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Teatro e Dança

“Borboletas de Concreto” estreia como manifesto poético e político

As “Vozes de Marielle” serão ouvidas no Teatro dos Bancários entre os dias 25 e 27. Ingressos a partir de 15 reais

Alexya Lemos

25/07/2025 5h00

Atualizada 24/07/2025 19h05

foto 1 rodrigo hanna

foto 1 rodrigo hanna

No dia em que Marielle Franco completaria 46 anos, estreia em Brasília um espetáculo que se recusa a deixar sua memória ser silenciada. Neste fim de semana, o Teatro dos Bancários, na Asa Sul, recebe “Borboletas de Concreto – Vozes de Marielle”, peça que mistura teatro, rap e performance para reconstruir poeticamente a vida, a luta e o legado da vereadora carioca assassinada em 2018. A dramaturgia é assinada por Bruno Estrela, com direção de Silvia Viana, e ingressos a partir de R$ 15,00.

Mais do que uma homenagem, a montagem se apresenta como um ato de resistência artística. Para Bruno, a urgência da obra nasce do incômodo com a simplificação da figura de Marielle em discursos superficiais e slogans de internet:

“Artisticamente, me incomodava a ideia de que sua história fosse reduzida a hashtags ou discursos engessados. Queria devolver a ela a complexidade, a humanidade. E, pessoalmente, escrevi pensando nas futuras Marielles, naquelas que ainda vão nascer e precisarão de referência para não desistir e sucumbir às regras de um jogo perverso.”

Teatro como ritual, rap como pulsação

A construção da linguagem cênica também carrega essa busca por verdade e profundidade. Em cena, a poesia marginal é ferramenta de denúncia, e o rap, um elemento essencial da narrativa.

“Foi um desafio deliciosamente incômodo integrar teatro, rap e performance. O rap não entra como ilustração, mas como pulsação. Marielle vinha da cultura que inventou o rap como arma política antes dele virar mainstream”, afirma o autor.

“O teatro, quando honesto, é ritual. Juntar os dois exigiu que eu e a diretora Silvia Viana abríssemos mão do controle absoluto para deixar que a história respingasse fora da moldura.”

Dessa abertura nasceu o protagonismo dos artistas locais Maralto e Cristyle Cei, que foram descobertos nas audições abertas. Suas rimas autorais representam o que a equipe chama de “vozes de Marielle” — múltiplas, insurgentes, carregadas de memória e sonho.

Elenco majoritariamente negro e processo coletivo

Mais de 100 mulheres negras, de diferentes partes do Brasil e até do exterior, se inscreveram no processo de seleção do elenco. Das audições, foram escolhidas duas atrizes para interpretar Marielle: Mila Ellen e a veterana Silvia Paes, que retorna aos palcos após anos.

“É a primeira vez que dou vida a uma mulher que de fato existiu”, conta Silvia Paes.
“Trabalho diante de duas frentes: o estudo sistemático da vida da personagem e a técnica de Stanislavski, que faz com que eu me coloque no lugar dela. Penso sempre: como a Marielle reagiria?”

A diretora Silvia Viana, por sua vez, destaca o dilema emocional de encenar uma história marcada pela violência:

“Existe uma tristeza de ter que contar uma história assim, que foi real. Existe um misto de alegria pelo trabalho e tristeza porque eu não queria contar essa história.”

Asas e estátuas

O nome da peça — “Borboletas de Concreto” — também carrega uma metáfora poderosa sobre leveza e resistência.

“A gente nasce com asas. Todo mundo chega ao mundo feito para rasgar o céu. Mas aí a sociedade vai moldando a gente em estátuas, paradas, duras, obedientes. Marielle era borboleta, mas o sistema queria transformá-la em monumento. E, infelizmente, conseguiram”, reflete Bruno Estrela.

“Então o título é sobre resistência, mas também sobre contradição: como alguém pode ser tão leve e tão inquebrável ao mesmo tempo?”

Com cenografia de Cleiton do Carmo, figurinos assinados por Fernando Cardoso Olivier e Sílvia Mello, e sonoplastia de Fernando Meira, o espetáculo aposta na imersão sensorial para provocar o público e manter viva a chama da inquietação.

“O papel do teatro é desagradável e incômodo. Mas o mistério é que ele sobrevive a tudo, mesmo quando faz perguntas incômodas em plena era das respostas prontas”, provoca o dramaturgo.

“Marielle não foi assassinada num tratado acadêmico; foi morta numa rua escura. E a resposta precisa doer na língua.”

Borboletas de Concreto – Vozes de Marielle
Onde: Teatro dos Bancários – EQS 314/315 Bloco A, Asa Sul, Brasília (DF)
Quando: 25 e 26 de julho, às 20h
27 de julho, às 18h
Ingressos a partir de R$ 15,00 no site.
Classificação indicativa: 16 anos

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