhante ator (Mateus Solano), que dá vida a um outro ator (o personagem) que, por sua vez, não consegue brilhar. ‘O Figurante’ busca colocar o foco onde normalmente não há. O trabalho é fazer este personagem não imprimir, estar fora de foco, ser quase parte da mobília”, explica o diretor Miguel Thiré.

Mateus Solano no monólogo "O Figurante". Crédito: Dalton Valerio
Mateus Solano no monólogo “O Figurante”. Crédito: Dalton Valerio

Qual o seu papel?

O coração da peça é, sem dúvida, a reflexão sobre a invisibilidade e o papel que cada um desempenha em sua própria história. Solano espera que o público deixe o teatro com uma pergunta ecoando em suas mentes: “Como autor da sua história, enquanto você se desdobra em múltiplos papéis para atender às expectativas alheias, qual é o papel você reserva para si mesmo?”, provoca o ator. Embora a peça carregue um tom leve e bem-humorado, ela toca profundamente aqueles dispostos a refletir sobre as escolhas que fazem e os papéis que assumem na vida.

A metodologia de “Escrita na Cena”, que se baseia na improvisação, foi um das maiores descobertas para Solano. “No início, não gostava de improvisar. Mas, quando Isabel transcrevia as falas, eu mal acreditava que tinha dito aquilo”, compartilha o ator, ressaltando o quanto o processo foi enriquecedor. No palco, Solano está completamente entregue ao seu corpo e a sua voz, elementos essenciais em uma cena onde os recursos são mínimos. “É um trabalho que exige muito fisicamente, por isso estou sempre me exercitando para ter o preparo necessário”, afirma. No entanto, é por meio da mímica e da imaginação do público que ele constrói a narrativa, criando cenários e personagens a partir da simplicidade. Essa entrega total ao palco e ao espectador é o que permite a Solano dar vida ao seu personagem de forma tão visceral e autêntica.

O Figurante
Estreia de Mateus Solano em seu primeiro monólogo. De sexta (13/12) a domingo (15/12), no Teatro Royal Tulip (Royal Tulip Alvorada). Sexta, às 21h; sábado, às 18h e às 20h; domingo, às 17h30 e às 19h30. Ingressos à venda na Belini (113 Sul) e no Sympla. Classificação indicativa: 12 anos.

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