Em cartaz até o dia 21 de setembro, o espetáculo “Mata Teu Pai – ópera balada” ocupa o palco do Teatro do CCBB Brasília com uma potente atualização da tragédia clássica Medeia, de Eurípedes. Com texto da premiada dramaturga Grace Passô e direção de Inez Viana, a montagem propõe um olhar contemporâneo e político sobre o mito grego, traduzindo-o em uma linguagem que cruza teatro, performance e música ao vivo.
A protagonista, vivida pela atriz Marina Mathey, é uma Medeia exilada, migrante e múltipla, que encontra em outras mulheres marginalizadas o caminho para ressignificar sua dor e sua luta. Ao lado de As Vizinhas – interpretadas por Eme Barbassa, Jade Maria Zimbra, Lux Nègre e Warley Noua –, ela reconta sua trajetória com potência coletiva. O elenco é formado majoritariamente por pessoas trans e mulheres racializadas, ampliando as camadas de representação e propondo uma crítica direta às estruturas de exclusão social.
Uma tragédia reinventada pela música e pela diversidade
Nesta nova versão, a peça assume o formato de ópera balada, gênero do século XVIII que mescla canções populares com falas teatrais. A trilha sonora original, assinada por Vidal Assis, é executada ao vivo por Felipe Gali e pelas atrizes, tornando a música parte indissociável da narrativa.
Mais do que uma releitura estética, “Mata Teu Pai” propõe uma reconfiguração simbólica da tragédia: o alvo da fúria de Medeia não é mais a rival Glauce, mas sim a estrutura patriarcal que oprime todas as mulheres. Na montagem, não há representação cênica das filhas de Medeia — o público assume esse papel, em um gesto que intensifica a catarse e convida à reflexão coletiva.
“Medeia foi muito julgada por matar as filhas na história de Eurípedes. Esse deslocamento que a Grace Passô faz no texto muda completamente a perspectiva e inclui todas as pessoas no debate, especialmente as mulheres”, destaca Marina Mathey.
Representatividade e crítica social em cena
A obra insere Medeia em um cenário contemporâneo, em ruínas, onde se cruza com outras mulheres migrantes – uma síria, uma cubana, uma judia, uma haitiana – e uma personagem paulista que representa o conservadorismo. Em comum, compartilham feridas abertas por fronteiras, exclusões e sistemas de dominação.
A dramaturgia, escrita durante um período de efervescência das lutas por direitos civis, aprofunda o debate sobre gênero, pertencimento, colonialismo e resistência, sem perder o elo poético com o texto clássico.
Espetáculo Mata Teu Pai, ópera badalada
Quando: até 21/09/25
Onde: Asa Sul, Trecho 2
Quarta a sábado às 20h | Domingo às 18h30
Sessão extra no dia 20/09 (sábado), às 17h
Ingressos: R$ 30 (inteira) | R$ 15 (meia)
Vendas: no site e na bilheteria do CCBB Brasília
