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Teatro e Dança

José de Abreu em “A Baleia”: teatro e emoção em estado bruto

Após mais de uma década longe dos palcos, ator vive personagem desafiador em montagem brasileira da peça de Samuel D. Hunter, que aborda temas como afeto, intolerância, isolamento e redenção

Alexya Lemos

19/09/2025 5h00

a baleia crédito ale catan (1)

Foto: Ale Catan/ Divulgação

O Teatro Unip, na Asa Sul, recebe entre essa sexta-feita (19) até domingo (21), a curta temporada de “A Baleia”, espetáculo protagonizado por José de Abreu, que marca o retorno do ator aos palcos após um hiato de mais de dez anos.

Na montagem brasileira da peça do dramaturgo norte-americano Samuel D. Hunter, Abreu vive Charlie, um professor de inglês recluso, com obesidade severa, que tenta se reconectar com a filha adolescente enquanto enfrenta as dores físicas e emocionais de perdas profundas e do isolamento. A peça trata com sensibilidade temas como afeto, intolerância religiosa e sexual, culpa e reconexão.

“Sem dúvida nenhuma, é o personagem mais difícil que eu já encontrei”, afirma o ator, que celebra 57 anos de carreira no teatro.

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Foto: Ale Catan/ Divulgação

Um retorno intenso

A versão teatral brasileira tem direção e tradução de Luís Artur Nunes, parceiro de longa data de José de Abreu. “Foi um verdadeiro presente receber esse texto”, afirma o diretor. “Eu já havia gostado muito do filme, mas me apaixonei pelo texto teatral. A dramaturgia é de excelência, construída no modo realista, mas com uma estrutura de grande modernidade. ‘A Baleia’ não segue uma linha narrativa tradicional — é uma espécie de mosaico, cujos fragmentos se articulam num todo surpreendentemente coerente”.

A versão para o teatro surge após a repercussão mundial do filme homônimo dirigido por Darren Aronofsky, com Brendan Fraser no papel principal, vencedor do Oscar de Melhor Ator em 2023. Ainda assim, José de Abreu destaca que a peça vai além. “A peça é muito mais profunda, humanamente falando. Ela toca em assuntos mais profundos do que o filme”, diz.

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Foto: Ale Catan/ Divulgação

No elenco, estão também Luisa Thiré, Gabriela Freire, Eduardo Speroni e a participação especial de Alice Borges. O espetáculo conta com cenografia de Bia Junqueira, figurinos de Carlos Alberto Nunes, iluminação de Maneco Quinderé, trilha sonora de Federico Puppi e coordenação artística de Felipe Heráclito Lima.

Uma entrega corporal e emocional

Para dar vida ao personagem de cerca de 300 quilos, o ator passou por uma transformação física exigente. A caracterização envolve prótese facial, enchimentos e figurino climatizado, criados em um processo colaborativo e experimental com a visagista Mona Magalhães e o figurinista Carlos Alberto Nunes, ambos da Unirio.

“Teve momentos que eu pensei em desistir, que eu não ia dar conta”, revela Abreu. “Tinha dia que eu ensaiava cinco horas com a roupa, passava mal. Eu ainda não sabia respirar de maneira rápida. Tive que reaprender a respirar diafragmaticamente.”

O ator contou com acompanhamento de fonoaudióloga, preparador vocal e preparador corporal, além do suporte de uma médica especializada para compreender as limitações físicas do personagem. “É muito difícil. É uma pessoa que está à beira da morte e você tem que encarar que ele pode morrer a qualquer momento.”

Mesmo com o desafio físico e emocional, o ator celebra o retorno ao teatro com entusiasmo. “Eu nunca fui tão aplaudido na minha vida. Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia… foi um escândalo. Ficaram 10 minutos aplaudindo. Chorei muito de emoção. As pessoas gritavam ‘bravo’.”

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Foto: Ale Catan/ Divulgação

Uma peça sobre humanidade e empatia

Para o diretor Luís Artur, o texto de Hunter é carregado de emoção e humanidade. “A peça nos fala de intolerância religiosa, homofobia, culpa, reconexão e empatia, sempre a partir de personagens humanos, complexos e cheios de contradições.” José de Abreu compartilha da visão: “Charlie também é um ser humano muito bom, ele só enxerga a bondade nas pessoas. Para mim, a frase que define ele é: ‘Você já percebeu como as pessoas não conseguem não se preocupar com as outras? As pessoas são incríveis.’”

O ator também destaca a potência transformadora do teatro neste momento do país: “Depois do refluxo que houve com o Bolsonaro nas artes brasileiras, a volta da democracia pura, a volta do Lula, a volta do Ministério da Cultura… O teatro está muito forte hoje em dia. É muito em função desse momento de liberdade que a gente voltou a viver.”

Com apresentações marcadas por comoção e reflexão, “A Baleia” se afirma como um espetáculo que ultrapassa as barreiras do palco, tocando o público com uma história de dor, reconexão e esperança. “É uma peça em que as pessoas choram muito, mas você sai bem. Porque ela é para cima, é muito humanizadora”, conclui Abreu.

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Foto: Ale Catan/ Divulgação

Espetáculo “A Baleia”
Onde: Teatro Unip – SGAS I SGAS 913 – Asa Sul
Quando: 19, 20 e 21 de setembro
Horário: sexta e sábado às 20h e domingo às 19h
Ingressos: A partir de R$ 25 no site
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 14 anos

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