A tragédia grega Medeia, de Eurípedes, ganha novos contornos em Mata Teu Pai, ópera balada, espetáculo que estreia no dia 3 de setembro no Teatro do CCBB Brasília, em cartaz até 21 de setembro. Com sessões de quarta a sábado, às 20h, e domingos, às 18h30, a montagem ainda terá sessão extra com audiodescrição no dia 20 e tradução em Libras em 12 de setembro.
Com texto de Grace Passô e direção de Inez Viana, a obra transforma Medeia em uma narrativa contemporânea sobre mulheridades, pertencimento e resistência ao patriarcado. A atriz Marina Mathey interpreta a protagonista, dividindo o palco com As Vizinhas: Eme Barbassa, Jade Maria Zimbra, Lux Nègre e Warley Noua. “É preciso olhar o passado e analisá-lo criticamente se quisermos avançar nas pautas vigentes”, afirma Inez Viana.
O espetáculo destaca-se pelo elenco formado por pessoas trans, incorporando experiências reais de vulnerabilidade, desterritorialização e resistência social. “Ser uma pessoa trans é habitar um mundo estrangeiro em que não temos leis que nos protejam. Mas nossa existência é inegável, e essa luta constante de existir e se fazer agente na sociedade se aproxima da condição das mulheres expatriadas representadas na peça”, comenta Marina Mathey. Essa construção cênica reforça a força política da obra, tornando o debate sobre o patriarcado coletivo e não apenas uma experiência individual.

Em uma das maiores inovações da montagem, o patriarcado é o verdadeiro alvo da tragédia. Medeia compreende que Glauce, filha de Creonte, também é oprimida e não merece a morte, direcionando sua revolta para as estruturas sociais que sustentam a violência e a discriminação. “Redirecionar o foco do inimigo para a estrutura da sociedade permite que o público se engaje e se responsabilize por suas escolhas e ações no mundo, tornando a catarse mais ampla e contemporânea”, reforça Mathey.
A ópera balada combina melodias populares com diálogos falados, com trilha sonora original de Vidal Assis, executada ao vivo pelo músico Felipe Gali e pelas atrizes em cena. “As músicas evidenciam ainda mais o libelo sobre a luta das mulheridades, revelando outras formas de exílio e acolhimento”, explica Inez Viana. O gênero permite que o texto de Passô dialogue diretamente com o público, criando uma experiência imersiva e política.
Em Mata Teu Pai, Medeia peregrina entre os escombros de uma cidade, atravessando sua narrativa com outras mulheres expatriadas — síria, cubana, judia, haitiana — e até uma personagem paulista, que representa o conservadorismo e o capitalismo. A ausência física das filhas de Medeia faz do público o agente dessa ausência, intensificando a catarse e a reflexão.
A obra é um desdobramento do espetáculo de mesmo nome de 2017, lançado pela Cia OmondÉ, estrelado por Debora Lamm. Nesta versão, a música assume papel central, transformando a trama em ópera balada, gênero do século XVIII que combina melodias populares com diálogos falados.
Com apresentações já realizadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Mata Teu Pai chega a Brasília para reafirmar seu compromisso com a diversidade, a justiça social e a arte engajada, convidando o público a rever antigas narrativas e refletir sobre os desafios contemporâneos das mulheres e das minorias.
Mata Teu Pai, ópera balada no CCBB Brasília
Quando: 03/09 a 21/09/25
Quarta a sábado às 20h | Domingo às 18h30
Sessão extra no dia 20/09 (sábado), às 17h
Ingressos: ccbb.com.br/brasilia
Endereço: Asa Sul, Trecho 2
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 70 minutos