Isabel Fillardis não apenas canta. Ela convoca memórias, ergue vozes silenciadas e devolve ao palco a grandeza das mulheres negras que moldaram a música brasileira. O espetáculo Pretas do Brasil é mais que um show: é um rito de afeto e resistência, onde a arte encontra a ancestralidade e transforma cada acorde em manifesto.
Na apresentação, Isabel se coloca como ponte entre gerações. Ao lado de nomes que ecoam no imaginário coletivo — Dona Ivone Lara, Elza Soares, Zezé Motta, Mart’nália, Leci Brandão, Alcione, Sandra de Sá, Ludmilla, Luedji Luna, Iza e Liniker — ela constrói uma narrativa que valoriza a coragem de quem abriu caminhos e a força de quem ainda segue redefinindo a cultura nacional.

O repertório atravessa gêneros e fronteiras. Samba, R&B, MPB e ritmos latinos se entrelaçam em releituras inesperadas: Zé do Caroço ressurge em versão vibrante, Banho de Folhas ganha novos contornos, Sorriso Negro se veste de reggae, e Você Me Vira a Cabeça se reinventa no balanço entre bolero e salsa. O resultado é uma tapeçaria sonora que emociona pelo inusitado, sem perder a raiz.
Mas Pretas do Brasil vai além da música. É uma vivência que conecta público e palco numa experiência que oscila entre delicadeza e intensidade. A presença de Isabel, marcada por décadas de atuação em diferentes áreas da arte e do ativismo, dá à cena um peso simbólico ainda maior: sua trajetória é parte daquilo que canta.
A turnê, que estreia em setembro, percorrerá Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, com continuidade prevista para 2026. Além dos shows gratuitos, o público terá acesso a encontros especiais com a artista. Em cada cidade, Isabel lançará sua autobiografia, em sessões de autógrafos que ampliam o elo de afeto criado em cena.

Para uma artista que começou no grupo As Sublimes nos anos 1990 e rompeu barreiras como a primeira mulher negra em uma grande campanha de beleza no país, Pretas do Brasil é a síntese de uma caminhada. O espetáculo não é apenas sobre música, mas sobre pertencimento, memória e futuro. Um convite aberto — e gratuito — para celebrar a potência das vozes negras na cultura brasileira.