De sexta (29) a domingo (31), o Sesc 504 Sul recebe a peça O Menino e o Tempo, que em três dias de apresentações convida o público a mergulhar em uma proposta inovadora: a acessibilidade deixa de ser um recurso paralelo e passa a ocupar papel central na dramaturgia. A montagem incorpora uma intérprete de Libras que atua em cena, interagindo com os atores e contribuindo para a narrativa.
O recurso rompe com o modelo tradicional em que a tradução acontece à margem do palco, e transforma a experiência em um espetáculo inclusivo, onde o público surdo é considerado parte essencial do ato de assistir teatro.
Poesia, tempo e sensibilidade
A trama acompanha a jornada de um menino que revisita a infância em busca de respostas às perguntas que o acompanham desde então. Música, poesia e delicadeza se entrelaçam em uma narrativa que dialoga com todas as idades.
A inspiração, segundo a diretora Luciellen Castro, veio de sua própria vivência: “Essa dramaturgia nasceu das minhas vivências como mãe, artista e educadora, especialmente dos questionamentos do meu filho. O tempo é um fio que atravessa todas as idades: é memória, é presente, é sonho.”
Acessibilidade como linguagem artística
Segundo Castro, o processo foi coletivo e de caráter experimental. “Trabalhamos com a técnica da traduatriz, criada por Thalita Araújo, que transforma a intérprete em personagem, circulando e interagindo com os atores em cena. Isso exigiu um processo coletivo de experimentação, no qual fomos ajustando a narrativa para que a Libras não fosse um ‘anexo’, mas sim uma linguagem estética e dramatúrgica integrada.”
A diretora destaca que essa escolha amplia o alcance do espetáculo: “O público surdo não apenas compreende a história, mas também vivencia a mesma experiência poética que todos os outros espectadores.”

Inclusão cultural e responsabilidade
Para a diretora, o espetáculo também é um convite à reflexão sobre o papel do teatro brasileiro na democratização do acesso cultural:
“Vejo avanços importantes, mas ainda tímidos. O teatro começa a compreender que acessibilidade não é só uma obrigação legal ou um recurso ‘extra’, e sim um direito cultural. Precisamos ampliar esse compromisso para que se torne prática comum, e não exceção.”
Teatro infantil além do “teatrinho”
O grupo responsável pela montagem defende que o teatro infantil deve ser tratado com seriedade artística.
“Somos um grupo que acredita que o teatro infantil vai muito além de um ‘teatrinho com musiquinhas’. Temos um cuidado especial para que cada detalhe da montagem dialogue com a importância dessa fase do desenvolvimento. Todas as músicas são autorais, e o roteiro foi construído em camadas, permitindo que cada faixa etária se conecte de forma única com a história.”
A infância como espaço de criação
Ao falar sobre suas expectativas, Luciellen enfatiza o impacto que deseja causar nas crianças, que vai muito além de apenas entreter.
“Espero que as crianças se sintam instigadas a imaginar, refletir e, sobretudo, a se reconhecer nas histórias. Ao unir poesia, teatro e acessibilidade, queremos mostrar que todos pertencem a esse espaço de criação.”
O Menino e o Tempo
Onde: Sesc 504 Sul
Quando: 29 de agosto, às 19h, 30 e 31 de agosto, às 17h
Ingressos a partir de R$ 15,00 pelo Sympla