Neste domingo (21), o espetáculo de dança contemporânea Corpo Avesso realiza uma apresentação especial no SESC Gama, em duas sessões gratuitas: às 16h30 com interpretação em Libras e audiodescrição e às 19h.
Com direção artística de Ju Maluf e interpretado por Lukas Martt, Gustavo Letruta e Ju Maluf, a obra nasceu do desejo de dar palco ao gesto torto, ao movimento estranho e ao que normalmente é descartado por não se encaixar nos padrões estéticos. Inspirado na paisagem interna de uma mente com transtorno bipolar, Corpo Avesso não busca traduzir um diagnóstico, mas tornar visíveis emoções, conflitos e narrativas ocultas.
A dança que vem do avesso
Segundo Ju Maluf, o maior desafio foi transformar em movimento uma experiência psíquica fragmentada e instável:
“Não me interessava criar uma caricatura, mas revelar camadas internas, conflitos e potências que habitam em cada um de nós. Os gestos não seguem uma lógica estética tradicional. São movimentos pequenos, estranhos, muitas vezes rejeitados do palco, mas que revelam uma verdade visceral. Gosto de dizer que Corpo Avesso não é uma obra palatável. Seu gosto é amargo, e talvez alguém o rejeite — mas seria incoerente se fosse diferente, porque aquilo que é íntimo e humano raramente tem gosto doce.”
Na cena, os intérpretes se fundem em um corpo coletivo, representando uma única mente fragmentada. Para Letruta, essa construção exigiu entrega física e simbólica: “O Corpo Avesso passou por várias etapas de pesquisa e investigação. O maior desafio foi encontrar uma forma de dar corpo e sentido a esse processo. Na criação da criatura, por exemplo, houve uma exigência física intensa, que demandou preparo, resistência e entrega total ao trabalho.”
Um espetáculo acessível e sensorial
As apresentações no SESC Gama contam com recursos de acessibilidade — Libras e audiodescrição. Para o grupo, tornar um espetáculo tão sensorial acessível é parte fundamental do projeto.
“As atmosferas criadas pertencem a todos os seres humanos, independentemente de sua condição. O desafio não é apenas oferecer acessibilidade, mas conseguir levar esse público para viver a experiência”, comenta Ju Maluf.
Letruta complementa: “Optamos por não utilizar a fala verbal desde o início, como estratégia para ampliar o acesso. Encontramos uma linguagem que se comunica pelo corpo, capaz de atravessar barreiras linguísticas e dialogar com diferentes públicos.”
Arte, saúde mental e democratização do acesso
Corpo Avesso atravessa estados psíquicos — normalidade, mania, hipomania, estado misto e depressão — explorando como cada um deles altera respiração, pensamento e percepção. Em cena, as cabeças que se sobrepõem e os corpos que se embaralham traduzem a confusão mental e a fragmentação de vozes internas. O uso de elementos cênicos, como o straps, amplia as metáforas: ora corpo suspenso da realidade, ora emaranhado de pensamentos, ora submetido ao controle de medicamentos.
Além das apresentações, o projeto prevê ações formativas em escolas, centros de atendimento e espaços culturais do DF, promovendo aproximação entre dança, saúde mental e diversidade corporal.
Corpo Avesso
Local: SESC Gama
Data: Domingo, 21/09
Horários: 16h30 – sessão com Libras e audiodescrição
19h – sessão com Libras
Classificação indicativa: 14 anos
Entrada: gratuita
